Doutor Jairo
Leia » Saúde mental

Conversa com urologista poderia aliviar sofrimento de muitos garotos

Conversa sobre mudanças corporais com o urologista pode trazer alívio para adolescentes - iStock
Conversa sobre mudanças corporais com o urologista pode trazer alívio para adolescentes - iStock

Redação Publicado em 14/09/2022, às 15h00

Mudanças corporais podem ser fonte de angústia profunda entre os adolescentes. Mas, enquanto as garotas podem tirar dúvidas com os ginecologistas, para os garotos é mais difícil. Além de ter um receio maior de expor fragilidades para os colegas, jovens do sexo masculino não têm o hábito de frequentar o consultório de um profissional de saúde para discutir a saúde íntima, como fazem as meninas.

Para tentar mudar essa situação, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) realiza desde 2018 a campanha #vemprouro, e aproveitou este mês de prevenção ao suicídio (o chamado Setembro Amarelo), para realizar uma live para reforçar a importância de os jovens buscarem o médico, na adolescência, para expor questões relacionadas à intimidade que tragam angústia. E de os médicos, por sua vez, ouvirem esses pacientes e solicitarem uma avaliação psicológica ou psiquiátrica quando julgarem necessário.

Puberdade e angústia

“É enorme a quantidade de meninos profundamente angustiados com as suas mudanças corporais e que acabam desenvolvendo uma questão de saúde mental séria, mesmo, que poderiam ser resolvidas com um papo olho no olho”, comentou o psiquiatra Jairo Bouer, na live.

“Eu trabalho há 30 anos com jovens, e todos os dias são enxurradas de perguntas com dúvidas sobre o corpo. A gente vê quanto eles sofrem questões emocionais importantes por causa dessa relação com a sexualidade. Seria importante vencer esse silenciamento dos homens”, disse, lembrando que as pessoas vão rápido ao médico quando machucam o dedo, mas demoram anos para procurar ajuda quando se trata da saúde mental.

A psicóloga Ana Larissa Perissini, que também participou do papo, lembrou do agravamento do problema em decorrência da pandemia de Covid-19. Ela explicou que a presença de psicólogos na escola é algo que ainda varia muito dependendo do tipo de instituição. Mas uma presença mais próxima desses profissionais e o acolhimento dos jovens é algo em falta, ainda mais nas escolas públicas.

Como observou o urologista Daniel Zylbersztejn, coordenador da campanha #vemprouro, os jovens não encaram os professores como as melhores pessoas para ensinar sobre questões ligadas à intimidade. Nem os pais, já que é natural da adolescência se afastar um pouco deles nessa fase. “O médico tem esse papel que não está sendo usado de maneira adequada”, observou. Ele também chamou atenção para questões de identidade de gênero que geram angústia para os jovens, e que precisam ser abordadas pelos profissionais de saúde.

Confira:

Sinais de alerta 

A urologista Bárbara Melão, que foi a mediadora da live, lembrou que o suicídio causa cerca de 14 mil mortes por ano, no Brasil, e que constitui o evento final de uma cadeia de situações. Como perceber os sinais de risco? Segundo Jairo Bouer e Ana Perissini, é preciso estar atento a mudanças de comportamento, de padrões de sono e de alimentação, e até no que o próprio jovem expressa nas redes sociais (muitas vezes em plataformas em que os pais não estão presentes).

Se o jovem diz que a vida não tem sentido, ou começa a expor mais questões ligadas à morte, inclusive nas redes sociais, não se pode partir para a conclusão precipitada de que “é coisa de adolescente”, ou de que a pessoa “só quer chamar atenção”. E os médicos, que muitas vezes têm uma enorme resistência em lidar com o assunto porque trabalham muito para preservar a vida, também precisam ter empatia e aprender a ouvir sem julgamentos.

Veja a live completa: