Pesquisadores lançam primeiro conjunto de diretrizes para estimular a conexão social
Redação Publicado em 28/11/2025, às 10h00
Estudos já comprovaram que o isolamento social mata. Ele aumenta o risco de morte em 30%, o que equivale a fumar cigarro e é muito pior do que fatores como obesidade e sedentarismo.
Com base nessas pesquisas, o diretor-geral de saúde pública dos EUA declarou, em 2023, que a solidão virou uma epidemia. Mortes associadas à sensação de estar só, como suicídio, dependência química e uso excessivo de álcool, só vêm aumentando.
Os médicos estão acostumados a verificar a pressão arterial e perguntar sobre hábitos alimentares ou atividade física, mas raramente avaliam a saúde social.
As diretrizes de saúde pública recomendam que americanos comam vegetais, façam 150 minutos de atividade física por semana, durmam de sete a nove horas por noite e consumam menos de uma ou duas bebidas alcoólicas por dia. Mas poucos órgãos de saúde pública abordaram a conexão social. Agora isso está mudando.
Em um artigo no site The Conversation, os pesquisadores Daniel Aldrich, da Universidade Northeastern, e Kiffer Card, da Universidade Simon Fraser, nos EUA, contam como eles e uma equipe com mais de 100 especialistas se reuniram para desenvolver as primeiras diretrizes baseadas em evidências para estimular a conexão social.
Essas diretrizes, agora disponíveis ao público, buscam ir além de simples conselhos. Partes delas já estão sendo incorporadas a políticas nos Países Baixos e no Reino Unido.
“Nossa esperança é que as diretrizes elevem a importância da conexão social ao mesmo nível das práticas básicas de saúde pública — como fazer exercícios, não fumar e usar um motorista designado ao beber com amigos”, comentam.
Pesquisas mostram há décadas que a conexão social é crucial para uma boa saúde. A constituição da Organização Mundial da Saúde, adotada em 1946, define saúde como “bem-estar físico, mental e social completo”.
Codificar diferentes dimensões da saúde em diretrizes baseadas em evidências é importante porque isso permite transformar recomendações em ação, da mesma forma que rótulos de alimentos ajudam as pessoas a entender o que estão comendo.
Métricas padronizadas de bem-estar social podem ajudar profissionais de saúde a identificar quando alguém está socialmente isolado, permitir que empregadores criem ambientes de trabalho que favoreçam a conexão e dar a escolas e cidades metas claras para construir ambientes socialmente acolhedores.
Elas também pavimentam o caminho para as “prescrições sociais”, ou seja, maneiras estruturadas de conectar pessoas a programas comunitários ou atividades em grupo, que alguns sistemas de saúde já começam a testar.
A equipe passou mais de dois anos para desenvolver as diretrizes, baseando-se em mais de 40 resumos de evidências em linguagem simples, diversos estudos de caso, conversas com comunidades marginalizadas e ampla consulta com especialistas globais.
Veja os princípios fundamentais do bem-estar social, segundo a equipe:
1. Não existem regras universais para saúde social.
Não há um “número mágico” de amigos ou horas sociais semanais ideais. As necessidades sociais variam enormemente. Introvertidos e extrovertidos precisam de conexão, mas a experimentam de formas diferentes. A vida social de alguém que acabou de se tornar pai, por exemplo, não se parece em nada com a de um aposentado.
2. Qualidade supera a quantidade.
Uma conversa significativa pode ser mais nutritiva do que uma dúzia de interações rápidas (embora essas últimas também tenham importância, como você vai ver a seguir).
3. A tecnologia não é a vilã que imaginamos.
Usar as telas passivamente pode prejudicar o bem-estar, mas o uso ativo e intencional reforça vínculos, seja por videochamadas com familiares distantes, grupos de mensagens com amigos ou aplicativos que organizam encontros locais. A chave é usar a tecnologia para facilitar conexões reais, não substituí-las.
4. Relações são moldadas tanto por sistemas quanto por indivíduos.
Saúde social não é apenas esforço pessoal. Ela emerge de ambientes que tornam possível a conexão. Pesquisas mostram que investimentos em infraestrutura social (espaços onde nos conectamos, como bibliotecas, parques e cafés) melhoram o bem-estar de forma mensurável. Comunidades com maior concentração desses espaços têm melhores resultados de saúde após desastres.
5. Redes diversas importam.
Boa saúde social inclui tanto relações próximas quanto “laços fracos”, conhecidos casuais, vizinhos, funcionários de comércios locais e outras pessoas que encontramos no dia a dia. Essas interações rápidas oferecem benefícios reais: o barista que lembra seu pedido, o colega com quem você troca algumas palavras, o dono do cachorro que cruza seu caminho. Estudos mostram que laços fracos fornecem novas informações, oportunidades inesperadas e uma sensação ampliada de pertencimento que amigos íntimos, sozinhos, não oferecem.
Em resumo: uma mistura de laços – profundos e superficiais – forma a base de uma vida social saudável.
Algumas instituições já estão experimentando princípios que embasam as diretrizes. Segundo os pesquisadores, algumas empresas agora avaliam a saúde social ao decidir políticas como trabalho remoto ou layout de escritórios, reconhecendo que normas de comunicação e design físico influenciam como funcionários se conectam.
Escolas em diferentes países estão ensinando inteligência emocional e habilidades de amizade como parte central do currículo. E algumas cidades têm investido em infraestrutura social – centros comunitários, praças e espaços públicos – que aproximam as pessoas de forma natural.
Para as pessoas, as diretrizes sugerem mudanças simples:
Estudo liga uso frequente do YouTube a aumento da solidão
Você não imagina como um papo de elevador pode mudar a sua vida
Ir a eventos esportivos faz bem para o corpo e a mente, diz estudo
De quantos amigos você precisa? E por que precisa deles?