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Como filmes e séries podem ajudar jovens a lidar com a saúde mental?

Estudo mostra que os jovens realmente debatem sobre a série com pessoas próximas - iStock
Estudo mostra que os jovens realmente debatem sobre a série com pessoas próximas - iStock

Redação Publicado em 25/05/2021, às 13h51

Um relatório da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) revelou que programas de televisão - como séries e filmes populares - podem reforçar a saúde mental dos adolescentes e ajudá-los a lidar com bullying, violência sexual, pensamentos suicidas, abuso de substâncias e depressão. Porém, isso só acontece quando essas questões são retratadas com empatia e os recursos apropriados são fornecidos. 

A necessidade é grande 

Pesquisas recentes mostram que crianças entre 11 e 17 anos são mais propensas do que qualquer outra faixa etária a relatar ansiedade e depressão desde o nível moderado até o mais grave.

Mesmo antes do início da pandemia de Covid-19 as taxas de suicídio entre adolescentes estavam aumentando, juntamente com os sintomas de ansiedade e depressão. Além disso, quase metade dos jovens adultos dizem que ainda percebem um grande estigma social ligado ao tratamento de saúde mental. 

Qual o tamanho do impacto?

A equipe envolvida realizou vários estudos analisando a controversa série da Netflix “13 Reasons Why”, um drama adolescente lançado em 2017 que foi aclamado e, ao mesmo tempo, condenado devido a suas representações de suicídio, violência sexual e doméstica, bullying e tiroteios em escolas. 

Nesse contexto, os pesquisadores queriam saber como a série impactou a saúde mental dos adolescentes que a assistiam. Em um estudo com 157 jovens estadunidenses entre 13 e 17 anos, 68 viram a 3ª temporada de “13 Reasons Why” enquanto o restante não teve contato com a produção. 

A média de idade dos participantes foi de 15 anos; 52% eram do sexo feminino e 48% do sexo masculino; 55% eram brancos, 19% hispânicos, 17% negros e pouco mais de 6% identificados como multirraciais.

Todos os participantes responderam a perguntas sobre uma série de temas relacionados à saúde mental, como bullying, depressão e violência sexual. Ao final da pesquisa, eles responderam novamente ao questionário que, dessa vez, contava também com a pergunta se eles haviam buscado alguma informação sobre as questões abordadas ali. 

O grupo que assistiu à série respondeu ainda perguntas sobre se e com quem eles discutiram sobre a produção - e se o que eles viram os levou a buscar mais informações sobre os temas levantados. 

Crescimento do debate

Praticamente todos os entrevistados – 62 de 68 – que assistiram “13 Reasons Why”  disseram ter procurado informações sobre temas de saúde mental relacionadas ao que viram. A grande maioria dos jovens também relatou ter discutido questões que aparecem na série, especialmente suicídio, saúde mental e bullying

De acordo com os pesquisadores, as descobertas mostram que quando os adolescentes assistem a programas de TV que retratam problemas de saúde mental, eles realmente falam sobre isso com seus pares, pais e parceiros. Essa tendência demonstra que esses tipos de histórias – desafiadoras e realistas – inspiram jovens a falar e aprender mais sobre saúde mental. 

Normalização da saúde mental 

A equipe também realizou um estudo que rastreou mais de 1,29 milhão de menções no Twitter de “13 Reasons Why” durante três semanas com objetivo de analisar a conversa sobre a série nas redes sociais. 

Entre os achados estão: 

  • O engajamento social foi particularmente alto quando os atores da série forneceram recursos de saúde mental, como quando Devin Druid – que interpreta um dos personagens principais – postou ferramentas e compartilhou um artigo que discutia violência sexual;
  • Os telespectadores usaram as redes sociais para compartilhar cenas carregadas emocionalmente e conteúdo de bastidores para debater sobre assuntos difíceis.

Além disso, os produtores da série criaram um site com vídeos dos atores, números para momentos de emergência e links de recursos para ajudar os jovens que acompanham a produção a navegar pelos tópicos abordados ao longo dos episódios. 

Os autores do relatório recomendam que os estúdios responsáveis por essas produções projetadas para adolescentes e que abordam a saúde mental ou questões relacionadas criem e forneçam ferramentas confiáveis, envolventes e com informações precisas a seus telespectadores. 

Segundo os pesquisadores, a partir disso, é possível caminhar para uma normalização da conversa sobre saúde mental e os resultados do estudo deixam claro que é preciso avançar no debate de como um programa de TV pode impactar a saúde mental dos adolescentes e as lições a serem tiradas dele. 

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