Treinar com coletes com peso tem se tornado comum em países como Estados Unidos e a prática tem sido importada para cá em algumas academia. Nas redes sociais, influenciadores exaltam seus benefícios, como melhora da postura, fortalecimento ósseo, ganho de massa muscular, aumento da resistência e maior queima calórica. Mas será que funciona mesmo?
Os coletes com peso funcionam como uma carga adicional distribuída pelo tronco. Diferente de mochilas ou anilhas presas ao corpo, eles permitem que a sobrecarga seja aplicada de forma mais equilibrada, sem atrapalhar tanto a mobilidade.
O conceito não é novo: práticas militares de resistência, como o rucking (marchar com mochila pesada), já exploravam há décadas o impacto do peso extra no condicionamento físico.
Especialistas explicam que o colete pode ser interessante em situações em que se deseja intensificar exercícios de baixo impacto, como caminhada, trilha, escada ou até mesmo movimentos de calistenia. Nesses casos, o corpo é desafiado a sustentar uma carga extra, aumentando o gasto calórico e exigindo mais do sistema cardiovascular.
Treinadores também indicam seu uso para quem deseja dar um novo estímulo ao corpo sem recorrer a equipamentos mais complexos. Em exercícios com peso corporal, como flexões de braço e agachamentos, o colete pode tornar a execução mais desafiadora, aproximando-a de um treino de resistência com halteres ou barras.
Embora a ciência ainda investigue os efeitos a longo prazo, alguns benefícios já são observados:
No entanto, quando se fala em ganhos de massa muscular ou saúde óssea, o consenso científico é mais cauteloso. Pesquisas mostram que o estímulo mais eficiente para aumentar força e densidade óssea ainda é o treinamento resistido com pesos tradicionais, em que o músculo é levado a se adaptar por meio de sobrecargas progressivas.
Nem toda atividade combina com o colete. Práticas como yoga, pilates, movimentos invertidos ou esportes com giros rápidos (como tênis ou pickleball) não são recomendadas, pois o peso extra pode comprometer o equilíbrio e sobrecarregar articulações.
Além disso, especialistas alertam que o uso incorreto pode aumentar o risco de lesões. Colocar um colete muito pesado logo de início é um erro comum. A recomendação geral é que o acessório não ultrapasse de 5% a 10% do peso corporal no começo, sendo usado de forma progressiva.
Pessoas com histórico de problemas de coluna, articulações, ou mulheres grávidas devem evitar o uso. Já indivíduos em fases de osteopenia ou menopausa, para quem a saúde óssea é prioridade, devem conversar com um médico ou fisioterapeuta antes de adotar a prática.
Apesar do entusiasmo popular, os estudos disponíveis ainda são pequenos e apresentam resultados mistos. Algumas pesquisas não encontraram diferenças significativas em densidade óssea entre quem caminhava com colete e quem caminhava sem ele. Outras apontaram benefícios modestos quando o acessório foi usado em conjunto com treinos de resistência.
Em um estudo, por exemplo, os resultados mostraram que os participantes que usaram colete tiveram uma maior perda de gordura corporal total e conseguiram ganhos de força nos extensores de joelho.
Uma conclusão importante é que o colete pode ser um complemento, mas não substitui treinos de musculação, exercícios funcionais ou esportes que já envolvem impacto natural sobre ossos e músculos.
O mercado parece acreditar no potencial do acessório: estimativas indicam que os coletes com peso devem movimentar mais de 300 milhões de dólares até o fim da década. Mas, para além do apelo comercial, a avaliação dos especialistas é que o colete pode sim ser útil — desde que usado de forma estratégica.
Para quem busca variar o treino, intensificar caminhadas ou tornar exercícios calistênicos mais desafiadores, ele pode ser uma ferramenta prática. Já para quem espera milagres em ganho de massa muscular ou prevenção da osteoporose, é melhor não criar expectativas irreais.
Em resumo: se usado com orientação profissional, cautela e dentro dos limites individuais, o colete com peso pode ser mais do que uma moda — pode ser um recurso válido de quem busca variar e desafiar o corpo de forma segura.
Fausto Fagioli Fonseca
Formado em jornalismo e pós-graduado em jornalismo esportivo, atua na área de esportes e saúde desde 2008. @faustoffonseca