Alguns traços específicos podem ter mais peso do que outros, segundo estudo
Redação Publicado em 02/07/2025, às 10h00
Pessoas vistas como gentis e prestativas também são percebidas como mais atraentes fisicamente. Foi o que sugeriu um estudo publicado no fim de 2024 no British Journal of Social Psychology. Esse efeito, observado em diversos cenários e tipos de relacionamento, destaca como ações gentis podem moldar a percepção da beleza física.
A aparência física costuma ser o primeiro aspecto percebido ao conhecer alguém, e estudos há muito tempo demonstram que traços de personalidade podem influenciar julgamentos de atratividade. Embora características positivas, como simpatia ou humor, possam fazer as pessoas parecerem mais atraentes, traços específicos podem ter mais peso do que outros.
Natalia Kononov e Danit Ein-Gar se concentraram durante a pesquisa no comportamento pró-social — atos de gentileza, cooperação e prestatividade — e buscaram entender se essa qualidade tem um efeito único na percepção da beleza física. A hipótese era que as pessoas poderiam se sentir motivadas a se associar a indivíduos pró-sociais, considerando-os mais atraentes devido a um desejo inconsciente de formar conexões com pessoas que demonstram bondade.
“Frequentemente, usamos a beleza metaforicamente para descrever qualidades interiores admiráveis, dizendo que alguém é ‘bonito por dentro’. Eu estava curiosa para ver se essa percepção tem base na realidade — se a gentileza e a generosidade, qualidades associadas à beleza interior, realmente influenciam a forma como percebemos a atratividade física de alguém. Nossas descobertas sugerem que essa associação não é apenas metafórica; atos belos, de fato, nos levam a ver as pessoas como mais bonitas”, disse ao PsyPost a autora do estudo, Natalia Kononov, bolsista de pós-doutorado Fulbright na Wharton School da Universidade da Pensilvânia.
A pesquisa envolveu dez estudos com mais de 4.000 participantes. A equipe projetou uma variedade de cenários para avaliar se o comportamento pró-social influenciava a aparência física das pessoas para os outros. Os participantes de diferentes estudos observaram atos pró-sociais na vida real, leram descrições de ações gentis ou imaginaram cenários envolvendo comportamento prestativo.
Para garantir que as descobertas fossem abrangentes, os pesquisadores levaram em conta vários fatores: compararam as percepções de atratividade quando os participantes viam pessoas agindo gentilmente versus em um contexto neutro. Eles exploraram como o comportamento pró-social consistente pode afetar a atratividade de forma diferente de atos isolados; e examinaram se a influência da gentileza na beleza percebida era mais forte do que a de outros traços positivos, como humor ou inteligência.
Os participantes viram imagens de pessoas acompanhadas de descrições de comportamentos pró-sociais ou neutros e, em seguida, classificaram sua atratividade física em uma escala padronizada. Em alguns estudos, os participantes apenas leram sobre o alvo, sem ver nenhuma imagem, permitindo aos pesquisadores determinar se os efeitos do comportamento pró-social se estendiam além das impressões visuais.
Os pesquisadores descobriram uma ligação consistente entre ações pró-sociais e avaliações mais altas de atratividade física. Pessoas que foram descritas como tendo comportamentos gentis ou prestativos foram classificadas como mais bonitas do que aquelas que não foram descritas dessa forma. Essa descoberta foi válida tanto para observadores masculinos quanto femininos que avaliaram alvos de ambos os sexos, sugerindo um amplo apelo da pró-socialidade no aumento da atratividade física.
“Um aspecto interessante de nossas descobertas é que o efeito da pró-socialidade na atratividade foi consistente entre os gêneros. Bondade e generosidade fizeram com que homens e mulheres parecessem mais atraentes, independentemente de quem estava sendo avaliado ou de quem estava realizando a avaliação. Esse apelo universal de gênero destaca o quão amplamente a gentileza pode moldar as percepções de beleza”, disse Kononov.
O efeito foi mais forte quando a gentileza fazia parte do comportamento habitual da pessoa, em vez de um ato isolado, indicando que as pessoas tendem a achar a gentileza constante mais atraente do que boas ações esporádicas. Curiosamente, a influência da prossocialidade (comportamentos que visam beneficiar outras pessoas ou a sociedade em geral) nas avaliações de atratividade foi mais forte do que a de outros traços positivos, como humor ou inteligência.
Isso sugere que a gentileza e a prestatividade desempenham um papel único na formação de percepções físicas, indo além de um "efeito halo" geral, em que traços positivos aprimoram amplamente outras avaliações. Efeito halo é um viés cognitivo no qual uma característica positiva ou negativa de uma pessoa, produto ou situação influencia a percepção geral, levando a julgamentos enviesados em outras áreas.
"Achávamos que a prossocialidade desempenharia um papel significativo, mas não esperávamos que superasse traços como inteligência e humor", disse Kononov. "É interessante porque, embora as pessoas frequentemente vejam o humor e a inteligência como traços altamente atraentes, a gentileza pode, na verdade, ter um impacto mais forte na aparência de alguém. Essa descoberta sugere que a gentileza pode ser mais central para nossa percepção de beleza do que normalmente presumimos”, completou.
Além disso, o estudo descobriu que a motivação para formar relacionamentos também influenciou esse efeito. Em contextos nos quais um relacionamento era possível, as pessoas viam indivíduos prossociais como mais atraentes. No entanto, quando estabelecer um relacionamento não era viável, o efeito da gentileza na beleza percebida diminuía. Isso destaca que a tendência de achar pessoas gentis mais atraentes se baseia, em parte, no desejo de conexão, em vez de simplesmente admirar o comportamento pró-social à distância.
Por fim, o comportamento pró-social até suavizou os julgamentos dos participantes sobre imperfeições físicas. Quando uma pessoa foi descrita como pró-social, os participantes eram menos propensos a se concentrar em pequenas falhas, como cicatrizes ou outras irregularidades físicas, em comparação com indivíduos não pró-sociais. Isso sugere que a bondade pode aumentar a atratividade não apenas por aumentar impressões positivas, mas também por reduzir a atenção às imperfeições.
“A principal conclusão é que a beleza física é moldada por mais do que apenas características físicas, como simetria e outras características externas, nas quais as pessoas costumam investir muito esforço”, disse Kononov ao PsyPost. “Atos de gentileza e generosidade também podem aumentar a atratividade de alguém para os outros — e esse efeito se estende além dos relacionamentos românticos. O comportamento positivo adiciona uma camada única de atratividade que transcende a aparência externa.”
Apesar da abordagem completa do estudo, existem algumas limitações. A amostra foi composta principalmente por participantes residentes nos Estados Unidos, o que pode limitar a aplicação dos resultados a outros contextos culturais. Como a bondade e a prestatividade podem assumir diferentes formas em diferentes culturas, vale a pena investigar se a relação entre comportamento pró-social e percepção de beleza varia em diferentes partes do mundo.
Outra limitação é que o estudo se concentrou principalmente nas percepções iniciais dos participantes, em vez de em como essas impressões podem evoluir ao longo do tempo. Pesquisas futuras podem explorar se o impacto positivo da pró-socialidade na atratividade perdura em relacionamentos de longo prazo, ou se outras características, como confiabilidade ou lealdade, podem eventualmente desempenhar um papel mais significativo nos julgamentos de atratividade.
“Uma limitação a ser considerada é que nosso estudo se concentra em percepções, embora seja interessante considerar os potenciais efeitos que essas percepções podem ter sobre o comportamento”, disse Kononov. “Além disso, nossos resultados capturam uma tendência geral que pode variar entre diferentes contextos sociais e culturais, portanto, pesquisas adicionais seriam valiosas para entender como essas dinâmicas podem mudar em diversos contextos”, finaliza a autora do estudo.
Fonte: PsyPost
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