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Anorexia na gravidez: entenda os riscos para mães e bebês

Na anorexia nervosa a pessoa evita comer por ter um medo irracional de engordar - iStock
Na anorexia nervosa a pessoa evita comer por ter um medo irracional de engordar - iStock

Redação Publicado em 25/03/2022, às 15h00

A anorexia nervosa,caracterizada pelo medo irracional de engordar mesmo estando com peso abaixo do ideal, não é o transtorno alimentar mais comum, mas é um dos que mais mata. 

De acordo com os dados, a condição afeta cerca de 1% da população feminina mundial e é mais frequente em mulheres e meninas durante os anos reprodutivos (geralmente definidos como aqueles de 12 a 51 anos). 

Embora a anorexia nervosa seja um transtorno de baixa prevalência, sendo menor ainda na gravidez, ela está associada a riscos substanciais para a mãe e para o bebê. Mesmo com a complexidade e o risco de manejo da doença durante a gestação, poucos estudos estão disponíveis para orientar os cuidados. 

Nesse contexto, pesquisadores da Universidade Monash (Austrália) realizaram uma revisão sistemática dos últimos estudos sobre o tema e realizaram uma síntese com recomendações e princípios de manejo multidisciplinar para mulheres grávidas que enfrentam a anorexia.

Essas recomendações, publicadas na The Lancet Psychiatry, incluem um foco nos cuidados especializados em saúde mental, obstétrica, médica e nutricional necessários para garantir os melhores resultados para as mulheres e seus bebês.

1,32 vezes mais chances de prematuridade

Segundo a análise, mulheres grávidas com anorexia correm maior risco de ter um natimorto, bebê abaixo do peso ou nascimento prematuro. A anorexia nervosa tem uma prevalência aumentada em mulheres em idade fértil, com até uma em cada 200 mulheres grávidas enfrentando a doença.

Os pesquisadores explicam que, ao contrário dos transtornos de humor, ansiedade e psicóticos, há pouca orientação e pesquisas disponíveis sobre anorexia nervosa na gravidez.  

De acordo com eles, a condição pode afetar desfechos obstétricos e neonatais devido à baixa ingestão calórica, deficiências nutricionais e de vitaminas, estresse, jejum, baixa massa corporal e problemas com a função da placenta.

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Além disso, os riscos de anorexia nervosa não tratada ou subtratada na gravidez incluem riscos psicológicos e psicossociais, incluindo depressão perinatal e ansiedade.

Para mulheres com a doença, há aumento das complicações obstétricas relatadas. Um estudo canadense de 2020  informou que aquelas com anorexia nervosa na gravidez apresentaram 1,32 vezes mais risco de ter um parto prematuro, 1,69 vezes mais chances do bebê nascer abaixo do peso e um risco 1,99 maior de natimorto em comparação com mulheres sem o diagnóstico.

Vale lembrar que pesquisas sobre a gestão da saúde das gestantes em geral têm destacado a importância da nutrição pré-natal materna, do ganho de peso da gravidez e do peso do bebê ao nascer. Esses seriam fatores críticos de risco e pontos vitais de intervenção para melhorar a saúde, inclusive para áreas como doenças cardíacas, diabetes e obesidade.

Tratamento multidisciplinar 

Para os pesquisadores, o manejo da anorexia nervosa requer uma abordagem multidisciplinar de uma equipe que inclua os especialistas: obstetras (particularmente os que gerenciam gestações de alto risco), médicos com experiência em gravidez, nutricionistas que também têm prática com fatores nutricionais da gestação, pediatras e médicos de saúde mental com expertise perinatal. 

Embora muitas das recomendações desenvolvidas para o manejo da anorexia nervosa em adultos sejam aplicáveis também na gravidez, os autores do estudo acreditam que é necessário uma modificação e adaptação especializada às mudanças fisiológicas, psicológicas e sociais da gravidez, sendo que o crescimento fetal e o bem-estar também devem ser levados em consideração.

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