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Alimentos gordurosos podem prejudicar resposta ao estresse

Comer comida gordurosa durante os períodos de maior tensão não faz nada bem - iStock
Comer comida gordurosa durante os períodos de maior tensão não faz nada bem - iStock

Muita gente tende a ingerir alimentos mais ricos em gordura e açúcar quando estão estressados, para tentar obter uma sensação de conforto e recompensa. Mas uma pesquisa mostra que essa estratégia não prejudica apenas sua relação com a balança: comer alimentos gordurosos durante períodos de maior tensão pode prejudicar a maneira como o organismo se recupera do estresse.

Os estudos, publicados recentemente nos periódicos Frontiers in Nutrition and Nutrients, mostra que consumir alimentos ricos em gordura antes de um episódio mentalmente estressante pode reduzir a oxigenação cerebral e piorar a função vascular, o que pode ser perigoso para a saúde do coração, do cérebro e dos vasos sanguíneos. 

Experimento simulou estresse cotidiano

A principal autora do trabalho, a pesquisadora Rosalind Baynham, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, conta que ela e sua equipe selecionaram adultos jovens e saudáveis e deram a eles dois croissants de manteiga como café da manhã. Em seguida, pediram que fizessem cálculos mentais, aumentando a velocidade ao longo de oito minutos, alertando-os quando erravam uma resposta. Eles também podiam se ver em uma tela enquanto faziam o exercício.

O experimento foi projetado para simular o estresse cotidiano com o qual podemos ter que lidar no trabalho ou em casa. "Quando ficamos estressados, diferentes coisas acontecem no corpo, nossa frequência cardíaca e pressão sanguínea aumentam, nossos vasos sanguíneos se dilatam e o fluxo sanguíneo para o cérebro aumenta”, relata a pesquisadora.

“Também sabemos que a elasticidade de nossos vasos sanguíneos – que é uma medida da função vascular – diminui após o estresse mental", continua.

Aumento do risco cardiovascular

A equipe descobriu que consumir alimentos gordurosos quando os participantes estavam mentalmente estressados reduziu a função vascular deles em 1,74%.

Estudos anteriores mostraram que uma redução de 1% na função vascular leva a um aumento de 13% no risco de doenças cardiovasculares.

Os cientistas ainda conseguiram detectar redução da elasticidade arterial nos participantes até 90 minutos após o término do evento estressante, o que é preocupante.

A equipe também descobriu que comer alimentos ricos em gordura atenuou a oxigenação cerebral no córtex pré-frontal, com menor entrega de oxigênio durante o estresse em comparação com quando os participantes consumiram uma refeição com baixo teor de gordura.

Além disso, o consumo de gordura teve um efeito negativo no humor tanto durante quanto após o episódio de estresse.

Ver uma diferença significativa na forma como o corpo dos participantes se recuperam do estresse quando consomem alimentos gordurosos impressionou os pesquisadores. Para pessoas que já têm um risco aumentado de doenças cardiovasculares, segundo eles, os impactos podem ser ainda mais sérios.

Baixo teor de gordura é melhor

A pesquisa também sugeriu que ao consumir alimentos e bebidas com baixo teor de gordura, a recuperação das pessoas do estresse é menos afetada. Após comer uma refeição com baixo teor de gordura, o estresse ainda teve um efeito negativo na função vascular, mas essa queda voltou ao normal 90 minutos após o evento estressante.

Pesquisas adicionais da equipe da Universidade de Birmingham mostraram que ao consumir alimentos "mais saudáveis", especialmente aqueles ricos em polifenóis, como cacau, frutas vermelhas, uvas, maçãs e outras frutas e vegetais, essa deterioração na função vascular pode ser completamente prevenida.

Os estudos mostram que nossas escolhas alimentares durante episódios estressantes podem exacerbar ou proteger contra os efeitos do estresse em nosso sistema cardiovascular. A boa notícia é que isso significa que podemos fazer algo a respeito. Pode ser difícil trocar guloseimas por frutas antes de uma reunião importante, por exemplo, mas a escolha pode valer a pena.

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin