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Câncer de pênis: saiba quais os principais fatores de risco

Câncer de pênis não é uma doença comum, mas causa enorme sofrimento ao homem - iStock
Câncer de pênis não é uma doença comum, mas causa enorme sofrimento ao homem - iStock

O dia 4 de fevereiro é uma data marcada pelo Dia Mundial de Combate ao Câncer, uma doença que assusta só de ouvir a palavra. Felizmente, quando diagnosticado precocemente e tratado de maneira correta, as chances de cura são altas. Também chamada de neoplasia, a doença pode acometer diferentes órgãos do corpo humano, gerar os mais diversos sintomas e até levar o indivíduo à morte. Certamente você já ouvir falar em câncer de mama, de colo de útero, de pulmão entre outros. Mas e sobre o câncer de pênis...você já ouviu falar?

Os casos no Brasil

Em 2021, o Brasil registrou 1.791 casos de câncer de pênis, contra 2.197 contabilizados em 2019. A queda pode ser devido à subnotificação e às restrições impostas pela pandemia da Covid-19, que dificultou o acesso aos serviços de saúde. O perfil dos pacientes em que os casos de câncer de pênis mais ocorrem é justamente o de homens que têm dificuldades de procurar ajuda médica, fator que influencia tanto no surgimento dessa doença, como no prognóstico.

O Diretor do Centro de Referência de Tumores Urológicos e de Cirurgia Robótica do AC Camargo Cancer Center, Stenio de Cássio Zequi afirma que, embora este tipo de câncer seja raro, ele é grave:

“Não é uma doença tão comum, mas é uma tragédia. O paciente acometido é jovem e está em plena vida produtiva. A prevalência de óbitos é muito elevada entre aqueles homens que estudaram menos de 12 anos durante a vida, então o perfil dos pacientes acometidos, de uma forma geral, é de homens desassistidos, analfabetos e em extrema pobreza.”

Esta doença é rara em países desenvolvidos, mas presente na África e na América Latina, incluindo o Brasil, com destaque para o estado do Maranhão (6.1 casos para cada 100 mil habitantes). É nítido, portanto, que o nível socioeconômico está intrinsicamente ligado ao câncer peniano, sendo, inclusive, um dos fatores de risco.

Fatores de risco para câncer de pênis

  • Más condições de higiene
  • Ter fimose
  • Vulnerabilidade social
  • Tabagismo
  • Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST)
  • HPV
  • Zoofilia

Alguns dos fatores acima descritos são mais presentes entre aqueles homens com menor renda, moradores de áreas rurais e com acesso dificultado aos serviços de saúde, ou seja, aqueles desassistidos pelo Estado.

Estudos demonstram que adeptos da prática de zoofilia têm mais chances de sofrer de câncer de pênis. No estado da Paraíba, dados de 2011 mostram que 27% dos pacientes com o diagnóstico admitiram ter feito sexo com animal uma ou mais vezes.

Além disso, pacientes infectados pelo papiloma vírus humano (HPV) também apresentam maior probabilidade de desenvolver tumores penianos.

Sinais e sintomas do câncer de pênis

O primeiro sinal que aparece é uma lesão avermelhada na glande e que demora para cicatrizar, acompanhada de aumento de linfonodos na virilha e, em casos mais avançados, lesões ulceradas com secreção e odor ruim. Vale ressaltar que a grande maioria das lesões avermelhadas que podem surgir na cabeça do pênis não se trata de câncer, mas é importante estar atento a qualquer surgimento de feridas na região sendo precedidas ou não por outros sintomas.

Diagnóstico

Dada a suspeita clínica levantada pelo médico, pode ser realizada biópsia da lesão para fechar o diagnóstico. Como a maioria das neoplasias sólidas, o diagnóstico precoce aumenta as chances de cura e minimiza a quantidade de efeitos colaterais.

Tratamento

De acordo com o oncologista, nos pacientes que chegam com lesões pequenas, os tumores podem ser ressecados e o membro, mantido. No entanto, existem casos de pacientes com lesões avançadas que requerem amputação parcial ou total do pênis. Não são comuns metástases desse tipo de tumor para outros órgãos, embora possa ocorrer invasão de linfonodos na região inguinal e até na pelve.

Sessões de quimio e radioterapia podem ser incluídas no tratamento da doença, mas a maior chance está na cirurgia de retirada da lesão, além da linfadenectomia, quando os tumores já invadiram os linfonodos da região.

Confira:

Amputações de pênis

Recentemente a Sociedade Brasileira de Urologia divulgou números relativos às amputações de pênis (falectomia) no Brasil e os dados impressionam. Nos últimos 14 anos, 7.213 homens foram submetidos à cirurgia de amputação parcial ou total de pênis sendo o câncer no órgão a principal causa dos procedimentos. Entre as neoplasias malignas, o câncer de pênis é um dos mais raros – cerca de 2% dos diagnósticos – no entanto, é de extrema relevância seu diagnóstico e tratamento precoces dado o prognóstico do quadro.

Prevenção

As medidas de prevenção incluem cuidados gerais que envolvem:

  • Uso de preservativo;
  • Vacinação de crianças contra o HPV;
  • Hábitos de higiene incluindo a exposição da glande do pênis e sua lavagem;
  • Postectomia;
  • Cessação de práticas sexuais promíscuas incluindo a zoofilia.

Homens vão menos ao médico

É sabido que o menor acesso da população masculina nas Unidades Básicas de Saúde, a porta de entrada do SUS, interfere negativamente nos demais níveis de atenção à saúde, pois os homens buscam os serviços em situações de maior comprometimento e, muitas vezes, tardiamente. Pensando nisso, o Ministério da Saúde, desde 2009, implementa a Política Nacional de Atenção à Saúde do Homem (PNAISH) com o objetivo de aproximar a população masculina do cuidado integral e longitudinal do SUS.

Quando uma ferida avermelhada que parece simples surge no pênis de um homem, a tendência, de uma forma geral, é esperar que aquilo melhore espontaneamente. Porém, essa espera associada a um distanciamento crônico dos serviços de saúde pode acarretar quadros dramáticos, levando o paciente a uma queda na qualidade de vida e até ao óbito.

O câncer de pênis é carregado de tabus, imagine então um homem que, porventura, tenha seu membro amputado parcial ou totalmente. É algo extremamente delicado e sensível capaz de impactar de maneira contundente a saúde mental desse paciente, então, atente-se à sua saúde e procure atendimento médico regularmente.

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Anderson José

Anderson José

Estudante de medicina na Ufac (Universidade Federal do Acre), autor do podcast Farofa Médica e da página de Instagram @oiandersao