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Raissa Barbosa e a vontade de beber: entenda por que álcool é contraindicado no tratamento psiquiátrico

Imagem Raissa Barbosa e a vontade de beber: entenda por que álcool é contraindicado no tratamento psiquiátrico

Jairo Bouer Publicado em 29/10/2020, às 12h27 - Atualizado às 17h21

Raissa Barbosa desabafou nesta quinta-feira (29), em uma conversa com Stéfani Bays, em A Fazenda 2020 (RecordTV), que gostaria de beber. Enquanto tratavam dos cavalos, a modelo contou para Stéfani que sente falta da liberdade para consumir álcool. Quem acompanha o reality já sabe que Raissa sofre de transtorno de personalidade borderline, e que está em tratamento psiquiátrico.

Stéfani chegou a perguntar para a modelo se ela teria a possibilidade de escolher entre tomar remédio ou beber. “Ainda não, mas um dia vou ter”, respondeu a modelo. Raissa ainda comentou ter tomado alguns goles de vinho num jantar, “pra pensar que tô bebendo um vinho como todo mundo”.

Crédito: Instagram/@raissabarbosaoficial

Bebida e remédio não combinam

Afinal, quem faz tratamento psiquiátrico deve mesmo ficar longe da bebida? A resposta é sim, principalmente na fase de adaptação aos medicamentos, e para quem faz associação de vários remédios. A gente não sabe qual remédio Raissa está usando, mas todo medicamento que atua no sistema nervoso central idealmente não deveria ser consumido com álcool e outras drogas. O que pode acontecer é uma substância potencializar os efeitos da outra.

Quem mistura um antidepressivo, um antipsicótico, um estabilizador de humor ou um sedativo com a bebida pode ficar embriagado muito mais rápido, e pode ter uma exacerbação dos efeitos colaterais. Conclusão? A pessoa pode ficar tonta, sonolenta e pode ter até o que a gente chama de “blackout” – ela pode falar e fazer coisas sem se lembrar depois. Além disso, o uso mais pesado ou mais frequente de álcool pode dificultar bastante o controle do transtorno.

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Em certos casos, mistura é fatal

No caso dos sedativos ou remédios para dormir, como benzodiazepínicos (como clonazepam, diazepam, lorazepam etc) ou hipnóticos (como o zolpidem), essa mistura pode ser até fatal. Como o álcool e essas drogas atuam como depressores do sistema nervoso, há risco de a pessoa ter dificuldades respiratórias e até morrer por overdose.

Vale lembrar que o Brasil é um dos maiores consumidores do mundo de benzodiazepínicos. De acordo com relatório da Comissão Internacional de Controle de Narcóticos (INCB, na sigla em inglês), divulgado em 2018, nosso país aparece em primeiro lugar na lista de consumo de clonazepam (princípio ativo do Rivotril), bem como de outras drogas ansiolíticas (para reduzir a ansiedade).

E o nosso consumo de álcool não é baixo: o Ministério da Saúde diz que quase 18% da população adulta abusa de bebida alcoólica.

Por tudo isso, independente do medicamento usado por Raissa, é bom que ela fique longe da bebida, mesmo, ainda mais em uma situação de estresse exacerbado gerado pelas condições do jogo e do confinamento.

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Um dia vai dar?

Dá para ficar sem tomar o remédio na noite em que for beber, como sugere Stéfani? Em geral, isso não é recomendado. Mas, ao receber a prescrição do psiquiatra, é importante questionar o que fazer, caso, num momento de fraqueza, a pessoa não resista à tentação de beber. Tudo depende do tipo de medicamento usado e das condições de saúde do paciente, cada caso é um caso.

Mas a abstinência é para sempre? Muitos pacientes podem, depois de seis meses a um ano após os sintomas se estabilizarem, diminuir gradualmente a medicação, até parar. Se o transtorno for crônico, é comum o que a gente chama de tratamento de manutenção. E, dependendo do remédio e da dosagem, dá para tomar uns goles de vinho numa ocasião especial, sim, desde que o psiquiatra dê sinal verde.

Para quem exagera na bebida, ficar sem “a cervejinha do fim de semana” pode parecer algo impensável. Mas, quando o tratamento funciona e a pessoa fica bem, o sacrifício compensa. Até porque muita gente acaba usando o álcool como forma de tentar obter alívio para a ansiedade ou para ficar mais extrovertido, e aí o risco de abuso ou dependência (com todas as suas consequências) é mais elevado.