Redação Publicado em 21/10/2025, às 10h00
Um estudo recente com 600 adolescentes na Espanha indica que adolescentes que consomem pornografia são mais propensos a ter visões sexistas tradicionais e a se envolver em uma variedade de comportamentos de risco.
A pesquisa, publicada no periódico Archives of Sexual Behavior, chama atenção para a importância de uma educação sexual precoce e mais abrangente, incluindo a alfabetização midiática em relação à pornografia.
Os resultados sugerem que uma combinação de educação adequada à idade e comunicação aberta pode ajudar os jovens a lidar melhor com sua sexualidade e a ter atitudes mais saudáveis em relação a questões de gênero.
A adolescência é um período-chave em que os indivíduos desenvolvem suas visões sobre relacionamentos, sexo e identidade. A exposição a certas mídias, incluindo material sexualmente explícito, pode desempenhar um papel significativo na formação dessas visões.
Estudos anteriores demonstraram que a pornografia muitas vezes retrata dinâmicas de gênero desiguais, como, por exemplo, mulheres submissas e homens dominantes. Essas representações podem reforçar papéis de gênero tradicionais e expectativas sexuais irrealistas.
Além disso, a idade em que os jovens são expostos pela primeira vez à pornografia caiu em relação a gerações anteriores – muitos adolescentes têm tido o primeiro contato já aos 13 anos, antes de ter uma educação sexual formal.
O estudo envolveu 664 estudantes entre 12 e 17 anos de quatro escolas da província de Ourense, no noroeste da Espanha. Os participantes responderam a um questionário detalhado sobre seus dados demográficos, uso de pornografia, comportamentos sexuais online e offline e atitudes em relação aos papéis de gênero.
Para medir o comportamento, a pesquisa incluiu perguntas sobre atividades online (como sexting ou contato com estranhos) e experiências offline (como uso de preservativo e arrependimento após o sexo). Todas as respostas foram anônimas.
Veja, a seguir, os principais resultados do estudo:
- Quase metade dos adolescentes do estudo já havia assistido a pornografia pelo menos uma vez na vida, e pouco mais de 1 em cada 5 o fez no mês anterior.
- O uso de pornografia foi mais comum entre meninos e adolescentes mais velhos.
- Houve grandes diferenças por idade e gênero: por exemplo, 64,9% dos homens de 16 a 17 anos relataram ter assistido a pornografia no último mês, em comparação com 6,5% das mulheres da mesma idade.
- Entre os jovens de 12 a 13 anos, cerca de 28% já haviam assistido a pornografia, um achado que os pesquisadores destacam como preocupante.
- Aqueles que assistiram a pornografia obtiveram pontuações mais altas na escala tradicional de sexismo. Isso inclui crenças como a de que certos empregos são mais adequados para homens do que para mulheres.
- Os pesquisadores também descobriram que adolescentes que consumiam pornografia eram mais propensos a se envolver em comportamentos sexuais de risco online e offline. Isso inclui sexting, relações sexuais desprotegidas, arrependimento de uma experiência sexual e participação em sexo grupal.
- A probabilidade de certos comportamentos de risco era de duas a seis vezes maior entre os usuários de pornografia.
- Receber mensagens ou fotos explícitas e contatar estranhos online também foram especialmente comuns entre os usuários de pornografia.
- Para ambos os grupos, receber mensagens sexuais e aceitar solicitações de amizade de pessoas desconhecidas online foram fortes preditores do uso de pornografia. Entre os homens, dois comportamentos adicionais foram significativos: receber imagens ou vídeos explícitos e não usar preservativos durante o sexo.
Essas descobertas sugerem que o uso de pornografia pode fazer parte de um padrão mais amplo de envolvimento de risco online e offline, particularmente para meninos.
Como os dados foram coletados em um único momento, não é possível saber se assistir a pornografia leva a atitudes sexistas e comportamentos de risco, ou se aqueles com tais atitudes e comportamentos têm maior probabilidade de procurar pornografia.
De qualquer forma, os autores enfatizam que suas descobertas corroboram a necessidade de uma educação sexual precoce e abrangente, que inclua a alfabetização midiática e pornográfica.
Dado que as restrições legais ao acesso à pornografia não impediram a visualização por menores de idade, abordagens educacionais podem ser mais eficazes para ajudar os adolescentes a avaliarem criticamente o que veem. Isso poderia envolver o ensino sobre consentimento, igualdade de gênero e relacionamentos saudáveis, além de discussões sobre como a pornografia retrata o sexo e os papéis de gênero.