
Redação Publicado em 26/11/2025, às 10h00
Assim como os indefectíveis panetones e perus, o fim de ano traz consigo eles, os filmes de Natal. E, cá entre nós, não há melhor maneira de começar as festas de fim de ano do que com um filme natalino. Listas dos melhores estão por toda parte e eles fazem tanto sucesso que, nos Estados Unidos, por exemplo, eles só perdem em audiência para o futebol americano na ESPN.
Os canais de TV e os streamings estão repletos de clássicos natalinos para agradar todo tipo de público, como "A Felicidade Não se Compra" e “Natal na Rua 34", além de filmes mais recentes como "Simplesmente Amor", “Esqueceram de Mim” e "O Amor Não Tira Férias", passando até mesmo por longas de ação, como “Duro de Matar” e “Um Herói de Brinquedo”.
Uma coisa, porém, a maioria dos filmes natalinos têm em comum, seguem uma fórmula: são previsíveis e muitas vezes piegas. Mas também ajudam a aliviar o estresse,a pressão familiar e a melancolia que muitas pessoas sentem nesta época do ano. Uma noite assistindo a um filme inspirador pode ser uma forma fácil, barata e gratificante de cuidar de si mesmo.
Filmes de Natal são concebidos para ativar a ressonância emocional por meio da nostalgia. Eles exploram o nosso desejo de revisitar os "bons tempos" com imagens, histórias e músicas que estimulam as nossas associações sentimentais e nostálgicas do passado. Eles nos lembram de épocas das nossas vidas que eram simples, esperançosas, divertidas e felizes. Temos uma tendência cognitiva para a "nostalgia" que nos faz pensar que as coisas eram melhores "antes".
Algumas pessoas veem as memórias com lentes cor-de-rosa porque as emoções negativas do passado se dissipam mais rapidamente do que as positivas. Com o passar do tempo, as coisas boas melhoram; as más recuam, fazendo-nos ansiar por aqueles dias melhores. Também despertam aqueles anseios psicológicos por amor e segurança.
Diversas teorias da motivação se baseiam na necessidade de conexão humana. Ela está no cerne do desenvolvimento psicológico e fisiológico saudável. Todos nós queremos ser amados e incluídos, sentir-nos protegidos e seguros, e respondemos instintivamente à conexão social, inclusive na mídia.
Esse tipo de filme captura essa sensação de segurança ao nos levar a uma jornada por um mundo de simplicidade e inocência infantil — onde as famílias são calorosas, acolhedoras e divertidas, onde amigos e parceiros desfrutam da alegria do Natal, onde nos sentimos abraçados, protegidos e amados, e onde ainda existe a promessa de magia e desejos realizados sob a árvore.
Como poucos de nós temos vidas de "Natal de conto de fadas", os filmes oferecem uma fuga bem-vinda das pressões e exigências do mundo real. A época natalina pode trazer visitas indesejadas, familiares irritantes e o peso de dar presentes e entreter as pessoas. As festas podem agravar as dificuldades financeiras e acentuar nossa solidão e isolamento. As imagens do Natal também podem nos fazer perceber quando nossas vidas, famílias, empregos ou amigos não correspondem aos nossos ideais e desejos.
Não é de se admirar que a depressão e a ansiedade aumentem durante as festas de fim de ano. Isso também explica o alívio que sentimos quando filmes natalinos exageram esses problemas típicos da época, como "Um Natal Muito, Muito Louco", "Papai Noel às Avessas" ou "Perfeita é a Mãe".
Os filmes de Natal nos permitem escapar do estresse das festas de fim de ano e esquecer nossos problemas. Eles oferecem acesso fácil a uma estratégia eficaz de enfrentamento: uma fuga saudável e temporária, mergulhando em uma história que nos faz sentir bem, nos lembra do significado do amor, nos ajuda a sentir gratidão pela família e pelos amigos e até mesmo a vivenciar um pouco de romance.
A previsibilidade dos enredos e personagens dos filmes natalinos faz parte do seu encanto. Escolha a sua fantasia: relacionamentos reacendidos, amantes incompatíveis, peripécias em pequenas cidades, membros da realeza disfarçados, a descoberta do verdadeiro significado do Natal ou a superação de obstáculos. Seja qual for o conflito, o gênero garante um final feliz e reconfortante.
Uma vantagem adicional é que a maioria dos filmes natalinos são adequados para toda a família, proporcionando uma maneira de criar novas tradições. Quando assistimos com outras pessoas, criamos memórias compartilhadas, amplificamos emoções positivas e fortalecemos relacionamentos.
As risadas e as piadas sobre clichês cinematográficos irreais criam uma experiência positiva de união; o estresse e o conflito nos dramas oferecem um espaço seguro para processar dificuldades pessoais e sentir-se apoiado por outras pessoas — especialmente quando sabemos que há um final feliz.
Nossos cérebros encontram conforto em padrões. Os finais felizes previsíveis, combinados com alegria, risos e lágrimas de felicidade, ativam nosso centro de recompensa neural. Mudanças de humor afetam nossa química corporal; elevar nosso ânimo nos faz sentir bem fisicamente. O riso se torna um antídoto literal para o estresse, sem a necessidade de medicamentos.
Filmes que nos fazem sentir bem vão além de simplesmente nos deixar felizes por um momento. Embora não haja nada de errado em desfrutar de experiências hedonistas passageiras, o drama com resolução também pode proporcionar uma forma de felicidade mais duradoura que aumenta o bem-estar. Filmes que nos fazem sentir bem podem ser inspiradores, edificantes e profundamente comoventes, provocando-nos a refletir, a ver as coisas de uma nova maneira ou a nos sentirmos inspirados a fazer novos planos.
Quando assistimos novamente a um filme favorito ou conversamos sobre ele com amigos, mentalmente revivemos cenas e experimentamos emoções. A expectativa da jornada emocional que sabemos que está por vir cria uma recompensa neural antes mesmo do filme começar. Quando os personagens parecem velhos amigos e os cenários, lugares familiares, essas conexões parassociais desencadeiam a sensação agradável e reconfortante da experiência social real, induzida pela ocitocina.
A psicologia positiva representou uma mudança na forma como os psicólogos abordavam o espectro da experiência humana. O foco na patologia abriu espaço para o estudo científico dos fatores que contribuem para o bem-estar das pessoas. Isso se estende ao consumo de mídia, que tem má reputação, mas existem benefícios reconhecidos em atividades relacionadas a ela, como assistir a filmes, desde a melhora do humor e o alívio do estresse até a reflexão pessoal e social.
Então, se você está começando a sentir o estresse das festas de fim de ano, prepare uma pipoca e tire umas férias para assistir a filmes natalinos. Considere isso uma forma de autocuidado. Lembre-se de que emoções positivas estimulam a produtividade, o que fará com que suas tarefas sejam concluídas mais rapidamente, e a resiliência, o que tornará qualquer parente irritadiço um pouco mais fácil de suportar.
Fonte: Psychology Today