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Pandemia aumentou desigualdades de gênero dentro de casa, diz pesquisa

Aumento da carga de trabalho sobre as mulheres pode estar associado a pior saúde mental - iStock
Aumento da carga de trabalho sobre as mulheres pode estar associado a pior saúde mental - iStock

Redação Publicado em 10/03/2021, às 17h00

Durante os primeiros meses de isolamento social, o auge da pandemia de Covid-19 no Reino Unido, as mulheres passaram mais tempo dedicadas ao trabalho doméstico e ao cuidado dos filhos do que os homens. Elas também foram mais propensas a reduzir horas de trabalho e relataram maiores níveis de sofrimento psicológico, de acordo com uma pesquisa da University College London

Antes mesmo desse período, estudos ingleses já mostravam que as mulheres do país gastavam mais tempo com trabalhos não remunerados que os homens. Em março de 2020,  o fechamento de creches e escolas pode ter agravado as desigualdades de gênero existentes no cuidado com os filhos e isso pode ter gerado problemas de saúde mental. 

Mulheres sobrecarregadas 

A pesquisa utilizou dados do estudo "Understanding Society Covid-19", que faz parte de uma análise longitudinal realizada no Reino Unido desde 2009. Os participantes foram convidados a responder um questionário virtual todos os meses sobre as suas experiências durante a pandemia. Foram obtidas 17.452 respostas em abril e 14.811 em maio. 

Em média, nos meses analisados, as mulheres passaram cerca de 15 horas por semana fazendo trabalhos domésticos, enquanto os homens gastaram menos de 10 horas semanais com tarefas desse tipo. Em relação ao papel de mãe, elas passaram 20,5 horas por semana cuidando dos filhos e auxiliando-os com o ensino à distância em abril e 22,5 horas em maio. Já os homens gastaram cerca de 12 horas com essas responsabilidades em ambos os meses. 

No geral, ao se analisar os casais, as mulheres acabam com 64% do trabalho doméstico e são responsáveis por 63% do cuidado com as crianças. Além disso, os pais empregados foram 5% menos propensos a reduzir as horas de trabalho e apresentaram 7% menos chances de mudar padrões do emprego por conta do ensino à distância em comparação às mães que trabalham. 

E a saúde mental?

O estudo constatou que o aumento na carga do trabalho doméstico, do cuidado com as crianças e, consequentemente, a ajuda no ensino à distância, estão associados a níveis mais elevados de sofrimento psicológico entre as mulheres. Não foi encontrada nenhuma associação significativa em relação aos homens. 

Foram registrados índices de sofrimento psíquico ainda mais elevados entre pais e mães solteiras, que precisaram adaptar os padrões de trabalho à nova realidade e às necessidades. 

 De acordo com os pesquisadores, a pandemia de Covid-19 colocou uma pressão sobre os pais, principalmente as mães solteiras, e interferiu bastante na saúde mental deles. Por essas e outras razões, eles acreditam que é necessário conscientizar as pessoas, inclusive  empregadores, sobre a desigualdade de gênero.

Essas diferenças nas divisões de trabalho não remunerado são contínuas e existem há muito tempo. Entretanto, com o isolamento social, as mães precisam se desdobrar para dar conta do trabalho doméstico, do cuidado com os filhos e da educação, que, agora, também é feita em casa (pelo menos em parte do tempo). Essa sobrecarga se reflete em problemas de saúde mental mais frequentes, especialmente entre mães solteiras. 

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