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“Hoje ele merece, vou transar”: por que mulheres ainda agem assim?

Para as mulheres, pode ser difícil encarar o sexo como forma de prazer - iStock
Para as mulheres, pode ser difícil encarar o sexo como forma de prazer - iStock

Carolina Piscina Publicado em 27/02/2021, às 15h00

Quantas vezes nós, mulheres, já nos pegamos pensando ou até mesmo dizendo para as amigas que “hoje ele merece, vou transar”. Ou, então, dizendo para o próprio parceiro “hoje não tem, você não está merecendo”? Este hábito, de tratar o sexo como uma moeda de troca, relacionada a atitudes do outro, muitas vezes está incrustrado em nosso inconsciente e nem mesmo sabemos por que agimos assim. Afinal, fomos ensinadas a pensar dessa forma. 

Enquanto os homens, em geral, têm grande facilidade em encarar o sexo apenas como forma de prazer, as mulheres, por vezes, podem sentir dificuldade em encarar da mesma maneira. Esta diferença de interpretação pode até mesmo causar problemas e dificuldades na relação a dois, quando o homem “sempre quer” transar e a mulher parece relacionar o momento a datas especiais ou atitudes do parceiro.

“Temos uma educação onde o prazer feminino é visto, desde muito cedo, como sendo sujo, feio e proibido. Desassociar isso na vida adulta é muito difícil e ainda temos a entrada de outro quesito, a obrigação, que muitas vezes se sobrepõe ao prazer”, explica a socióloga e psicanalista Renata Passini.

Segundo a especialista, desde cedo as mulheres aprendem a supervalorizar a virgindade feminina, que só deve ser concedida a alguém muito especial e em um momento certo. Isto não é propriamente ruim, mas se torna algo nocivo à mulher quando ela passa a relacionar o sexo com o merecimento do outro, deixando o seu próprio prazer e desejo de lado. Isso também vale quando o sexo é usado como forma de punição, quando o objetivo da relação sexual, que é o prazer, acaba dando lugar a uma objetificação do ato sexual e da vagina.

Como mudar essa relação?

Passar a encarar o próprio corpo como forma de prazer, e o sexo como um ato voltado para isso, é um longo processo. De acordo com Passini, isto requer não só uma mudança de pensamentos, mas também passar a conhecer o seu próprio corpo, se tocar e perceber o que sente. Desta forma, será possível passar a perceber quais são as sensações que causam prazer e até mesmo o direcionamento do parceiro para o que ela mesma gosta e quer durante a relação sexual.

Uma outra preocupação que pode surgir nesse processo é a libido. Afinal, se a mulher deve passar a tratar o sexo como prazer e não mais relacioná-lo a datas especiais ou atitudes do parceiro, pode surgir a dúvida sobre como aumentar o desejo pelas relações íntimas. 

“Antes de tudo, é preciso entender que libido e desejo, apesar de andarem juntos, são coisas diferentes. A libido vem da energia, ela é quem direciona as funções vitais, seja da outra pessoa ou do próprio corpo. Já o desejo surge independentemente da intenção, ele vem do inconsciente e está relacionado à realização”, afirma a psicanalista.

Sendo assim, olhar para si mesma, para o seu estilo de vida, seus hábitos alimentares e níveis de estresse, por exemplo, são passos que parecem nada ter a ver com o sexo, mas podem fazer diferença. Outra dica valiosa é estar em ambientes que te dão prazer e ajudam a estimular desejos, como preparar o quarto com luzes, velas e uma música que te estimulem a curtir o momento. 

Por fim, Passini ressalta que é importante ouvir a si mesma e também questionar as relações, no sentido de pensar em como você se relaciona, ouvir e conversar com o parceiro, assim como refletir sobre o que te faz ou o que te leva a punir o outro ou a si próprio.