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"Homem bi no fundo é gay": você já ouviu isso?

Estereótipos desse tipo podem ter impacto importante no bem-estar de pessoas bissexuais - iStock
Estereótipos desse tipo podem ter impacto importante no bem-estar de pessoas bissexuais - iStock

Estereótipos que envolvem indivíduos bissexuais variam de acordo com o gênero, de acordo com uma pesquisa publicada recentemente no periódico Social Psychological and Personality Science.

Homens bissexuais têm um estereótipo mais associado ao dos homens gays, mas isso não acontece com mulheres bissexuais.

Em outras palavras, as pessoas tendem a pensar que os homens bissexuais são mais parecidos com os homens gays, enquanto as mulheres bissexuais não são vistas como semelhantes às mulheres lésbicas.

Essas percepções, por sua vez, estão ligadas a crenças negadoras de identidade sobre a bissexualidade.

Como as pessoas percebem os bissexuais?

Embora os indivíduos de minorias sexuais partilhem desafios em comum, os diferentes subgrupos da comunidade LGBTQIAP+ encontram obstáculos muito distintos. 

Assim, o foco do estudo atual foi compreender melhor as diferenças como indivíduos bissexuais são percebidos, como explicou a autora do estudo, Emma McGorray, candidata a doutorado na Universidade de Northwestern, nos EUA. Veja o comentário dela:

Eu estava interessada neste tópico porque percebi que, na vida cotidiana e na mídia, parece haver uma crença de que os homens bissexuais são 'na verdade gays' e as mulheres bissexuais são 'na verdade heterossexuais'. Eu queria entender até que ponto as pessoas mantêm essas crenças e quais estereótipos subjacentes podem estar relacionados a elas.”

Emma e o colega pesquisador Christopher Petsko realizaram três experimentos que envolveram, ao todo, 1.149 participantes. Os testes tiveram como objetivo examinar como os estereótipos das categorias de orientação sexual (gay, bissexual, heterossexual) variam dependendo do gênero dos alvos avaliados. 

Primeiro experimento

No Experimento 1, os participantes receberam uma lista com características e foram solicitados a selecionar as dez que eles acreditavam ser estereótipos de grupos-alvo designados aleatoriamente (por exemplo, homens e mulheres gays, bissexuais ou heterossexuais).

Os investigadores queriam avaliar até que ponto os estereótipos selecionados para os bissexuais se sobrepõem aos dos indivíduos gays e heterossexuais, com variações baseadas no gênero.

O resultado é que os participantes estereotiparam os homens bissexuais como possuidores de características mais semelhantes aos de homens gays, mas o mesmo não foi observado para as mulheres bissexuais, em relação às mulheres heterossexuais.

Segundo experimento

Reconhecendo que o método da lista de verificação pode restringir as respostas dos participantes, no Experimento 2 a equipe permitiu que os participantes listassem livremente os estereótipos que lhes vinham à mente ao pensar nos grupos-alvo.

Os participantes foram convidados a fornecer cinco características que faziam parte do estereótipo cultural atual de diferentes orientações sexuais e grupos de gênero. Os resultados desse experimento foram muito parecidos com os do primeiro.

Terceiro experimento

No Experimento 3, os participantes avaliaram homens ou mulheres bissexuais de acordo com a medida em que acreditavam possuir os atributos estereotipados “gays” e “heterossexuais” identificados nos experimentos anteriores.

Os investigadores avaliaram, então, se a confirmação desses estereótipos previa o endosso de crenças de negação de identidade, tais como “homens bissexuais são, no fundo, gays”, ou “mulheres bissexuais são, no fundo, heterossexuais”.

Os pesquisadores descobriram que, sim, a tendência a estereotipar homens bissexuais como possuidores de atributos distintamente “gays” previa crenças de negação de identidade do tipo “ele, no fundo, é gay”. 

Impacto no bem-estar e no relacionamento

Segundo os pesquisadores, existem evidências científicas de que esse tipo de crença pode ter impactos negativos no bem-estar, e até na saúde, das pessoas bissexuais. Por isso é importante realizar esse tipo de estudo. 

Vale destacar que a maioria dos participantes do estudo era proveniente de um só país (EUA). Além disso, todos foram recrutados pela internet. Assim, é preciso que pesquisas futuras sobre o tema incluam públicos mais amplos, e que tentem explorar os motivos por trás desses estereótipos. A autora também ressalta que é importante explorar as implicações disso tudo para os relacionamentos românticos de bissexuais.

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin