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Diabetes: insulina completa 100 anos e cientistas prometem inovações

No Brasil, há 16 milhões de diabéticos, como estima a SBD, o que coloca o país no quarto lugar no ranking mundial da doença - iStock
No Brasil, há 16 milhões de diabéticos, como estima a SBD, o que coloca o país no quarto lugar no ranking mundial da doença - iStock

Redação Publicado em 28/07/2021, às 11h30 - Atualizado às 12h00

A insulina completou 100 anos em 27 de julho, e vem cumprindo bem o combate mundial ao diabetes, uma doença crônica na qual o corpo não produz insulina ou não consegue usá-la adequadamente, comprometendo o controle da glicose no sangue e causando diversos danos à saúde. Pode levar à morte se não houver tratamento adequado.

O cirurgião canadense Frederick Banting começou uma série de experiências em 1921, auxiliado pelo então estudante de medicina Charles Best. Eles aplicaram extrato pancreático em cães tornados diabéticos e viram uma redução na glicemia. O trabalho foi feito no laboratório do médico escocês John Macleod e supervisionado por ele, na Universidade de Toronto, no Canadá. Nascia ali a insulina.

E as pesquisas nunca mais pararam, pois o objetivo final dos cientistas é elevar a qualidade de vida dos pacientes e minimizar as complicações da doença -- uma das que mais crescem globalmente, segundo a Federação Internacional de Diabetes. Os casos deverão aumentar de 463 milhões (2019) para 578 milhões em 2030, como prevê a entidade.

Um marco

O mecanismo de ação da insulina inalável, atualmente, é o que mais se assemelha ao hormônio produzido pelo organismo, na categoria de ação rápida. “Ela é um marco na história do diabetes e muito útil para pacientes que necessitam melhorar o controle das hiperglicemias, ou seja, aumento da taxa de açúcar no sangue após as refeições. Diminui o número de injeções de insulina, que gira em torno de quatro a seis por dia para a grande maioria dos pacientes com diabetes tipo 1 e para muitos com diabetes tipo 2 em fase de insulinização plena”, afirma o endocrinologista Mauro Scharf, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) - Regional Paraná.

No Brasil, há 16 milhões de diabéticos, como estima a SBD, o que coloca o país no quarto lugar no ranking mundial da doença, depois de China, Índia e Estados Unidos. O país dispõe das mesmas insulinas comercializadas globalmente, incluindo a única inalável no mundo, Afrezza, aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O futuro aponta para inovações como, por exemplo, insulina basal de uso semanal e insulinas do tipo análogas mais rápidas do que as atuais, segundo o endocrinologista Marcio Krakauer, coordenador do Departamento de Tecnologia, Saúde Digital e Telemedicina da SBD. Porém, o Brasil ainda tem dois grandes desafios a vencer: controlar o avanço do diabetes e ampliar o acesso dos pacientes aos tratamentos.

Acesso aos tratamentos

A comercialização de insulina cresceu de 22 milhões de frascos, em 2018, para 31 milhões em 2020, segundo dados do IQVIA (empresa de tecnologia da informação em saúde e pesquisa clínica). Até maio deste ano, foram 13 milhões de frascos. Esses números refletem a elevação de casos e, também, do acesso ao medicamento, segundo os especialistas.

A chamada insulina humana (NPH ou regular) é a mais consumida no país: 87% das vendas, segundo o IQVIA. É distribuída pelo sistema público de saúde (SUS) sem custo para os pacientes. Os 13% restantes são de insulinas análogas de ação lenta, rápida e ultrarrápida. E quanto mais rápido o efeito, melhor, porque, assim, imita a ação do pâncreas no controle da glicose. Portanto, as análogas são mais eficazes pela rapidez, melhor controle da glicemia e por causar menos picos de hipoglicemia, ou seja, menos quedas bruscas da taxa de açúcar no sangue, do que as insulinas humanas.

Já assistimos o recente barateamento das insulinas análogas. O que falta agora são as fontes pagadoras como, por exemplo, planos de saúde, realizarem cálculos que demonstrem melhores resultados clínicos e econômicos com a utilização dessas insulinas. Gastar um pouco mais com uma insulina melhor pode significar milhões de reais em economia na prevenção de complicações crônicas, como insuficiência renal, perda de visão, amputações, doenças cardiovasculares e internações com quadros de cetoacidose ou hipoglicemias graves”, comenta Scharf.

Ele finaliza: “Insulina é vida, um marco transformador da vida de muitas pessoas, que está em constante evolução científica e que vem sendo aprimorada de forma continuada para trazer cada vez mais qualidade de vida às famílias e pessoas tocadas por esta doença”.

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