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Dia da Visibilidade Trans: entenda por que é importante falar no assunto

Linn da Quebrada, no BBB 22: tatuagem foi estratégia para ajudar a mãe a chamá-la da forma certa - Instagram
Linn da Quebrada, no BBB 22: tatuagem foi estratégia para ajudar a mãe a chamá-la da forma certa - Instagram

Redação Publicado em 29/01/2022, às 09h00

Dia 29 de janeiro é o Dia Nacional da Visibilidade Trans no Brasil, data que surgiu a partir de uma campanha realizada em 2004. De lá para cá, essa população conquistou mais espaço na mídia, e hoje vemos homens e mulheres trans em posição de destaque na política, no esporte e na TV. Conversas sobre identidade de gênero foram destaque, inclusive, no BBB 22, graças à cantora e atriz Linn da Quebrada, que se identifica como travesti e gerou dúvidas sobre o uso do termo. 

Você sabe a diferença?

Os comentários dos brothers em torno das definições sobre transgênero com a chegada de Linn mostram como ainda falta discutir muito sobre o tema. Tanto que o apresentador do programa, Tadeu Schmidt, abriu espaço, na semana que passou, para que ela explicasse como deseja ser chamada. Linn contou ter tatuado o pronome "ela" acima da sobrancelha para que a mãe não esquecesse de chamá-la da maneira correta. 

Em tempo: "mulher trans" é a pessoa que se identifica como sendo do gênero feminino, embora tenha sido biologicamente designada como pertencente ao sexo/gênero masculino ao nascer. Já o termo "travesti" é descrito como uma construção de gênero, oposta ao sexo biológico, e que pode, ou não, envolver modificações no corpo, como procedimentos estéticos, hormonioterapia ou cirurgia de redesignação sexual.

Por muito tempo, julgou-se que "travesti" era aquela pessoa que "apenas" se vestia de mulher. Mas a verdade é que muita gente não tinha acesso aos tratamentos de redesignação sexual, apesar de sentirem essa necessidade. Historicamente, essas pessoas foram estigmatizadas, associadas à prostituição, de modo que muitas mulheres trans bem-sucedidas, hoje em dia, fazem questão de ser chamadas de travestis como forma de lutar contra o preconceito.  Por isso, quem tem dúvidas deve sempre perguntar, educadamente, como a pessoa prefere ser chamada. 

Desde 2018, é possível realizar a alteração de nome e gênero no registro civil, no Brasil, sem que seja necessária autorização judicial. O processo antes era feito por intermédio de advogados, e era preciso aguardar a aprovação do juiz, o que levava tempo. Agora, tudo ficou mais simples.

Vale ressaltar que estudos científicos comprovam que ser chamado pelo nome ou pronome de preferência é determinante para a saúde mental de pessoas trans, podendo até reduzir o risco de suicídio, que é alto entre jovens transgênero. 

Crimes contra trans

O Brasil ainda precisa avançar muito, no entanto, no combate à transfobia: o país é o que mais mata travestis e transsexuais no mundo todo, de acordo com o Transgender Europe, uma rede de diferentes organizações que trabalham para combater a discriminação contra pessoas trans e que tem o apoio da União Europeia. 

O preconceito leva essa população a ter muito menos acesso a serviços e oportunidades – 82% dos jovens trans sofre com a evasão escolar, e 90% das travestis e mulheres trans estão na prostituição, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Falar de diversidade, seja na TV ou em casa, é o primeiro passo para transformar esse cenário, e isso é algo que envolve toda a sociedade, independente de sexo, gênero e orientação sexual.

Confira:

Para entender melhor os termos

Pessoas transgênero, também chamados de travestis, transexuais ou não binárias, são as pessoas que não se identificam com o gênero que a sociedade acha que ela deve ter por conta do sexo biológico (reconhecido ao nascimento). Elas se sentem pertencentes a um outro gênero (diferente do sexo biológico), a nenhum gênero ou aos dois gêneros (pessoas não binárias). Sua identidade de gênero é incongruente em relação ao sexo biológico.

O que é o sexo biológico?

Está ligado à nossa biologia: cromossomos, hormônios, órgão sexuais. Ao nascermos o sexo é reconhecido por todas estas características. Ele pode ser macho (XY), fêmea (XX) ou intersexo (XXY).

O que é identidade de gênero?

Como você sabe que você pertence ao gênero que você tem? Isso tem a ver com a sua identidade, nem sempre tem uma resposta simples e fácil. É o modo como você se reconhece independentemente de questão biológica. Não tem nada a ver com orientação sexual.

  • Heterossexual – interesse por pessoas com o gênero diferente do seu;
  • Homossexual – interesse por pessoas do mesmo gênero que o seu;
  • Bissexual – interesse por pessoas de ambos os gêneros;
  • Pansexual – interesse por pessoas, o gênero nem entra em questão;
  • Assexual – pessoas que não têm, ou que têm nenhum ou muito pouco, interesse sexual por quaisquer gêneros.

Vale ressaltar, para diminuir a possibilidade de confusão, a diferença entre sexo e gênero. Na nossa língua essas duas palavras podem aparentemente representar a mesma coisa. Por isso é importante compreender que quando falamos de sexo ele é sempre com base biológica e gênero é um constructo biopsicossocial.

Algumas pessoas transgênero apresentam disforia em relação ao seu corpo X identidade de gênero. Importante saber que nem todas as pessoas transgênero vão apresentar essa característica.

Quando uma pessoa não se sente pertencente ao gênero designado ao nascimento e a uma identidade de gênero, ela é chamada de não-binária.

O que é disforia?

Por definição ampla, disforia é uma mudança repentina e transitória do estado de ânimo, tais como sentimentos de tristeza, pesar, angústia. É um mal-estar psíquico acompanhado por sentimentos depressivos, tristeza, melancolia e pessimismo.

O que é disforia de gênero?

Tem relação com o sofrimento que a identidade de gênero, diferente do sexo biológico, pode causar em algumas pessoas transgênero. Ou seja, é um desconforto enorme com o próprio corpo, e que pode estar associado a maior ansiedade, depressão, irritabilidade e, muitas vezes, gerar inclusive vontade de se machucar e até mesmo de morrer.

Grande parte do sofrimento desta população não está ligada ao como se sentem, e sim ao modo como a sociedade os trata. Marginalização, preconceito e discriminação são grande parte do sofrimento dessas pessoas. Hoje sabe-se que pessoas trans inseridas em meios sociais e familiares mais acolhedores têm menor sofrimento e uma melhor perspectiva de vida.

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