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Entender é o primeiro passo para ajudar na visibilidade das pessoas trans

Dia Nacional da Visibilidade Trans é uma conquista dessa população que é marginalizada pela sociedade - iStock
Dia Nacional da Visibilidade Trans é uma conquista dessa população que é marginalizada pela sociedade - iStock

Desirèe Cordeiro Publicado em 27/01/2021, às 15h00

Dia 29 de janeiro é o Dia Nacional da Visibilidade Trans no Brasil. Essa data tem intenção de promover reflexões sobre a cidadania de pessoas travestis, transexuais e não binárias. É uma data fundamental na luta constante e diária das pessoas transgênero.

Essa data existe desde 2004, e foi uma conquista dessa população que é marginalizada pela sociedade. Acredito que entender seja o primeiro passo para auxiliar na visibilidade das pessoas trans. Isso ajuda mais pessoas a reconhecerem esta questão, e com isso desmitificarem o que é. E quem sabe diminuir o preconceito e discriminação.

Para entender melhor:

O que são pessoas transgênero?

Pessoas transgênero, também chamados de travestis, transexuais ou não binárias, são as pessoas que não se identificam com o gênero que a sociedade acha que ela deve ter por conta do sexo biológico (reconhecido ao nascimento). Elas se sentem pertencentes a um outro gênero (diferente do sexo biológico), a nenhum gênero ou aos dois gêneros (pessoas não binárias). Sua identidade de gênero é incongruente em relação ao sexo biológico.

O que é o sexo biológico?

Está ligado à nossa biologia: cromossomos, hormônios, órgão sexuais. Ao nascermos o sexo é reconhecido por todas estas características. Ele pode ser macho (XY), fêmea (XX) ou intersexo (XXY).

O que é identidade de gênero?

Como você sabe que você pertence ao gênero que você tem? Isso tem a ver com a sua identidade, nem sempre tem uma resposta simples e fácil. É o modo como você se reconhece independentemente de questão biológica. Não tem nada a ver com orientação sexual.

O que é orientação sexual?

É a orientação por quem você se sente atraído sexualmente. O seu desejo sexual. As orientações mais conhecidas atualmente são:

  • Heterossexual – interesse por pessoas com o gênero diferente do seu;
  • Homossexual – interesse por pessoas do mesmo gênero que o seu;
  • Bissexual – interesse por pessoas de ambos os gêneros;
  • Pansexual – interesse por pessoas, o gênero nem entra em questão;
  • Assexual – pessoas que não têm, ou que têm nenhum ou muito pouco, interesse sexual por quaisquer gêneros.

Vale ressaltar, para diminuir a possibilidade de confusão, a diferença entre sexo e gênero. Na nossa língua essas duas palavras podem aparentemente representar a mesma coisa. Por isso é importante compreender que quando falamos de sexo ele é sempre com base biológica e gênero é um constructo biopsicossocial.

Algumas pessoas transgênero apresentam disforia em relação ao seu corpo X identidade de gênero. Importante saber que nem todas as pessoas transgênero vão apresentar essa característica.

O que é disforia?

Por definição ampla, disforia é uma mudança repentina e transitória do estado de ânimo, tais como sentimentos de tristeza, pesar, angústia. É um mal-estar psíquico acompanhado por sentimentos depressivos, tristeza, melancolia e pessimismo.

O que é disforia de gênero?

Tem relação com o sofrimento que a identidade de gênero, diferente do sexo biológico, pode causar em algumas pessoas transgênero. Ou seja, é um desconforto enorme com o próprio corpo, e que pode estar associado a maior ansiedade, depressão, irritabilidade e, muitas vezes, gerar inclusive vontade de se machucar e até mesmo de morrer.

Grande parte do sofrimento desta população não está ligada ao como se sentem, e sim ao modo como a sociedade os trata. Marginalização, preconceito e discriminação são grande parte do sofrimento dessas pessoas. Atualmente sabe-se que pessoas trans inseridas em meios sociais e familiares mais acolhedores têm menor sofrimento e uma melhor perspectiva de vida.

Números alarmantes

O Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo, posição que infelizmente continua a ocupar em 2020, segundo um levantamento divulgado pela Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).

No dia 29 será lançada a pesquisa completa sobre os assassinatos de pessoas trans no ano de 2020. Porém já se sabe que eles são alarmantes e maiores do que nos últimos anos. Mesmo em um ano de pandemia e isolamento social. Segundo a pesquisa feita com números absolutos, 175 mulheres trans foram assassinadas. São Paulo foi o estado que mais matou a população trans em 2020, seguido do Ceará, Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que apresentaram aumento no número de casos em relação a 2019.

Nos últimos anos houve um avanço para a visibilidade e consequente reconhecimento do direito à existência das pessoas trans enquanto cidadãs, mas ainda falta muito a ser feito. Muito a se refletir.

Sexta feira (29) será o 18º Dia Nacional da Visibilidade Trans, e teremos, aqui, uma pessoa querida falando sobre o tema. Trazendo as necessidades, desejos e como se sentem em relação a todas estas reflexões.

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* Esta coluna não reflete, necessariamente, a opinião do Site Doutor Jairo