Redação Publicado em 16/03/2021, às 13h08
Em dezembro de 2020, Elliot Page anunciou nas redes sociais que é transsexual. Agora, em março de 2021, o ator deu sua primeira entrevista após o anúncio e falou sobre sua infância, o nervosismo de se expor ao mundo e sua vida atualmente.
Elliot contou que, aos nove anos, convenceu sua família a deixá-lo cortar o cabelo curto e a sensação foi ótima: “Eu me senti como um menino”, diz Page. “Eu queria ser um menino. Eu perguntava para a minha mãe se eu poderia ser [um menino] um dia”.
Atualmente, Elliot é conhecido por seu papel na série da Netflix, "The Umbrella Academy". Ele contou que, justamente por estar em uma produção tão grande, teve sentimentos conflitantes antes de fazer o famoso post. Ele imaginava que receberia muito amor e apoio, mas também muito ataque e transfobia, e foi exatamente o que aconteceu. Na época, ele virou um dos assuntos mais comentados do Twitter e ganhou 400 mil seguidores em um dia.
Porém, antes de dizer que é trans, o ator já havia falado, em 2014, que era homossexual — contudo, na época ele ainda se apresentava como mulher, então essa afirmação não é mais válida hoje em dia. A decisão de assumir a sexualidade e não o gênero, segundo ele, foi tomada por medo de prejudicar sua carreira.
Quando o post nas redes sociais foi feito, Elliot ainda estava se recuperando de sua cirurgia da retirada das mamas. Como muitas pessoas, porém, Page enfatiza que ser trans não significa apenas cirurgia. Para algumas pessoas, é desnecessário. Para outros, é inacessível. Mas Page descreve a cirurgia como algo que, para ele, tornou possível finalmente se reconhecer quando se olha no espelho, proporcionando o prazer pelo qual ele esperava desde o "inferno total" da puberdade. “Isso transformou completamente a minha vida”, diz ele. Grande parte de sua energia foi gasta em sentir-se desconfortável com o corpo, revela Page. Agora ele tem essa energia de volta.
A psicóloga Desiree Cordeiro explica que muitas pessoas trans vivenciam a disforia de gênero, ou seja, sintomas de ansiedade ou depressão associados ao desconforto com o próprio gênero e o próprio corpo. Por isso, em homens trans, a presença dos seios, também chamados de “intrusos”, pode trazer muito incômodo.
Para ela, a cirurgia tem um alto impacto na saúde mental e na vida social das pessoas: "Na minha experiência, o que eu vejo é que, quando as pessoas fazem, elas têm uma melhora de saúde mental. Elas conseguem se socializar mais, se posicionar mais. Elas se sentem mais seguras de si".
Porém, apesar de ter vantagens para a saúde mental, a psicóloga comenta que na preparação para a cirurgia, é importante lembrar que, assim como qualquer outra, essa também possui seus riscos. “Qualquer cirurgia é considerada de risco por conta do processo de anestesia geral. É necessário fazer uma avaliação física e clínica, para ver se essa pessoa tem condições de fazer o procedimento. Além disso, é importante que as pessoas tenham noção do que pode acontecer na cirurgia. Às vezes, a expectativa precisa ser trabalhada. A cirurgia pode não ficar do jeito imaginado, o que leva a uma frustração, que tem que ser tratada em terapia antes”.
