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Depressão após os 40 anos pode ser sinal precoce de demência?

Transtornos de humor podem surgir anos antes do aparecimento da demência - iStock
Transtornos de humor podem surgir anos antes do aparecimento da demência - iStock

Redação Publicado em 16/06/2025, às 10h00

Algumas pessoas apresentam sintomas de transtornos de humor, como depressão e transtorno bipolar, pela primeira vez apenas por volta dos 40 anos ou depois. Além do impacto à qualidade de vida, algumas pesquisas mostram que pessoas que apresentam esses transtornos pela primeira vez em idade avançada podem apresentar maior risco de desenvolver demência.

Um desses trabalhos foi conduzido pelo pesquisador e médico Keisuke Takahata, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Quântica do Japão. Publicado no periódico Alzheimer’s & Dementia, o estudo mostra que pessoas com transtornos de humor em idade avançada apresentam maiores quantidades das proteínas beta-amiloide e tau no cérebro (presentes também na doença de Alzheimer e em outros quadros degenerativos), quando comparadas a pessoas sem problemas de saúde mental de início tardio.

Proteínas no cérebro

Ele e sua equipe também descobriram que esses níveis anormais de proteínas cerebrais podem ser detectados anos antes do aparecimento dos primeiros sintomas tradicionais de demência.

Para este estudo, os pesquisadores recrutaram 99 participantes adultos — sendo que 52 participantes tinham problemas de saúde mental que começaram com mais de 40 anos e 47 participantes atuaram como controles saudáveis ​​da mesma idade.

Os participantes foram submetidos a tomografias por emissão de pósitrons (PET) usando dois marcadores diferentes para detectar a presença das proteínas beta-amiloide e tau no cérebro.

Além disso, os cientistas analisaram amostras de tecido cerebral de 208 casos de autópsia de diversas doenças neurodegenerativas.

Na conclusão do estudo, os pesquisadores descobriram que cerca de 50% dos participantes com transtornos de humor de início tardio apresentavam acúmulo de tau e 29% apresentavam depósitos amiloides, contra 15% e 2%, respectivamente, no grupo controle.

Anos antes dos sintomas

Isso sugere, segundo o autor, que os transtornos de humor podem surgir muitos anos antes que os sintomas típicos da demência sejam reconhecidos.

“Em outras palavras, sintomas psiquiátricos como depressão ou mania podem ser os primeiros indicadores clínicos de um processo neurodegenerativo em andamento. Reconhecer essa possibilidade pode ajudar a mudar a mentalidade clínica para considerar a demência no diagnóstico diferencial de transtornos de humor de início recente em idosos”, comentou Takahata ao site MedicalNewsToday.

Takahata e sua equipe também descobriram que essas quantidades anormais de proteína podiam ser detectadas anos antes do aparecimento dos sintomas cognitivos tradicionais, com os sintomas de humor precedendo os sintomas cognitivos ou motores em uma média de 7,3 anos em casos de autópsia.

Janela de oportunidade

Essa descoberta sugere que os sintomas de humor podem aparecer bem antes do início clínico da demência, às vezes por mais de sete anos. Para o pesquisador,  isso pode dar aos médicos uma janela de oportunidade para atuar.

“Essa perspectiva tem implicações importantes para o diagnóstico precoce e o monitoramento proativo de indivíduos em risco.”

Isso também ressalta, segundo ele, a potencial utilidade dos biomarcadores PET na identificação de indivíduos em risco em um estágio muito mais precoce — talvez até mesmo antes de atenderem aos critérios de comprometimento cognitivo leve.

Takahata diz que agora pretende acompanhar indivíduos com transtornos de humor na terceira idade ao longo do tempo, com ajuda de imagens PET longitudinais com marcadores tau e amiloide. A ideia rastrear a evolução dos sintomas para determinar quais pacientes podem, ou não, estar numa fase prodrômica, ou seja, que aparece antes do surgimento de uma doença – no caso, a demência.

Prevenção da demência

Estudos indicam que o risco de demência é maior em pessoas com fatores de risco modificáveis, como hipertensão, sedentarismo, diabetes, obesidade, hiperlipidemia, má alimentação, tabagismo, solidão, uso excessivo de álcool, distúrbios do sono e perda auditiva.

Dessa forma, medidas como controle da pressão arterial, dos níveis de açúcar no sangue e do colesterol, bem como a diminuição do uso de tabaco e álcool, o aumento da prática de atividades físicas, a ingestão de alimentos ricos em antioxidantes (como frutas e verduras) e as conexões sociais podem diminuir o risco de demência futura.