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Dentes de leite podem ajudar a identificar risco de transtornos mentais

Os dentes decíduos, também conhecidos como dentes de leite, são menores e mais brancos do que os permanentes - iStock
Os dentes decíduos, também conhecidos como dentes de leite, são menores e mais brancos do que os permanentes - iStock

Redação Publicado em 10/11/2021, às 18h30

Um dente de leite seria capaz de ajudar a identificar o risco que uma criança tem de apresentar transtornos mentais mais tarde na vida. É o que sugere um novo estudo da Universidade de Bristol (Inglaterra) e publicado no periódico JAMA

A equipe analisou 70 dentes decíduos, popularmente conhecidos como dentes de leite, coletados de 70 crianças de cinco a sete anos. Os pais doaram os dentes (especialmente os caninos) que caíram naturalmente da boca das crianças.

Para os pesquisadores, os resultados deste estudo podem levar ao desenvolvimento de uma ferramenta para identificar crianças expostas a adversidades no início da vida, fator de risco para problemas psicológicos, permitindo que sejam monitoradas e orientadas para tratamentos preventivos.

Influência do estresse nos dentes

Sofrer adversidades na infância, segundo pesquisas anteriores, é responsável ​​por até um terço de todos os transtornos mentais. Entretanto, ainda faltam ferramentas eficazes para medir esse fator. 

Perguntar às pessoas (ou aos pais) sobre experiências dolorosas nos primeiros anos de vida, por exemplo, é um método utilizado, mas vulnerável à memória fraca ou à relutância em compartilhar lembranças difíceis.

Diante desse contexto, os autores resgataram uma prática recorrente nos estudos de antropologia: analisar os dentes das pessoas de épocas passadas para aprender sobre suas vidas.

Confira:

A exposição a fontes de estresse físico, como má nutrição ou doenças, é capaz de afetar a formação do esmalte dentário e resultar em linhas de crescimento acentuadas dentro dos dentes, chamadas de linhas de estresse, que são semelhantes aos anéis de uma árvore que marcam sua idade. 

Da mesma forma como a espessura desses anéis pode variar de acordo com o clima ao redor da árvore, acredita-se que as linhas de crescimento dos dentes também podem mudar de acordo com o ambiente e as experiências que a criança tem no útero e, logo depois, durante o momento de formação dos dentes. 

Assim, foi desenvolvida a seguinte hipótese: a largura de uma variedade em particular, chamada de linha neonatal (NNL) pode servir como um indicador se a mãe de um bebê experimentou altos níveis de estresse psicológico durante a gravidez (quando os dentes já estão se formando) e no período após o nascimento.

Mais grossos vs. mais finos

Para testar essa hipótese, os pesquisadores analisaram a largura do NNL através de microscópios. As mães, por sua vez, responderam a questionários durante e logo após a gravidez sobre quatro fatores que potencialmente afetam o desenvolvimento infantil:

  • Eventos estressantes no período pré-natal;
  • História materna de problemas psicológicos;
  • Qualidade da vizinhança (se o nível de pobreza era alto ou a família vivia em um ambiente inseguro, por exemplo);
  • Nível de apoio social.

Após a análise, as descobertas mostraram que crianças cujas mães tiveram histórias de depressão severa ou outros problemas psiquiátricos ao longo da vida, bem como aquelas que experimentaram depressão ou ansiedade na 32ª semana de gravidez, eram mais propensas a terem NNLs mais espessos. 

Em contrapartida, os filhos de mães que receberam apoio social significativo logo após a gravidez apresentaram uma tendência a NNLs mais finos. Esses dados permaneceram intactos depois que os pesquisadores controlaram outros fatores conhecidos por influenciar a largura do NNL, incluindo a suplementação de ferro durante a gravidez, a idade gestacional (o tempo entre a concepção e o nascimento) e a obesidade materna.

De acordo com a equipe, ninguém sabe ao certo o que causa a formação do NNL, mas é possível que uma mãe com ansiedade ou depressão produza mais cortisol,conhecido como o "hormônio do estresse", que interfere nas células responsáveis por criar o esmalte. 

Para os pesquisadores, estudos com amostras maiores são necessários e os resultados podem ser usados ​​no futuro para identificar crianças que foram expostas a adversidades no início da vida, abrindo portas para conectá-las com intervenções e ajudar na prevenção de distúrbios mentais.

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