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Estudo mostra como orientação sexual relatada muda ao longo dos anos

No espaço de seis anos, 6,6% da população do Reino Unido mudou a orientação sexual relatada - iStock
No espaço de seis anos, 6,6% da população do Reino Unido mudou a orientação sexual relatada - iStock

Um estudo revela que uma em cada 15 pessoas com 16 anos ou mais no Reino Unido mudou a maneira como definem sua orientação sexual em um período de seis anos.

O trabalho, feito por cientistas da Universidade de Lancaster, naquele país, e da Universidade de Alberta, no Canadá, utilizou dados de uma pesquisa nacional para chegar aos resultados, publicados no periódico Demography.

De um total de 22.673 indivíduos que foram conectados duas vezes, em 2011-2013 e em 2017-2019, 6,6% mudaram sua orientação sexual relatada, que os autores do estudo chamam de “identidade sexual”.

Como a orientação sexual relatada varia

“A ideia de que a identidade sexual é fluida não é nova, mas, até agora, sabemos relativamente pouco sobre o quão fluida ela é na população e como a fluidez varia entre diferentes grupos demográficos”, diz o principal autor, o professor Yang Hu.

As principais descobertas do estudo mostram que a mobilidade da orientação sexual relatada:

- é maior entre os jovens de 16 a 24 anos (7,9%) e entre os idosos de 65 anos ou mais (7,4%), em comparação com os de 25 a 64 anos (5,0 a 6,2%).

- é menos provável entre os homens (5,7%) do que entre as mulheres (6,3%).

- é três vezes mais provável entre indivíduos de minorias étnicas não brancas (15,5%) do que entre pessoas brancas (5,0%).

- é mais provável entre indivíduos de níveis de educação mais baixos.

- é mais prevalente entre aqueles que se identificam como bissexuais, têm outras identidades sexuais e preferem não revelar sua identidade, em comparação com aqueles que se identificam como heterossexuais, gays ou lésbicas.

Fluidez sexual não é comum só entre jovens

As descobertas também desafiam a suposição de que a mobilidade da identidade sexual diminui ao longo da vida. Na amostra analisada, a mobilidade é tão prevalente entre os maiores de 65 anos quanto entre os jovens de 16 a 24 anos.

Segundo Hu, a taxa de mobilidade relativamente alta entre os idosos é em grande parte impulsionada pelo fato de renunciarem à relutância em revelar sua identidade sexual.

Parcerias interferem na forma de se identificar

A pesquisa não explorou as razões para a mobilidade, que são complexas, mas o autor acredita que as mudanças na forma de se identificar estão intimamente associadas a mudanças no status de parceria e no sexo do parceiro.

As pessoas que passaram para um relacionamento do mesmo sexo têm cerca de 7 vezes mais chances (43,3% vs. 5,9%) de mudar sua orientação sexual relatada para “gays” ou “lésbicas” do que aquelas que não passaram por tais mudanças de relacionamento.

Políticas precisam levar isso em conta

As descobertas da pesquisa destacam a importância de capturar a identidade sexual como fluida em vez de fixa nas principais iniciativas de coleta de dados, e instam os governos e profissionais a incorporar a fluidez sexual como uma consideração fundamental na formulação de políticas e em seu trabalho com populações de minorias sexuais.

“Uma gama crescente de políticas sociais, de saúde pública e programas de bem-estar são lançados para apoiar a igualdade e o bem-estar de indivíduos de minorias sexuais”, diz Hu. “Nossas descobertas mostram que a população de minorias sexuais não é estática, e identidades e parcerias podem mudar ao longo da vida das pessoas."

O Censo do Reino Unido começou a coletar dados sobre a orientação sexual das pessoas em 2021, e muitos outros países estão se movendo para coletar dados sobre populações de minorias sexuais, incluindo o Censo dos EUA de 2020. No Brasil, uma liminar que obrigava a inclusão de perguntas sobre orientação sexual e identidade de gênero no Censo 2022 foi derrubada pela Justiça Federal do Acre.  

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Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin