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Colocar a raiva para fora não é uma boa ideia, diz estudo

Extravasar a raiva com chutes ou socos pode não ser uma boa ideia para aplacar a emoção - iStock
Extravasar a raiva com chutes ou socos pode não ser uma boa ideia para aplacar a emoção - iStock

Muita gente acredita que gritar, xingar, sair correndo ou bater em almofadas ajuda a colocar a agressividade para fora e se acalmar em situações de raiva intensa. Mas uma pesquisa recente indica que essas estratégias não são eficazes. 

Pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio analisaram mais de 150 estudos, que envolveram mais de 10 mil participantes, para descobrir o que realmente funciona para reduzir a raiva. Contrariando a opinião popular, os resultados mostraram que extravasar não ajuda as pessoas a se sentirem menos irritadas porque aumenta a excitação fisiológica.

Em entrevista à Newsweek, a pesquisadora Sophie Kjærvik, que liderou a pesquisa na Universidade de Virginia Commonwealth, explica que a excitação fisiológica significa aumento da frequência cardíaca, pressão arterial, taxa de respiração, tensão muscular etc. Essas respostas preparam o corpo para a ação.

"Quando as pessoas se sentem com raiva, seu corpo passa por mudanças fisiológicas como parte da resposta de luta ou fuga. Em outras palavras, o corpo está se preparando para enfrentar a ameaça percebida. Por exemplo, a tensão muscular prepara o corpo para o movimento, permitindo reações rápidas e assertivas."

Respirar e contar é melhor

A chave para se sentir mais calmo e menos irritado é justamente o contrário, ou seja, diminuir a excitação fisiológica, segundo os pesquisadores. Em vez de desabafar, técnicas para reduzir o estresse—como respiração profunda, meditação, atenção plena, yoga e contar até 10—ajudam a reduzir a raiva.

"A teoria da catarse sugere que colocar a raiva para fora pode proporcionar uma liberação de emoções reprimidas. No entanto, desabafar pode reduzir temporariamente a tensão e proporcionar uma sensação de satisfação, levando a um aumento da excitação", disse Kjærvik. "Expressar raiva (bater e chutar, por exemplo) também envolve ações físicas que contribuem para um aumento da excitação no corpo."

Atividades como correr, nadar e bater em um boneco ou saco de pancadas, quando usadas para dissipar a raiva, segundo o estudo, pioram as coisas justamente porque aumentam a excitação, o que, por sua vez, ajuda a reforçar os sentimentos de frustração.

No entanto, os pesquisadores descobriram que adicionar um elemento de diversão à atividade física—como esportes com bola—pode ajudar a diminuir a excitação.

Destruir objetos não ajuda

A revisão foi inspirada pela crescente popularidade das chamadas "salas de raiva", onde as pessoas podem extravasar sua raiva destruindo objetos.

"Acho muito importante derrubar o mito de que se você está com raiva deve extravasar—desabafar", disse o autor sênior Brad Bushman, professor de comunicação da Universidade Estadual de Ohio. "Extravasar a raiva pode parecer uma boa ideia, mas não há um pingo de evidência científica para apoiar a teoria da catarse."

Um estudo de 2013 publicado no Journal of Social and Clinical Psychology descobriu que pessoas que agiram agressivamente depois de serem provocadas se sentiram melhor imediatamente depois. No entanto, essa catarse foi de curta duração, e elas tinham mais tendência a responder com agressão no episódio seguinte de raiva. 

No estudo atual, atividades de diminuição da excitação foram consideradas mais eficazes para aplacar a fúria. Por exemplo, relaxamento, meditação, relaxamento muscular progressivo e "dar um tempo" foram estratégias mais bem-sucedidas para diminuir a raiva em estudantes universitários, não estudantes e em pessoas com ou sem histórico criminal.

As descobertas completas da pesquisa foram publicadas no periódico Clinical Psychology Review.

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin