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Câncer: terapia de prótons "apagou" tumor cerebral em criança

Técnica pode ser usada para tratar vários cânceres, principalmente quando opções de tratamento são limitadas - iStock
Técnica pode ser usada para tratar vários cânceres, principalmente quando opções de tratamento são limitadas - iStock

Redação Publicado em 02/08/2021, às 11h00

Doenças oncológicas, principalmente as neuro-oncológicas (os tumores no cérebro), são de difícil tratamento, mas uma nova técnica promete dar mais esperanças aos pacientes e profissionais da saúde. Trata-se da terapia de prótons, considerada a forma de radioterapia mais avançada.

Essa terapia usa feixes de prótons com alto conteúdo de energia para radiar tumores em vez de fótons, como é feito na terapia de radiação tradicional. O tratamento tem alta precisão, entregando doses altas de radioterapia no volume-alvo e reduzindo a dose espalhada nos tecidos adjacentes. Portanto, a técnica tem menores efeitos colaterais, uma vez que produz menos danos aos tecidos sadios em volta do tumor.

“Graças às vantagens, essa terapia de prótons é uma esperança interessante e pode ser usada para tratar vários cânceres, principalmente em situações nas quais as opções de tratamento são limitadas e a radioterapia convencional com feixes de fótons apresenta riscos inaceitáveis para os pacientes, incluindo os casos de cânceres cerebrais, de cabeça, pescoço, próstata e pulmão”, explica Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (Snola).

O médico comenta que, recentemente, uma criança equatoriana de sete anos chamada Ahinara teve o sarcoma cerebral (um tipo de tumor) completamente eliminado após viajar para Madri (Espanha) com a família a fim de iniciar o tratamento na Unidade de Terapia de Prótons que a Clínica Universitária de Navarra mantém em sua sede.

Menos efeitos secundários

Segundo Batistella, ao contrário do que ocorre com o tratamento de radioterapia convencional, o feixe de próton visa diretamente o tumor e não o ultrapassa na direção de tecidos cerebrais saudáveis. Por esse motivo, os pacientes têm menos efeitos secundários. Esse tratamento é novo, mas não está disponível em todos os lugares. No mundo todo, estima-se que existam apenas 107 unidades que utilizam a tecnologia da terapia de prótons, em apenas 20 países.

O motivo é o preço, uma vez que o acelerador de partículas de prótons é diferente dos aceleradores lineares que geram fótons. O custo de instalação é mais caro, bem como a operação e a manutenção.” Batistella conta que é esperado que essa realidade possa ser revertida em um futuro próximo.

Trata-se de um tratamento importante, principalmente no caso de tumores pediátricos, já que a maioria dos tumores infantis são cerebrais e, quando as crianças sobrevivem ao câncer, ficam com sequelas, por conta dos tratamentos. “Essa terapia é menos tóxica. A radiação que atinge os vasos, artérias e sangue é minimizada, o que ajuda a proteger o sistema imunológico do paciente”, explica o neuro-oncologista.           

No caso da menina Ahinara, foram 30 sessões até eliminar completamente o tumor. O disparo dos feixes de prótons é rápido, levando em média um minuto, mas a preparação para o disparo é o que mais conta nesse tipo de tratamento: o posicionamento do corpo na máquina para realizar o disparo certeiro pode levar até meia hora.

“No caso de crianças, para que não se mexam no momento do disparo, é possível usar anestesia com gases. Mas esse procedimento não dói”, diz o médico. Na América do Sul, a Argentina prepara um centro construído em Buenos Aires especificamente para aplicação dessa terapia, o que pode ser esperança para muitos pacientes que atualmente viajam aos Estados Unidos para fazer esse tipo de tratamento.

Em 2017, foi registrado e liberado pela Anvisa o primeiro sistema de protonterapia no Brasil; porém, até agora, talvez pelos altos custos, nenhuma entidade, pública ou privada, oferece o tratamento no país.