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Câncer de mama e obesidade: entenda a relação

Excesso de gordura corporal provoca um estado de inflamação crônica e aumento nos níveis de determinados hormônios - iStock
Excesso de gordura corporal provoca um estado de inflamação crônica e aumento nos níveis de determinados hormônios - iStock

Redação Publicado em 19/10/2022, às 13h00

Segundo dados apontados pelo Atlas Mundial da Obesidade 2022, material publicado pela Federação Mundial de Obesidade (World Obesity Federation), a obesidade deve atingir quase 30% da população adulta brasileira em 2030. O Brasil ainda está entre os países com maiores índices de obesidade no mundo. Esse levantamento prevê também que um bilhão de pessoas no mundo viverão com obesidade em 2030, e isso representa 17,5% de toda a população adulta.

Entre os diversos problemas que são acarretados por essa doença crônica estão a sobrecarga do sistema ósseo e articular, o que ocasiona uma série de problemas ortopédicos, além de outros problemas de saúde, como pressão alta, diabetes, gota, asma, aumento de colesterol, dor de cabeça e 13 tipos de câncer.

Entre eles está o câncer de mama, que já é o mais comum entre as mulheres, atingindo 12% da população feminina em alguma etapa da vida adulta. Os outros tipos são encontrados no rim, fígado, pâncreas, ovário, tireoide, estômago, esôfago, cólon e reto, entre outros. E para reforçar os cuidados e prevenção, a campanha do Outubro Rosa reforça a importância do autoexame como forma de prevenir o câncer de mama.

Em 2017, o Inca (Instituto Nacional do Câncer) já alertava que um dos principais riscos para o desenvolvimento de câncer no Brasil era o excesso de peso corporal: “Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 13 em cada 100 casos de câncer no nosso país são atribuídos ao sobrepeso e à obesidade”. O texto também citava que o excesso de gordura corporal provoca um estado de inflamação crônica e aumentos nos níveis de determinados hormônios, que promovem o crescimento de células cancerígenas, aumentando as chances de desenvolvimento da doença, segundo os pesquisadores.

Alimentos ultraprocessados e obesidade

"A epidemia de obesidade está diretamente relacionada à transição alimentar em curso no país. Os brasileiros, infelizmente, estão trocando os alimentos frescos e as formas tradicionais de preparo das refeições por alimentos processados e ultraprocessados. No lugar do feijão com arroz, saladas, frutas e suco naturais, consumimos, cada vez mais, fast food, refrigerantes e sucos e refeições industrializados”, trazia o texto.

De acordo com Andrea Pereira, médica nutróloga do Departamento de Oncologia e Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein e cofundadora da ONG Obesidade Brasil, atualmente são 41 milhões de brasileiros com obesidade. Ela explica que é extremamente necessário que as pessoas mantenham um peso saudável, uma alimentação balanceada e pratiquem atividade física regularmente. Essa é a melhor receita na prevenção, durante e no pós-tratamento do câncer e da obesidade.

Andrea acrescenta que a obesidade traz um aumento da incidência de câncer e também de recidiva, que é a volta de um tumor; além de causar aumento dos casos de mortalidade, aproximadamente 14% em homens e mais de 20% em mulheres; ocasionar uma pior resposta ao tratamento oncológico, um maior risco de complicações pós-operatórias, com risco de infecção e linfedema, maior incidência de comorbidades em sobreviventes, como fadiga e neuropatia, e um maior risco de aparecimento de um segundo tumor.

A amamentação está entre as formas de diminuição dos riscos do câncer de mama. E para prevenir esse e outros tipos da doença é recomendado:

  • diminuir o consumo de sal, embutidos, alimentos processados e ultraprocessados: o excesso de sal e gordura, corantes, conservantes e aditivos presentes nesses produtos aumentam o risco de câncer.
  • bebidas açucaradas, principalmente refrigerantes e sucos de caixinha, que levam a ganho de peso.
  • minimizar o consumo de bebida alcoólica: o álcool leva a alterações celulares mutagênicas e hormonais, aumentando o risco de câncer.
  • não fumar: de acordo com a revista Breast Cancer Research, mulheres que fumam têm um risco particularmente maior de contrair câncer de mama, uma vez que o cigarro afeta as vias hormonais durante o desenvolvimento mamário.
  • não ultrapassar o consumo de 500g de carne vermelha por semana: o preparo de carne vermelha em altas temperaturas libera substâncias potencialmente cancerígenas, além disso tem um maior teor de gordura do que na carne branca, porque apresenta gordura entre as fibras.
  • comer mais frutas, verduras e legumes: as características antioxidantes e as fibras presentes nas frutas e hortaliças reduzem o risco de câncer.
    manter um peso saudável, com IMC< 30 kg/m2, uma vez que a obesidade aumenta o risco de câncer.
  • praticar atividade física regularmente: o exercício melhora a resposta imunológica e reduz as chances de alterações mutagênicas.

Após avaliação de um profissional, a cirurgia bariátrica pode ser uma forma de tratamento da obesidade. “Por meio da cirurgia bariátrica conseguimos fazer o tratamento da obesidade aliados a outras medidas, e com o peso controlado, as chances do aparecimento de câncer e outras doenças também são reduzidas”, afirma o cirurgião bariátrico Carlos Schiavon, Coordenador de Ensino e Pesquisa do Núcleo de Obesidade e Cirurgia Bariátrica da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo e cofundador da ONG Obesidade Brasil.

Em 2019, o Inca fez outro alerta sobre o tema: “Com base no reconhecimento de que a prevenção e o controle do sobrepeso e obesidade não serão resolvidos por meio de ações individuais e, ainda, diante da necessidade urgente de agir agora para reduzir a exposição da população brasileira, especialmente as crianças, a esse fator de risco para o câncer, o Inca manifesta seu posicionamento frente à crescente epidemia de excesso de peso corporal cumprindo seu papel de disseminar conhecimentos baseados em evidências e apoiar políticas e ações que contribuam com a redução da incidência e mortalidade por câncer no Brasil”.

A psicóloga Andrea Levy, presidente da ONG Obesidade Brasil, reforça a importância da educação e do esclarecimento sobre essa doença crônica que afeta milhões de pessoas no mundo todo. Segundo Andrea, o preconceito com a obesidade ainda é uma das grandes barreiras na busca do tratamento, que engloba diferentes frentes, como reeducação alimentar, prática regular de atividade física, medicação, acompanhamento psicológico e cirurgia bariátrica. “Muitas pessoas não veem a obesidade como doença e a relacionam à falta de força de vontade, falha de caráter ou algo facilmente controlável, o que não é verdade”, conclui ela.

Fontes: Inca / Instituto Obesidade Brasil

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