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Violência nos relacionamentos aumenta riscos cardíacos, diz estudo

A violência psicológica é praticada para diminuir a autoestima, manipular e controlar a vítima - iStock
A violência psicológica é praticada para diminuir a autoestima, manipular e controlar a vítima - iStock

Vivenciar um encontro violento pelo menos uma vez com um parceiro íntimo ou membro da família pode aumentar o risco de um jovem adulto ter um ataque cardíaco, acidente vascular cerebral (AVC) ou uma internação por insuficiência cardíaca anos depois. Esses são dados de pesquisas preliminares realizadas pela American Heart Association (AHA).

Para o estudo, a equipe coletou informações sobre internações e procedimentos médicos ambulatoriais durante exames de rotina e consultas anuais com o objetivo de explorar se a exposição passada à violência de parceiros íntimos estava ligada à saúde cardiovascular futura; e, também, como essas associações podem se manifestar ao longo da vida.

Foram avaliados dados do Coronary Artery Risk Development in Young Adults Study (CARDIA), um estudo de longo prazo que começou em 1985, com mais de 5.000 adultos negros e brancos, com idades entre 18 e 30 anos. Cada participante foi convidado a ter consultas de acompanhamento a cada dois a cinco anos. 

Além disso, a pesquisa cruzou essas informações com as de questionários preenchidos em 1987 e 1988 por mais de 4.300 pessoas para avaliar a exposição à violência doméstica. Essa fase do levantamento perguntou aos indivíduos com que frequência no último ano eles haviam se envolvido em uma discussão violenta com parceiro íntimo, familiares, pessoas conhecidas ou desconhecidos. 

34% mais chances de ter um evento cardiovascular

Com os dados em mãos, os pesquisadores encontraram os seguintes resultados:

  • As pessoas que relataram pelo menos uma exposição à violência de parceiros íntimos no último ano no início do estudo também apresentaram maior consumo de álcool (16 milímetros/dia);
  • Quem sofreu violência também foi mais propenso a relatar depressão (8,3% para exposição versus 6,0% em nenhuma exposição);
  • 62% dos participantes que relataram ter sofrido violência de parceiros íntimos eram adultos negros e 38% eram adultos brancos;
  • A exposição à violência de parceiros íntimos ou à violência familiar esteve associada a, pelo menos, um risco 34% maior para eventos cardiovasculares e pelo menos um aumento de 30% no risco de morte por qualquer causa ao se ajustar à idade, sexo e raça;
  • Ter mais de um episódio violento com um parceiro íntimo no último ano também aumentou o risco de morte em 34% de qualquer causa após ajuste adicional para fatores de risco cardiovasculares;
  • O risco aumentado de morte foi de 59% entre aqueles que relataram que o episódio violento envolveu um membro da família que não fosse um cônjuge/amante; 34% se o episódio envolvia outra pessoa que conhecia e 26% envolvia alguém que não conhecia.

Para os pesquisadores, a associação entre os dois problemas (violência e risco cardiovasculares) enfatiza a importância de intervenções e triagem de rotina por parte da equipe médica para monitorar mais de perto pessoas que vivenciaram uma situação violenta e que apresentam um risco aumentado de eventos cardiovasculares no futuro. 

Confira:

Lembre-se: violência não é só física

A violência não é caracterizada apenas por agressões físicas ou sexuais, podendo existir também em âmbitos psicológico, moral e patrimonial. Veja outros sinais comuns de violência:

  • Agressão física;
  • Agressão verbal, como gritos, ameaças e ofensas;
  • Impedir que a pessoa veja amigos ou familiares ou que fique a sós com eles;
  • Ouvir que os amigos não gostam de você de verdade ou que a família age por interesse, sendo estimulada a se afastar de todos;
  • Ser chamada de burra, feia, incompetente, o que leva à perda da sua autoestima aos poucos;
  • Ter relações sexuais exigidas ou forçadas;
  • Ter seu dinheiro controlado ou pouco acesso ao dinheiro familiar;
  • Ser chamada de louca depois de uma briga, como se tudo tivesse sido imaginação;
  • Viver um período romântico e sem brigas após um período de agressões;
  • Sofrer ameaças (pessoais ou para família e amigos);
  • Ser acusada de culpada pelas próprias violências que sofreu (ouvindo frases como “você me deixou nervoso,” “você provocou”, “você fez X coisa”);
  • Quando fala em terminar o relacionamento ou contar sobre a violência a alguém, por exemplo, ter que lidar com ameaças de suicídio (ou tentativas);
  • Ter suas coisas quebradas;
  • Vivenciar situações de perigo (como companheiro dirigindo de maneira perigosa ou ter uma briga em que o companheiro estava armado, por exemplo).

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Milena Alvarez

Milena Alvarez

Caiçara e jornalista de saúde há quatro anos. Tem interesse por assuntos relacionados a comportamento, saúde mental, saúde da mulher e maternidade. @milenaralvarez