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Trombofilia: desconhecimento pode levar a condições graves

Condição aumenta o risco de formação de coágulos sanguíneos - iStock
Condição aumenta o risco de formação de coágulos sanguíneos - iStock

Trombose, embolia pulmonar e acidente vascular cerebral (AVC) são emergências médicas que podem ser fatais em alguns casos. Mas algumas pessoas podem ter um risco maior de enfrentar essas situações sem saber, por terem uma condição chamada de trombofilia, que aumenta a propensão à formação de coágulos sanguíneos.

“A trombofilia é uma condição caracterizada por uma maior tendência do indivíduo a sofrer com trombose devido a uma circulação prejudicada, o que favorece a formação dos coágulos sanguíneos no interior das veias. Pode ou não ser de origem genética”, explica a cirurgiã vascular Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.

Condição silenciosa 

No Brasil, estima-se que entre 10% e 15% da população possa ter algum tipo de trombofilia. Mas é essencial destacar que nem todos os acometidos desenvolvem trombose ou alguma outra complicação.

Porém, a condição é com frequência silenciosa, e algumas pessoas são a descobrem após sofrer um evento trombótico ou abortos de repetição, por exemplo.

Atenção ao histórico

É por isso que, segundo a médica, pessoas com antecedentes pessoais ou histórico familiar de abortos, trombose ou trombofilia na família mantenham um acompanhamento vascular.

“Episódio de trombose antes dos 45 anos de idade sem um fator desencadeante, como imobilização ou trauma, abortos de repetição e formação de trombos em locais não usuais, como nas veias abdominais, também são indicadores da trombofilia”, diz a médica.

Diagnóstico nem sempre acessível

“Além do histórico médico detalhado do paciente, o médico poderá solicitar alguns exames de sangue para verificar, por exemplo, alterações em genes e proteínas relacionados à capacidade de coagulação do sangue”, acrescenta.

O diagnóstico é feito por meio de um painel de exames de sangue que avaliam tanto alterações genéticas quanto adquiridas relacionadas à coagulação. Os exames mais comuns incluem a pesquisa de mutações como fator V de Leiden, mutação da protrombina, deficiências de proteínas C, S e antitrombina, além do anticoagulante lúpico e anticorpos antifosfolípides.

A médica relata que, no SUS, o acesso a esses exames é bastante restrito e, normalmente, só é autorizado em contextos muito específicos, como investigação de trombose em pacientes internados. Já nos planos de saúde, a cobertura costuma depender da justificativa clínica, eles tendem a negar quando o pedido é feito de forma preventiva.

Embora qualquer médico teoricamente possa solicitar, o ideal é que a indicação seja feita por um especialista, como cirurgião vascular ou hematologista, com base em histórico familiar ou eventos prévios que justifiquem a investigação.

Sintomas de um coágulo

Segundo a especialista, caso um coágulo chegue a se formar, os sintomas incluem:

  • inchaço repentino e duradouro, principalmente nos membros inferiores;
  • dor constante;
  • mudança de coloração;
  • e aumento de temperatura no local.

“Esses casos exigem tratamento de urgência para evitar que o quadro evolua, gerando complicações que podem ser fatais”, avisa.

Geralmente, o manejo de casos agudos envolve administração de anticoagulantes por via intravenosa e internação para acompanhar a dissolução desse trombo. Caso não seja tratado, esse coágulo pode se desprender da parede da veia e percorrer pela circulação até alcançar o pulmão ou o cérebro. “O resultado é a ocorrência de uma embolia pulmonar ou um AVC, que podem ser fatais.”

Tratamento e prevenção

Por sua vez, se confirmado o quadro de trombofilia, mesmo sem a formação de um coágulo, o tratamento deve ser contínuo, podendo variar dependendo do caso e envolver uso de medicamentos anticoagulantes e de meias de compressão, que comprimem os vasos sanguíneos, melhorando o retorno venoso e, consequentemente, prevenindo problemas vasculares.

Mas o mais importante é a adoção de um estilo de vida saudável, abandonando hábitos que figuram como fatores de risco para o problema. É recomendado:

  • parar de fumar e ingerir álcool
  • consumir bastante água
  • manter uma alimentação balanceada
  • realizar exercícios físicos regularmente
  • manter um peso saudável
  • evitar passar muito tempo na mesma posição.

Uso de anticoncepcionais 

Quando há histórico familiar de trombose, principalmente em idade jovem ou sem causa aparente, é prudente que o médico investigue antes de prescrever anticoncepcionais hormonais. Isso porque o estrogênio oral pode aumentar significativamente o risco de eventos trombóticos.

“Mesmo que os exames não estejam acessíveis, saber do histórico familiar já é motivo suficiente para repensar a escolha do método contraceptivo. Existem alternativas seguras e eficazes, como o DIU de cobre ou o DIU hormonal, que não têm o mesmo impacto sobre o risco de trombose, assim como pílulas sem estradiol”, comenta a médica.

E a reposição hormonal? 

Já em relação à reposição hormonal, a especialista acredita que é possível fazer, desde que com muita cautela e orientação médica especializada:

“Em mulheres, evitamos a via oral com estrogênio, optando por formas transdérmicas (adesivos ou géis), que têm menor risco trombótico. No caso dos homens, a testosterona também pode ser usada com monitoramento, mas dependendo do tipo de trombofilia e do histórico pessoal ou familiar de trombose, é necessário avaliar os riscos com cuidado.”

Ela reforça que o acompanhamento multidisciplinar é fundamental nesses casos para garantir segurança e resultados positivos.

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin