Redação Publicado em 09/10/2025, às 10h00
A depressão é um transtorno mental que também interfere na saúde física, afetando desde o sono até a imunidade. Agora, uma pesquisa traz um novo alerta: o transtorno também pode ter impacto nos resultados de uma cirurgia de câncer e nos custos pós-operatórios. O trabalho foi apresentado esta semana no congresso do Colégio Americano de Cirurgiões em Chicago, nos EUA.
Pesquisadores da Universidade do Estado de Ohio descobriram que pacientes com depressão são menos propensos a ter uma recuperação cirúrgica ideal. No entanto, aqueles tratados com antidepressivos apresentaram resultados melhores em várias áreas relacionadas à recuperação pós-cirúrgica.
“Tratar qualquer diagnóstico, especialmente um tão substancial e devastador quanto o câncer, requer compreender outros fatores de risco de saúde e sociais”, afirmou o estudante de medicina Erryk Katayama, autor principal do estudo.
“Entender como os problemas de saúde mental afetam os resultados pós-operatórios pode ajudar a criar planos de tratamento holísticos e individualizados, antecipar e prevenir complicações associadas e, em última instância, otimizar os desfechos dos pacientes.”
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Neste estudo retrospectivo, os pesquisadores analisaram um grande banco de dados do Medicare (programa que atende idosos norte-americanos) para identificar pacientes com câncer colorretal, hepatobiliar e pancreático que também foram diagnosticados com depressão 12 meses antes ou depois do diagnóstico de câncer. Os pesquisadores também identificaram quais pacientes tinham recebido prescrições de antidepressivos.
Em seguida, a equipe avaliou se esses pacientes tiveram um resultado pós-cirúrgico considerado ideal, ou seja, não apresentar complicações, não ter uma internação hospitalar prolongada, não ser readmitido no hospital em até 90 dias ou não falecer dentro de 90 dias após a cirurgia.
Entre 32.726 pacientes da amostra, 1.731 também foram diagnosticados com depressão. Desses, 1.253 haviam recebido prescrição de antidepressivos e 478 não.
Os pesquisadores constataram que pacientes com depressão, tratados ou não, tiveram pior recuperação pós-cirúrgica e custos mais elevados. No entanto, o uso de antidepressivos reduziu esses efeitos.
Embora pacientes sem depressão tenham apresentado os melhores resultados gerais, aqueles com depressão tratada tiveram desfechos melhores, menor tempo de internação e de readmissão hospitalar, além de menores taxas de mortalidade.
Pacientes sem depressão também apresentaram o menor custo de tratamento (US$ 17.551), seguidos pelos pacientes com depressão tratada (US$ 22.086, um aumento de 7,3%) e pelos pacientes com depressão não tratada (US$ 24.897, um aumento de 10,2%).
Os pesquisadores destacaram que estudos anteriores já mostraram que pacientes com depressão tendem a apresentar menor adesão ao tratamento médico. “O tratamento da depressão pode ajudar a mitigar seus efeitos, melhorar o autocuidado e a adesão ao tratamento”, comentou o médico Timothy Pawlik, autor sênior do estudo.
A inspiração para essa pesquisa surgiu durante a pandemia de Covid-19, que aumentou a conscientização sobre a importância da saúde mental. “Começamos a refletir sobre as implicações da saúde mental nos resultados cirúrgicos e sobre as necessidades sociais relacionadas à saúde”, disse Pawlik. Esses fatores incluíam insegurança alimentar, insegurança no emprego e violência doméstica.
Pawlik observou que os pesquisadores usaram as prescrições de antidepressivos como indicador de quem recebeu ou não tratamento, mas não consideraram se o paciente fazia terapia ou consultava um psiquiatra, o que configura uma limitação do estudo.
Mesmo assim, os resultados indicam a importância de realizar o rastreamento de depressão antes de uma cirurgia. Os pesquisadores também reforçaram a importância de os pacientes não negligenciarem sua saúde mental, especialmente quando estão prestes a passar por um procedimento cirúrgico.
“Estamos pedindo aos nossos pacientes que participem ativamente de seu próprio cuidado, porque isso os ajuda a estarem na melhor condição possível e no melhor estado que podem estar”, concluiu Pawlik.