A depressão é um distúrbio de saúde mental comum que afeta muitas pessoas em todo o mundo. Tratamentos eficazes estão disponíveis, mas não funcionam para todos, então algumas pessoas procuram suplementos dietéticos para tentar aliviar os sintomas. Mas eles têm algum efeito? O site norte-americano Medical News Today analisou as pesquisas mais recentes e perguntou a especialistas se os suplementos poderiam ser benéficos para pessoas com depressão.
Um estudo da Universidade de Oxford relatou que menos de 5% das pessoas com depressão e ansiedade têm acesso a medicação e terapia no Reino Unido. Além disso, cerca de 68% das pessoas não respondem ao tratamento antidepressivo de primeira linha e 15 a 30% não respondem após dois ensaios adequados. No Brasil, 80% das pessoas com depressão não tiveram acesso adequado a tratamentos necessários durante o ano de 2020, aponta o relatório Uma Nova Agenda para a Saúde Mental na Região das Américas, divulgado em junho último, pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Então, os suplementos dietéticos – vitaminas, minerais ou probióticos – podem ajudar a aliviar os sintomas ou aumentar a eficácia dos antidepressivos? Segundo Sebnem Unluisler, engenheira genética do London Regenerative Institute, existem algumas evidências sugerindo que certos suplementos dietéticos podem ter um efeito benéfico no alívio dos sintomas depressivos. No entanto, ela enfatiza que é importante observar que os suplementos não devem ser considerados um tratamento autônomo para a depressão, e sua eficácia pode variar entre os indivíduos.
As evidências dos benefícios dos suplementos variam amplamente, com alguns não mostrando nenhum benefício e estudos sugerindo que outros podem ter um efeito benéfico no tratamento da depressão. O estudo MooDFOOD, por exemplo, analisou suplementos e depressão em 1.000 pessoas com sobrepeso e obesidade com risco elevado de depressão. Em 2019, concluiu que a ingestão diária de suplementos nutricionais contendo ácido fólico, vitamina D, zinco e selênio não era melhor na prevenção de episódios depressivos maiores do que um placebo. Em vez disso, sugeriram que, para pessoas com sobrepeso e obesidade, a perda de peso e seguir uma dieta saudável, como a mediterrânea, poderia ajudar com os sintomas de depressão.
Alguns suplementos, no entanto, demonstraram aliviar os sintomas, principalmente quando usados como adjuvantes de outros tratamentos, como terapias psicológicas ou antidepressivos. Uma meta-análise de 2022 de 41 estudos sugeriu que a vitamina D pode beneficiar pessoas com depressão. Embora houvesse variação entre os estudos, em geral, 50 microgramas ou mais de vitamina D por dia foram mais eficazes do que um placebo no alívio dos sintomas de depressão.
Sebnem explicou por que a vitamina D pode ter um efeito positivo: essa substância pode influenciar a produção e regulação de neurotransmissores, como a serotonina, que desempenham um papel na regulação do humor. Além disso, os receptores de vitamina D estão presentes em regiões cerebrais associadas à depressão.
Outro estudo mostrou que altas doses de vitamina B6 podem ter um pequeno efeito benéfico na depressão. No entanto, o tamanho da amostra foi pequeno e a maioria das pessoas incluídas apresentava ansiedade autorrelatada, contra a qual o B6 foi mais eficaz, em vez da depressão.Estudos também sugeriram que o baixo teor de ferro pode acentuar os sintomas depressivos, com ligações observadas entre anemia e depressão.
Um estudo de 2016 encontrou uma associação significativa entre anemia por deficiência de ferro e depressão. A pesquisa sugere que o baixo teor de ferro altera o metabolismo da dopamina e também pode afetar os níveis de serotonina, os quais podem resultar em alterações de humor. A deficiência de ferro nem sempre causa anemia, mas ainda pode causar outros sintomas, incluindo depressão; portanto, para aqueles com baixos níveis de ferro e depressão, a suplementação de ferro pode ser benéfica.
Outros estudos analisaram o efeito de probióticos e prebióticos - alimentos e suplementos alimentares que melhoram o microbioma intestinal de uma pessoa. Pesquisas recentes destacaram a importância do eixo intestino-cérebro e os efeitos da microbiota intestinal no humor e na saúde mental.
Sebnem explica que prebióticos e probióticos podem modular a microbiota intestinal, que por sua vez pode influenciar a produção de neurotransmissores e outras moléculas de sinalização que afetam a função cerebral e o humor. Além disso, seus efeitos anti-inflamatórios podem contribuir para o potencial impacto na saúde mental. Uma revisão de estudos de 2019 concluiu que pre e probióticos podem ter algum benefício no tratamento da depressão.
Os pesquisadores sugerem que, enquanto se aguarda uma investigação mais aprofundada, esses suplementos dietéticos podem ser usados como tratamento adjuvante para pessoas com depressão. Agora, um estudo publicado em junho de 2023 fornece mais evidências de que os probióticos podem ajudar no tratamento da depressão. Embora tivesse um tamanho de amostra pequeno, este estudo duplo-cego de pessoas que não estavam respondendo ao tratamento antidepressivo encontrou uma clara melhora nos sintomas naqueles que tomavam probióticos.
No estudo de oito semanas, metade da amostra (24 pessoas) recebeu cápsulas 4 vezes ao dia contendo 14 probióticos diferentes. O restante recebeu cápsulas de placebo idênticas. Houve alguma redução nos sintomas de depressão em ambos os grupos, mas após 4 semanas de tratamento, o grupo probiótico mostrou uma resposta maior. Como o probiótico foi bem tolerado, sem efeitos adversos graves, os pesquisadores sugerem que pode ser uma terapia adicional útil para pessoas com transtorno depressivo maior.
Existem algumas evidências de que os suplementos podem ser úteis para pessoas com depressão, mas Thomas MacLaren, psiquiatra consultor da Re:Cognition Health, falou ao MNT que é importante que as pessoas não tomem suplementos como substitutos do tratamento médico de depressão. No entanto, eles podem ser considerados como uma abordagem complementar em conjunto com o tratamento médico, como medicação ou terapia.
Ele lembra que há pesquisas sobre o uso de suplementos para depressão em andamento e que estudos recentes forneceram resultados mistos, destacando a necessidade de mais investigações para determinar a eficácia e a segurança de suplementos específicos. Mesmo os suplementos naturais podem ter problemas de segurança, principalmente para aqueles que tomam outros medicamentos.
Estudos descobriram que o remédio herbal erva de São João pode ser tão eficaz quanto os ISRSs (inibidores seletivos da recaptação da serotonina) no tratamento de depressão leve a moderada, mas pode ter efeitos adversos semelhantes e não deve ser tomado com vários medicamentos comumente prescritos. Outros suplementos que mostraram algum benefício em estudos também podem ter efeitos adversos.
A vitamina D e a vitamina B6 podem ser tóxicas em altas doses e o excesso de ferro pode causar danos ao fígado. Assim, MacLaren aconselha as pessoas a estarem cientes dos possíveis efeitos colaterais, interações com medicamentos e da falta de evidências científicas suficientes que apoiem os benefícios dos suplementos para a depressão. Além de enfatizar: é crucial consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer novo suplemento.
Fonte: Medical News Today
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Cármen Guaresemin
Filha da PUC de SP. Há anos faz matérias sobre saúde, beleza, bem-estar e alimentação. Adora música, cinema e a natureza. Tem o blog Se Meu Pet Falasse, no qual escreve sobre animais, outra grande paixão. @Carmen_Gua
