Ter um relacionamento romântico estável não significa estar feliz 100% do tempo. Segundo um estudo recente, a satisfação dos parceiros com a relação pode variar muito, não apenas ao longo de vários dias, mas até no decorrer de um único dia.
Segundo pesquisadores, essas flutuações são bastante normais. Mas também podem indicar necessidades não satisfeitas no relacionamentos, e devem servir como ponto de partida para conversas importantes.
Para a maioria das pessoas, os relacionamentos românticos estão entre os mais importantes de suas vidas.
A satisfação no relacionamento desempenha um papel importante não apenas para a vida a dois em si, mas também para a saúde e a satisfação com a vida.
No mundo ocidental, no entanto, de 30% a 50% dos casamentos terminam em divórcio. E as taxas de separação entre casais não oficialmente casados são ainda maiores.
Na busca pelas causas raiz desse desenvolvimento, as pesquisas até o momento se concentraram principalmente na satisfação no relacionamento ao longo de meses e anos.
Por isso, uma equipe de pesquisadores de diverentes países decidiu adotar uma abordagem específica para determinar o grau de satisfação dos parceiros no curto prazo.
O trabalho envolveu pesquisadores da área de psicologia das Universidades Johannes Gutenberg Mainz e de Heidelberg, na Alemanha, além do Centro Alemão de Gerontologia. Ainda contou com equipes da Universidade da Basileia, na Suíça, e da Universidade Brigham Young, nos EUA. Os resultados foram publicados no Journal of Personality and Social Psychology.
A equipe avaliou dados de duas pesquisas individuais com casais que relataram sua satisfação individual com o relacionamento diariamente ou até mesmo várias vezes ao dia.
Ao todo, 593 casais participaram da primeira pesquisa e 150 casais integraram a segunda.
Os resultados da análise mostraram que os parceiros experimentam flutuações substanciais em termos de seu grau de satisfação com o relacionamento.
Essas flutuações tendem a ser maiores em períodos de vários dias do que em um único período de 24 horas.
Curiosamente, as oscilações para cima e para baixo no grau de satisfação relatado mostraram-se relativamente sincronizadas para ambos os parceiros ao longo do tempo.
Os pesquisadores, então, consideraram vários fatores possíveis que poderiam afetar o resultado, como idade, gênero, duração do relacionamento e estilo de apego.
A responsividade percebida do parceiro provou ser um parâmetro-chave para determinar o curso da satisfação, enquanto a instabilidade emocional dos parceiros masculinos também teve um efeito notável.
A autora principal Louisa Scheling resume os resultados desta parte do estudo da seguinte forma:
A percepção confiável e o atendimento das necessidades do parceiro contribuem significativamente para a satisfação estável no relacionamento na vida cotidiana. É semelhante a um relacionamento entre pais e filhos: se as necessidades são atendidas consistentemente, a satisfação se estabiliza em um nível alto."
As flutuações observadas na satisfação no relacionamento podem, a curto prazo, ser acompanhadas por pensamentos de separação.
A longo prazo, no entanto, essas oscilações têm apenas um efeito limitado no curso do relacionamento ao longo do tempo.
"É possível que as flutuações na satisfação no relacionamento tendam, em geral, a imitar a dinâmica atual do relacionamento entre os parceiros, em vez de prever o desenvolvimento futuro do relacionamento", acrescentou Scheling.
Para os pesquisadores, os resultados do estudo podem ajudar a apoiar casais e mostrar, por exemplo, que flutuações na satisfação no relacionamento são normais, mas podem servir como sinais de que há espaço para melhorias.
"Para que isso funcione, os parceiros precisam estar bem cientes de suas necessidades e ser capazes de expressá-las claramente", disse a psicóloga.
Em resumo, as flutuações na satisfação no relacionamento podem ser um bom ponto de partida para que os parceiros conversem sobre suas próprias expectativas e, ao mesmo tempo, tomem consciência das necessidades do parceiro, contribuindo assim para uma melhoria geral na qualidade do relacionamento.
Dr. Jairo Bouer
Médico psiquiatra com formação na Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), biólogo pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), e mestre em evolução humana e comportamento pela University College London, além de palestrante e escritor. Twitter: @JairoBouerDr
