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Infidelidade sexual tem a ver com insatisfação no casamento?

Estudo desafia a noção de que o sexo extraconjugal é reflexo de um casamento infeliz - iStock
Estudo desafia a noção de que o sexo extraconjugal é reflexo de um casamento infeliz - iStock

Pessoas que têm casos fora do casamento sentem pouco remorso e acreditam que trair não é algo que possa prejudicar seu relacionamento principal. Pelo menos é o que mostra um estudo feito com 2.000 usuários de um site especializado em relações extraconjugais, entrevistados antes e depois de terem casos.

Publicada no periódico Archives of Sexual Behavior, a pesquisa desafia algumas noções difundidas sobre a infidelidade, como a de que as pessoas só traem porque estão infelizes no casamento, e que se sentem muito mal ao fazer isso. 

Culpa dos filmes não é real 

“Na mídia popular, em programas de TV, filmes e livros, as pessoas que têm casos extraconjugais têm essa intensa culpa moral, mas não vemos isso nesta amostra de participantes”, comenta o autor principal do estudo, Dylan Selterman, professor associado de ciências psicológicas e cerebrais da Universidade Johns Hopkins, nos EUA.

Ele diz que a satisfação sexual e emocional com as “puladas de cerca” foram altas, de acordo com os resultados. Já os sentimentos de arrependimento foram baixos na amostra analisada.

Os entrevistados, a maioria homens heterossexuais e de meia-idade inscritos no site Ashley Madison, relataram altos níveis de amor por suas parcerias conjugais, mas baixos níveis de satisfação sexual. Esta foi a principal motivação citada para buscarem relações fora do casamento. Desejo de independência e de variedade sexual foram outras razões citadas.

Casamento infeliz não é motivo

Já problemas de relacionamento, como falta de amor ou raiva do parceiro ou parceira foram os motivos menos citados pelos participantes do estudo.

Ter um casamento feliz não tornava os infiéis mais propensos a sentirem arrependimento pelos casos extraconjugais.

Para os autores, os resultados sugerem que a infidelidade não é necessariamente resultado de um problema sério no casamento.

“As pessoas têm diversas motivações para trair”, diz Selterman. “Às vezes, elas traem mesmo quando seus relacionamentos estão indo bem. Não vemos evidências sólidas, aqui, de que os casos estão associados a uma menor qualidade de relacionamento ou menor satisfação na vida”.

O pesquisador espera que outros estudos sejam feitos com outras populações de infiéis. Para ele, contudo, a mensagem principal dos estudos é que manter a exclusividade sexual ao longo da vida das pessoas é muito difícil: 

As pesoas simplesmente assumem que seus parceiros ficarão totalmente satisfeitos fazendo sexo com uma única pessoa pelos próximos 50 anos de suas vidas, mas muita gente falha nisso. Isso não significa que todos os relacionamentos estejam condenados, e sim que a traição pode ser uma parte comum dos relacionamentos”.

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Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin