Redação Publicado em 09/09/2025, às 10h00
Estimativas indicam que aproximadamente 94% dos homens e 87% das mulheres consomem ou irão consumir pornografia em algum momento de suas vidas. Mas será que algo tão comum pode ter impacto na maneira como enxergamos nossos parceiros ou parceiras sexuais?
Segundo um estudo publicado recentemente na revista Sexuality & Culture, a resposta é um surpreendente sim! Segundo o trabalho, a exposição a esse tipo de conteúdo pode fazer com que homens heterossexuais avaliem suas parceiras de forma menos favorável.
Apesar da prevalência da pornografia, as pesquisas sobre os efeitos psicológicos e relacionais desse tipo de conteúdo têm produzido resultados mistos e, por vezes, contraditórios.
Alguns estudos relacionam o uso de pornografia a desfechos como insatisfação no relacionamento ou atitudes sexuais mais permissivas, enquanto outros não encontram efeito algum ou até sugerem possíveis benefícios em certos contextos, como melhor comunicação entre casais que assistem juntos.
Uma das razões para essa inconsistência, segundo pesquisadores, pode estar no desenho desses estudos. A maioria deles é correlacional, ou seja, observa associações sem manipular variáveis. Essa abordagem dificulta determinar se a pornografia causa mudanças de percepção ou se pessoas com certas tendências em seus relacionamentos são mais propensas a consumi-la.
Além disso, certas pesquisas deixam de considerar fatores como diferenças no conteúdo, níveis de excitação ou crenças e atitudes pré-existentes dos participantes.
Para lidar com essas questões, a psicóloga Alicia McLean, da Universidade do Centro de Oklahoma, nos EUA, desenhou um experimento controlado para testar diretamente se diferentes tipos de mídia afetam a forma como as pessoas enxergam seus parceiros românticos, relacionamentos e atitudes sexuais.
O estudo recrutou 144 adultos que estavam em relacionamentos românticos. Os participantes tinham entre 18 e 57 anos, com idade média de 29. Cerca de dois terços se identificaram como mulheres e mais da metade como exclusivamente heterossexuais.
Todos foram designados aleatoriamente para assistir a um de três trechos de filme de 30 minutos. A variável-chave era o tipo de conteúdo:
- Um grupo assistiu a um segmento pornográfico de Pirates (2005), um filme com cenas de sexo heterossexual e lésbico, incluindo temas tradicionais de dominação e submissão.
- Um segundo grupo assistiu à meia hora final de Piratas do Caribe (2003), um filme de ação.
- Um terceiro grupo assistiu a um trecho de igual duração de um filme de animação sobre piratas, sem restrição de idade.
Todos os filmes tinham temática de piratas para garantir estética visual e enquadramento narrativo semelhantes entre as condições. Os participantes precisaram assistir a pelo menos 20 minutos do filme designado para serem incluídos na análise final.
Após assistir ao trecho, os participantes responderam a uma ampla bateria de questionários avaliando como viam seu parceiro (por exemplo, atratividade e desejabilidade), a qualidade e a estabilidade do relacionamento (por exemplo, satisfação, incerteza, estilos de apego) e suas crenças e atitudes sexuais (por exemplo, fantasias, desejos, permissividade sexual e opiniões sobre crescimento no relacionamento).
Surpreendentemente, o filme pornográfico não pareceu afetar os desfechos relacionados à sexualidade, como desejo, fantasia ou permissividade sexual. Os participantes dos três grupos relataram pontuações semelhantes nessas dimensões, sugerindo que a exposição de curto prazo a material sexualmente explícito pode não alterar as atitudes ou comportamentos sexuais mais amplos das pessoas — pelo menos em uma única sessão.
Os efeitos mais marcantes foram observados entre homens heterossexuais. Nesse subgrupo, aqueles que assistiram ao clipe pornográfico avaliaram suas parceiras românticas como menos atraentes e desejáveis do que aqueles que assistiram aos filmes de ação ou de animação.
Essa descoberta dá suporte ao que os pesquisadores chamam de “hipótese do contraste”: a ideia de que assistir a conteúdo sexual idealizado leva a comparações desfavoráveis com os parceiros da vida real.
Entre homens heterossexuais, tais comparações podem ser especialmente impactantes, considerando normas culturais em torno da desejabilidade sexual e dos papéis de gênero.
Esse efeito específico não foi encontrado em mulheres nem em outros grupos de orientação sexual, sugerindo que homens heterossexuais podem ser particularmente sensíveis a esse tipo de comparação depreciativa.
Embora o estudo ofereça evidências experimentais ligando a exposição à pornografia às percepções sobre os parceiros (especialmente entre homens heterossexuais), ele não está isento de limitações. A amostra foi recrutada online e pode não refletir a população em geral. Os participantes podem ter sido mais abertos a assistir a conteúdo explícito ou mais propensos a participar de estudos sobre sexo e relacionamentos, o que pode limitar a generalização.
O estudo também se baseou exclusivamente em medidas de autorrelato, que podem ser influenciadas pela disposição dos participantes em revelar informações sensíveis ou pelo viés de desejabilidade social. Embora o anonimato tenha sido preservado, a natureza das perguntas — muitas envolvendo crenças pessoais e sexuais — ainda poderia levar alguns participantes a responder de formas que acreditassem ser mais aceitáveis.
Fonte: Psypost