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Por que usar a crise para pressionar o empregado é um péssimo negócio

Imagem Por que usar a crise para pressionar o empregado é um péssimo negócio

Jairo Bouer Publicado em 26/02/2020, às 19h03 - Atualizado às 19h08

Uma pesquisa mostra que enfrentar insegurança crônica no trabalho pode mudar a personalidade das pessoas. E para pior. Segundo o trabalho, quem fica mais de quatro anos nessa situação pode se tornar instável emocionalmente, menos amigável e até mais irresponsável.

Todo mundo sabe que, a curto prazo, conviver com o risco de perder o emprego a qualquer momento afeta o bem-estar, a saúde física e a autoestima de qualquer um. Mas pesquisadores da Universidade RMIT, na Austrália, descobriram que as consequências podem ser bem mais graves. Depois de muito tempo nessa situação estressante, uma pessoa pode apresentar mudanças profundas e permanentes no seu jeito de ser. Assustador, não é?

A equipe contou com dados de mais de 1.040 funcionários acompanhados por um período de nove anos. A análise foi baseada na estrutura dos “cinco grandes” traços de personalidade, bastante utilizada nesse tipo de pesquisa. São eles: estabilidade emocional, abertura para experiências, conscienciosidade (ou cautela), extroversão e amabilidade.

Os resultados, publicados no Journal of Applied Psychology, indicam que três desses traços podem ser impactados de forma negativa quando alguém experimenta períodos prolongados de insegurança no emprego. Na prática, as vítimas podem se tornar menos capazes de lidar com o estresse, alcançar seus objetivos, e de se dar bem com outras pessoas – características fundamentais para um bom desempenho no trabalho.

Questões como a substituição de mão de obra por novas tecnologias, a precarização das relações de trabalho e aumento do mercado informal e do subemprego têm gerado preocupações no mundo inteiro. É claro que países menos desenvolvidos, como o Brasil, acabam sendo os mais prejudicados, por isso é bom prestarmos atenção nesses resultados.

De acordo com os autores, é importante que as empresas invistam em treinamento e desenvolvimento de novas habilidades, já que isso pode aumentar a sensação de segurança e autoconfiança dos funcionários. No final das contas, quem ganha é o próprio empregador, que passa a ter não só gente mais qualificada, como também mais equilibrada emocionalmente e, dessa forma, mais produtiva. Aproveitar a instabilidade econômica para ameaçar os funcionários, portanto, é dar um tiro no próprio pé.