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Morar em bairro mais seguro pode facilitar a perda de peso

Sensação de segurança para andar na rua pode contribuir para um estilo de vida mais saudável - iStock
Sensação de segurança para andar na rua pode contribuir para um estilo de vida mais saudável - iStock

Sentir-se seguro onde você mora pode ser a chave para a perda de peso, segundo estudo apresentado no Congresso Europeu sobre Obesidade, realizado na Irlanda, esta semana. Isso mostra o quanto o ambiente pode interferir nos hábitos e na saúde das pessoas. 

Pesquisadores holandeses apresentaram dados preliminares de um estudo sobre os efeitos da sensação de segurança no local onde se vive, estilo de vida e tendência a perder peso com maior facilidade.

O termo “segurança do bairro” abrangeu quatro dimensões na pesquisa:

  • não sentir medo de ser vítima de crime ou assédio ao caminhar pelo bairro,
  • sentir-se seguro ao caminhar ou andar de bicicleta devido ao trânsito intenso
  • iluminação pública adequada durante a tarde e à noite
  • ausência de jovens moradores de rua na região

Curiosamente, nenhuma associação significativa foi encontrada entre o acesso a supermercados ou instalações esportivas e a perda de peso.

Estudo contou com 122 pessoas

O status socioeconômico mais baixo, muitas vezes medido com base nas características do bairro onde a pessoa vive, é um fator de risco conhecido para a obesidade. Mas ainda há poucos estudos sobre isso.

Para saber mais sobre essa relação, pesquisadores do Centro Médico da Universidade de Rotterdam analisaram a relação entre as características do bairro e as mudanças na circunferência da cintura e no peso em pessoas que participaram de uma intervenção multidisciplinar combinada de estilo de vida ao longo de um ano e meio.

O estudo envolveu 122 indivíduos vivendo com obesidade (74,6 por cento mulheres, com IMC médio de 39 kg/m2). Eles tinham sido inscritos em um programa de aconselhamento dietético combinado com exercícios e terapia cognitivo-comportamental, entre outubro de 2021 e abril de 2022.

Antes do início do programa, os participantes foram convidados a preencher um questionário avaliando as características do bairro com foco em certos fatores: segurança, atratividade, presença de áreas verdes, interações sociais na vizinhança, acesso a mercados e instalações esportivas.

Mais segurança, maior perda de peso

O estudo constatou que os indivíduos com pontuação mais alta em uma escala de segurança do bairro experimentaram maiores reduções no peso e na circunferência da cintura após dez semanas.

Um aumento de um ponto no escore de segurança do bairro foi associado a uma perda de peso inicial 1,3% maior. A longo prazo, esse índice foi associado a uma redução média de 3,2% no peso e uma redução média de 2,6% na circunferência da cintura. Os resultados foram independentes de sexo, idade e nível educacional.

Para os autores, existem várias razões possíveis pelas quais a segurança do bairro é importante para a perda de peso, como a disposição para sair de casa, o que pode resultar em mais atividade física.

Outra explicação possível é que os sentimentos de insegurança aumentam os níveis de estresse, o que pode contribuir para um comportamento alimentar pouco saudável e ganho de peso.

Também não se pode descartar que a segurança do bairro esteja associada a outros fatores, como a pobreza, o que pode ser importante para a associação encontrada. Por isso, é preciso que mais estudos desse tipo sejam feitos. 

Interações sociais também são importantes

O trabalho também indicou que um aumento de um ponto no escore de coesão social tende a resultar em uma diminuição média de 1,3% na circunferência da cintura durante as 10 semanas iniciais. E, novamente, isso foi independente de sexo, idade e nível educacional.

Isso indica que sentir-se conectado e apoiado pelas pessoas ao seu redor pode aumentar a adesão a comportamentos saudáveis e melhorar os resultados gerais das intervenções no estilo de vida.

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Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin