Maconha aumenta risco de morte por infarto e derrame, mostra análise

Grande estudo diz que risco envolve até jovens sem histórico de doença cardiovascular

Tatiana Pronin Publicado em 19/06/2025, às 10h00

Usuários de maconha apresentaram risco 29% maior de ataques cardíacos e 20% maior de derrame - iStock

Consumir maconha pode dobrar o risco de morte do usuário por doenças cardíacas. Essa foi a conclusão de uma análise de dados médicos que envolveu um total de 200 milhões de pessoas, a maioria com idades entre 19 e 59 anos.

Em comparação com não usuários, aqueles que usaram a droga também apresentaram um risco 29% maior de ataques cardíacos e 20% maior de derrame, de acordo com o estudo que acaba de ser publicado no periódico Heart.

Jovens e sem histórico de doença

Segundo a autora sênior do trabalho, a pesquisadora Émilie Jouanjus, professora associada de farmacologia da Universidade de Toulouse, na França, um dado específico chamou atenção neste estudo, como relatado em entrevista à CNN norte-americana

O que foi particularmente impressionante foi que os pacientes hospitalizados por esses transtornos eram jovens (e, portanto, provavelmente não apresentavam as características clínicas devido ao tabagismo) e sem histórico de doenças cardiovasculares ou fatores de risco cardiovascular.”

Estudo considerado importante

Segundo estudiosos, este é um dos maiores estudos feitos até o momento sobre a conexão entre maconha e doenças cardíacas e levanta sérias questões sobre a suposição de que a cannabis impõe pouco risco cardiovascular.

Isso é extremamente importante, uma vez que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo, e também no Brasil e nos EUA.

Para especialistas, é preciso que os médicos perguntem aos pacientes sobre o uso da droga, e expliquem seus malefícios, da mesma forma que fazem com o tabaco. Nos EUA, onde até o uso recreativo é permitido para adultos em muitas regiões, alguns grupos populacionais têm usado mais a cannabis e seus derivados do que o tabaco.

A nova revisão sistemática e meta-análise analisou informações médicas de grandes estudos observacionais conduzidos na Austrália, Egito, Canadá, França, Suécia e EUA entre 2016 e 2023.

Maconha fumada

Vale destacar que esses estudos não perguntaram às pessoas como elas usavam cannabis — por meio de fumo, vaporização, em balas ou outros produtos comestíveis, ou tinturas, por exemplo. No entanto, com base em dados epidemiológicos, os pesquisadores acreditam que a principal forma de uso é o fumo.

Fumar tabaco é uma causa bem conhecida de doenças cardíacas — tanto a fumaça quanto os produtos químicos presentes no tabaco danificam os vasos sanguíneos e aumentam a coagulação. Portanto, não é surpreendente que fumar ou vaporizar a cannabis tenha efeito semelhante. Sempre que se queima algo, seja maconha ou tabaco, compostos tóxicos e carcinógenos são formados e essas partículas são assimiladas pelo usuário.

Cannabis comestível

No entanto, a maconha comestível também podem desempenhar um papel em doenças cardíacas, de acordo com um estudo publicado em maio deste ano. Pessoas que consumiram produtos comestíveis misturados com tetrahidrocanabinol, ou THC, apresentaram sinais de doença cardiovascular precoce semelhantes aos de fumantes de tabaco.

Nesse estudo, a função vascular dos usuários foi reduzida em 42% em fumantes de maconha e em 56% em usuários de THC comestível em comparação com não usuários.

Maconha mais potente

Nenhum dos estudos incluídos na nova meta-análise também perguntou aos usuários sobre a potência do THC nos produtos que consomem. Mesmo que tivessem perguntado, essa informação ficaria rapidamente desatualizada, já que o mercado de cannabis é dinâmico.

Há evidências de que a droga comercializada nas ruas está cada vez mais potente. Alguns produtos com maconha para uso em vapes têm mais de 80% de THC, por exemplo. Assim, a droga consumida hoje em dia é muito diferente daquela que era fumada na década de 1970.

A maconha com potência mais alta está contribuindo para uma série de problemas, incluindo o aumento dos casos de dependência — um estudo de julho de 2022 descobriu que o consumo da droga mais potente estava associado a um risco quatro vezes maior de se tornar dependente. 

Nos Estados Unidos, cerca de 3 em cada 10 pessoas que usam maconha têm transtorno por uso de cannabis, o termo médico para o vício em maconha, de acordo com o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças).

No Brasil, é difícil contar com estimativas confiáveis, uma vez que muita gente evita assumir o uso em pesquisas de opinião por se tratar de uma droga ilegal. Uma projeção conservadora divulgada este ano pela consultoria Kaya Mind, especializada em dados do mercado de cannabis, indica que o país tem ao menos 2,8 milhões de adultos fazendo uso regular de maconha recreativa. Os dados foram feitos a partir de informações coletadas por entidades como IBGE, Fiocruz, Datafolha e Senado.

 

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