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Hemorroidas: nova cirurgia é menos invasiva e tem rápida recuperação

Dependendo do grau de gravidade, o método cirúrgico acaba sendo o mais indicado para a resolução do problema - iStock
Dependendo do grau de gravidade, o método cirúrgico acaba sendo o mais indicado para a resolução do problema - iStock

Redação Publicado em 10/05/2022, às 10h00

Cerca de metade da população terá hemorroidas ao longo da vida. É o que estima a Sociedade Brasileira de Coloproctologia, apesar de não haver pesquisas sobre a incidência de casos no país. A doença hemorroidária, outro nome para a condição, consiste em veias dilatadas na região anal que manifestam sintomas. O número de casos, que já é alto, tende a aumentar nos próximos anos. E por quê? Segundo especialistas, principalmente por causa do estilo de vida pouco saudável que prevalece hoje em dia, com alimentação inadequada e sedentarismo.

Dependendo do grau de gravidade, o método cirúrgico acaba sendo o mais indicado para a resolução do problema. Embora bem aceita, a abordagem resulta em incômodos e dores no período de recuperação. Nesse cenário, a aplicação de uma técnica minimamente invasiva que diminui o desconforto aos pacientes, conhecida como embolização das artérias retais superiores, mostrou-se eficiente no tratamento da doença em estudo clínico conduzido por especialistas do Hospital Israelita Albert Einstein.

“Desenvolvemos um projeto prospectivo, randomizado e multidisciplinar com as equipes de radiologia intervencionista e a de proctologia. Nele, comparamos pacientes submetidos à técnica de embolização e os submetidos ao tratamento cirúrgico convencional, com observação de resultados animadores”, explica Priscila Mina Falsarella, radiologista intervencionista responsável pelo estudo apresentado na tese de doutorado “Embolização das artérias retais superiores versus hemorroidectomia fechada (técnica de ferguson) no tratamento da doença hemorroidária: ensaio clínico randomizado”.

A especialista conta que, no total, foram tratados 28 pacientes (15 no grupo embolização e 13 no grupo cirurgia) diagnosticados entre os graus II e III, que receberam acompanhamento médico ao longo de um ano. A principal observação entre aqueles submetidos à embolização das artérias retais superiores foi que a dor e a necessidade de uso de medicações analgésicas no pós-procedimento foi inferior ao grupo dos pacientes submetidos a cirurgias convencionais: a média de uso de medicação analgésica, anti-inflamatório ou opioide no grupo que foi submetido à cirurgia foi de 28,9 doses de medicação, e no grupo de embolização, de 2,4 doses.

Sucesso clínico

“A identificação e embolização das artérias retais superiores foram consideradas um sucesso técnico. Já a melhora dos sintomas pré-procedimento nas avaliações presenciais e satisfação do paciente com o tratamento nas avaliações via contato telefônico no período de um ano de seguimento foi apontado como um sucesso clínico”, afirma a cirurgiã.

O tratamento é realizado por uma punção na região da virilha do paciente - diferente do método cirúrgico tradicional. O cirurgião insere o cateter na artéria femoral e navega pelos vasos para alcançar as artérias retais superiores, que são “nutridoras” das hemorroidas, e realizar a cateterização. Dessa forma é realizada a embolização (obstrução) desses vasos com micromolas que reduzem o fluxo sanguíneo na região para diminuir e cessar o sangramento decorrente da doença.

“Com a aplicação dos conceitos da radiologia intervencionista nesta técnica minimamente invasiva, é possível realizar um procedimento menos agressivo, com menor tempo de internação e que oferece uma recuperação mais rápida a pacientes que lidam com uma doença estressante como esta. Empregar o método no caso das artérias retais foi uma consequência da nossa experiência com outras doenças, como miomas uterinos, por exemplo”, ressalta Rodrigo Gobbo Garcia, Diretor Médico do Centro de Medicina Intervencionista do Einstein.

A média de dor na primeira evacuação após o procedimento no grupo da cirurgia convencional foi de 6,08, enquanto no grupo da embolização foi zero. Também não foram observadas complicações maiores nos pacientes submetidos à embolização. Aqueles cujo sintoma inicial era sangramento hemorroidário foram os mais beneficiados pelo tratamento.

Hemorroidas são divididas em quatro graus

As quatro acima mostram, da esquerda para direita, os diferentes graus de hemorroida: I, II, III e IV  - iStock

Hemorroidas podem ser internas e externas, de acordo com a posição. As externas se formam no canal anal e região externa, sendo recobertas por uma pele bem sensível. As hemorroidas internas, ao contrário, estão na parte bem interior do ânus e são recobertas pela mucosa intestinal. Elas apresentam quatro graus:

  • I: aumento no número e tamanho das veias hemorroidárias, mas não há prolapso.
  • II: mamilos hemorroidários surgem fora do canal anal no momento da evacuação, mas voltam espontaneamente para o interior do canal anal.
  • III: aparece o prolapso hemorroidário que precisa de ajuda manual para retornar ao canal anal.
  • IV: há um prolapso hemorroidário constante que causa grande desconforto.

Nos casos em que as medidas clínicas não resultam em um bom controle dos sintomas, pode ser necessário um tratamento definitivo por meio de procedimentos, que vão desde a ligadura elástica até a cirurgia propriamente dita.

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