Dúvidas sobre a existência ou não de fimose são extremamente comuns no início da adolescência, quando os garotos, em geral, ainda não se consultaram com um urologista ou outro médico para fazer perguntas sobre a saúde íntima.
Este, aliás, é o objetivo da campanha #VemproUro, que a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) tem promovido no mês de setembro – incentivar as famílias a levarem os jovens ao médico da mesma maneira que as meninas são levadas ao ginecologista desde cedo.
O foco deste oitavo ano de campanha é o diagnóstico tardio da fimose, que, quando não tratada, pode causar infecções de repetição e, a longo prazo, até câncer de pênis.
Dados do Ministério da Saúde divulgados pela SBU indicam que num período de 10 anos, entre 2015 e 2024, foi registrado um aumento de 81,5% no número de internações devido a fimose, parafimose e prepúcio redundante.
Fimose é a dificuldade de expor completamente a glande (“cabeça” do pênis) ao tentar puxar a pele que a recobre, chamada de prepúcio.
Ela pode ser classificada como primária ou secundária. A primeira, também chamada de fisiológica, está presente desde o nascimento devido a uma aderência natural do prepúcio. Já a secundária surge após o nascimento e é geralmente causada por infecções, inflamações ou traumas que levam ao estreitamento da pele e à dificuldade na retração.
Se não tratada, a fimose pode levar a quadros de infecção urinária, balanite (inflamação da glande) e balanopostite (inflamação da glande e do prepúcio), além de poder causar parafimose (descrita abaixo), dor, dificuldade nas relações sexuais e ereções e maior risco de contrair ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) como o HPV, vírus que é um importante fator de risco para o câncer de pênis.
A parafimose é uma urgência urológica que ocorre quando o prepúcio não consegue retornar à posição normal depois de retraído, causando um estrangulamento do pênis. A condição pode comprometer o retorno venoso (dos vasos sanguíneos) e linfático (do sistema linfático), levando a inchaço, dor intensa e, se não tratada, ao risco de necrose da glande. Daí a urgência no tratamento. Segundo a SBU, a parafimose pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum em adultos jovens não circuncidados.
O prepúcio redundante é o termo usado para quando existe um excesso de pele sobre a cabeça do pênis, mas que não impede a retração completa para expor a glande, como ocorre na fimose. Apesar disso, a condição também pode aumentar o risco de infecções caso não haja uma higienização adequada.
Até os 3 anos de idade, a fimose pode se resolver sozinha. Porém, depois disso, é necessário tratamento com pomada ou cirurgia.
O ideal é que a cirurgia seja realizada antes da entrada na puberdade, quando a recuperação é mais tranquila por ainda não haver ereções espontâneas.
Pesquisas mostram que as meninas vão muito mais ao médico do que os meninos. “Hoje vemos o menino ir ao médico quando criança e, depois, só na fase mais madura, após os 40 anos. Não pode haver esse gap”, comenta o urologista Luiz Otavio Torres, presidente da SBU.
Além de tirar dúvidas sobre fimose, uma consulta com o especialista pode ajudar os adolescentes a esclarecerem outras questões importantes, como inseguranças em relação ao tamanho ou aparência do pênis, ejaculação precoce e prevenção de doenças que podem ter repercussão no futuro, como a varicocele ou o câncer de testículo.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin
