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Exposição à poluição na gravidez aumenta risco de obesidade nos bebês

A exposição à poluição durante a gravidez pode interferir no acúmulo de gordura corporal da criança - iStock
A exposição à poluição durante a gravidez pode interferir no acúmulo de gordura corporal da criança - iStock

Redação Publicado em 15/06/2021, às 20h33

Mulheres expostas a níveis mais altos de poluição do ar durante a gestação tendem a ter bebês que crescem mais rápido nos primeiros meses após o nascimento, o que os coloca em risco de obesidade e doenças relacionadas ao longo da vida. 

As descobertas são de uma pesquisa da Universidade do Colorado (Estados Unidos), publicada na revista Environmental Health. E reforçam a observação já feita em outros estudos de que a má qualidade do ar pode contribuir, pelo menos em parte, para a epidemia de obesidade entre os norte-americanos, especialmente em populações minoritárias. 

De acordo com os pesquisadores, cerca de um a cada quatro jovens hispânicos que vivem naquele país é obeso, em comparação com aproximadamente 14% dos brancos e 11% dos asiáticos. Para eles, essas taxas mais altas não são simplesmente subproduto de escolhas pessoais, como exercícios e calorias – o fenômeno também pode estar relacionado a problemas ambientais.

Estudos anteriores mostraram que grávidas que fumam ou que são cronicamente expostas à poluição do ar tendem a ter bebês abaixo do peso ao nascer. Porém, no primeiro ano de vida, essas crianças buscam recuperá-lo, engordando extremamente rápido. Vale lembrar que o ganho de peso acelerado no início da vida tem sido associado a risco maior de diabetes, doenças cardíacas e problemas de peso na infância e adolescência. 

Os autores explicam que a gravidez ou o período logo após o nascimento são uma janela crítica para o desenvolvimento. Exposições a determinadas substâncias nessa fase podem levar o bebê a ter uma série de problemas mais tarde na vida.  

Peso e acúmulo de gordura

Para examinar melhor como os poluentes podem afetar a curva de crescimento de uma criança, os pesquisadores acompanharam 123 mães e e seus respectivos filhos, das quais um terço tinham peso normal antes da gravidez, outro terço estava acima do peso e o restante sofria de obesidade.

Os pesquisadores utilizaram dados do Sistema de Qualidade do Ar da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, que registra informações sobre a qualidade do ar a cada hora. Assim, foi possível quantificar a exposição pré-natal a quatro tipos de poluentes: PM2.5 e PM10 (partículas inaláveis liberadas por fábricas, carros e canteiros de obras), dióxido de nitrogênio (um gás inodoro emitido por carros e usinas) e ozônio (o principal componente da poluição).

Em seguida, os bebês foram acompanhados periodicamente para avaliações de peso, altura e concentração de gordura corporal (adiposidade). Segundo a equipe, a exposição mais intensa à poluição do ar ao longo da gestação foi relacionada a maiores mudanças no peso e na adiposidade das crianças nos seis primeiros meses de vida. 

Confira:

Meninos vs meninas

Em alguns casos, os poluentes pareceram impactar de maneira diferente os bebês do sexo masculino e do feminino. A exposição a uma combinação de ozônio e dióxido de nitrogênio, por exemplo, foi associada ao crescimento mais rápido ao redor da cintura nas meninas, enquanto os meninos tiveram um desenvolvimento mais lento em termos de comprimento e maior acúmulo de gordura em toda a região do tronco.

Segundo os pesquisadores, não é apenas a quantidade de gordura que importa, mas também onde ela está localizada:  excessos na parte central do corpo têm sido ligados a doenças cardíacas e diabetes.

Como os poluentes podem afetar o crescimento?

Os autores acreditam que esses poluentes são capazes de causar inflamação nos pulmões e em outros órgãos. Isso teria impacto em processos metabólicos, como a sensibilidade à insulina, o que poderia influenciar o desenvolvimento fetal. 

Além disso, tem sido observado que a exposição à poluição também é capaz de impactar a expressão genética dos bebês, algo que pode ter efeitos ao longo da vida da criança e ainda passar para gerações futuras. 

A equipe admite que o estudo envolve uma amostra relativamente pequena. E, como a análise inclui apenas mães hispânicas, é necessário que mais estudos sejam feitos para que os resultados sejam confirmados em outras populações.