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Descubra o que o cocô revela sobre sua saúde

Alterações na cor ou no formato podem indicar mudanças de hábito ou problemas de saúde - iStock
Alterações na cor ou no formato podem indicar mudanças de hábito ou problemas de saúde - iStock

As fezes revelam muito sobre sua saúde e seus hábitos. O cocô é a parte “descartada” pelo organismo após os alimentos que ingerimos passarem pelo processo de digestão. Assim, eliminar resíduos que não são necessários para nosso corpo e também algumas bactérias, células e toxinas é rotina em nossa vida. Por mais estranho que pareça, observar como estão suas fezes pode ajudá-lo a compreender melhor como seu corpo está funcionando.

É vendo as fezes que podemos notar se há alterações na cor ou no formato, além da presença de sangue, muco ou pus. Esses elementos anormais nas fezes são importantes indicadores de que pode haver alguma doença em atividade, sobretudo se associados a outros sintomas. Nesses casos, é fundamental procurar um médico o quanto antes. Além de ver, também é importante notar se há alteração no cheiro. Naturalmente, o cocô tem um cheiro desagradável, mas um odor muito fétido também pode ser indicativo de alguma outra alteração. Veja abaixo o que notar no seu cocô:

1. Frequência

Não há uma quantidade considerada normal em relação ao número de evacuações, de forma que a frequência varia de acordo com cada pessoa. O que se estabelece como parâmetro é de três evacuações diárias até três evacuações por semana, desde que não haja alteração no formato das fezes ou esforço na hora de evacuar.

Vários fatores influenciam a frequência. O primeiro deles é o próprio ritmo intestinal, uma espécie de padrão biológico individual que regula o trânsito intestinal. Além das questões próprias de cada pessoa, ele também pode ser afetado pelo estresse, pela rotina, por medicações, pela dieta e pela quantidade de água ingerida. Também há evidências de que a prática de atividades físicas facilita a regularização do intestino.

A comida pode levar de horas até dias para ser eliminada nas fezes, e isso depende do que há em cada alimento – proteínas levam mais tempo para serem eliminadas, enquanto verduras e vegetais deixam o organismo com mais rapidez. Já a quantidade de água tem papel determinante nos hábitos intestinais, já que parte das fezes é composta por água. Assim, uma dieta rica em fibras (encontradas em vegetais, verduras, frutas e legumes) facilita o processo de evacuação, uma vez que essas fibras retêm mais água, deixando as fezes com consistência que facilita sua eliminação.

2. Textura

A avaliação da textura das fezes também é parte importante para avaliar o funcionamento do seu organismo. Para isso, utiliza-se a Escala de Bristol, que classifica as fezes conforme sua textura, variando de 1 a 7:

Tipo 1 - Caroços duros separados, como nozes: há poucas fibras e pouco líquido no organismo. Beba mais água e inclua frutas, verduras e vegetais na sua dieta.

Tipo 2 - Formato de salsicha, mas encaroçado: é preciso otimizar um pouco mais a quantidade de líquidos e de fibras.

Tipo 3 - Formato de salsicha com rachaduras na superfície: normal, mas beber mais água e consumir mais fibras pode deixar suas fezes ainda melhores.

Tipo 4 - Formato de salsicha mole e macio: bom padrão.

Tipo 5 - Bolinhas macias e com bordas bem definidas: não tão preocupante se você evacua cerca de três vezes ao dia.

Tipo 6 - Fezes muito amolecidas ou pedaços macios com bordas irregulares: indicativo de que pode virar diarreia.

Tipo 7 - Fezes líquidas, sem pedaços sólidos: pode ser sinal de diarreia, que pode ser causada por infecções, inflamações, medicações ou intolerâncias alimentares, dentre outras causas. É muito importante repor líquidos para evitar desidratação.

Os tipos 1 e 2 indicam constipação intestinal, enquanto os padrões 3, 4 e 5 são os que se encontram mais próximos da normalidade. Os tipos 6 e 7 chamam a atenção por serem padrões compatíveis com diarreia.

Vários fatores além da textura devem ser considerados quando se fala em normalidade das fezes. Se as fezes são macias e grudam na parede interna do vaso sanitário, por exemplo, pode ser indicativo de que há muito óleo nelas e que seu organismo não está absorvendo bem gorduras, seja por alguma questão do próprio organismo, seja por excesso de lipídios na dieta ou mesmo por efeito de algum medicamento.

Confira:

3. Cor

Ver a cor do cocô é necessário para observar se há alterações, mesmo porque nem sempre é possível notá-las de outra forma. Veja o que cada cor das fezes pode indicar:

Marrom: é a cor normal das fezes, podendo variar de tonalidade conforme a alimentação. Essa cor se deve à degradação à bile, uma espécie de detergente produzido no fígado e armazenado na vesícula biliar.

Verde: seu trânsito intestinal pode estar acelerado ou você pode ter comido alimentos verdes, folhas ou outros vegetais desta cor.

Amarelo: se estiver gorduroso e com mal-cheiro, indica que há excesso de gordura nas fezes. É importante investigar a causa.

Branco, cor de argila ou cinza: pode ser causada por algum medicamento ou pode indicar algum problema no fígado ou no pâncreas. A depender do tom, pode ser chamado de hipocolia ou acolia fecal. Se houver outros sinais clínicos, como pele ou olhos amarelados, dores abdominais e escurecimento da urina, procure um médico.

Vermelho ou com raias vermelhas: alimentos com corante nessa cor ou beterraba, pode exemplo, podem alterar a tonalidade das fezes. Mas se você não comeu nada disso, pode ser sangue e é necessário procurar um médico o quanto antes.

Preto: vitaminas com ferro e bismuto podem deixar as fezes enegrecidas. Mas é importante atentar-se porque fezes de cor muito escura podem ser causadas por sangramento no trato digestório. Procure o médico.

É importante lembrar que essas variações podem ser normais, a depender do contexto de alimentação, hábitos de vida e condição de saúde. Além disso, algumas alterações somente podem ser observadas em exames laboratoriais específicos, como o exame parasitológico de fezes, para verificar se há vermes ou parasitas no cocô, e a pesquisa de sangue oculto nas fezes. Para essas investigações é importante avaliar a necessidade com um médico.

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Leo Fávaro

Leo Fávaro

Ex-advogado, jornalista e, atualmente, acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo. Escreveu por bastante tempo sobre música, cultura pop e moda, e atualmente se dedica a escrever sobre saúde. Está nas redes sociais como @leofavaro