
Redação Publicado em 12/09/2025, às 10h00
A adolescência é um período marcado por transformações, e muitos jovens começam a apresentar comportamentos que vão contra as regras, como se negar a ir para a escola, mentir ou consumir álcool.
Ao se deparar com essas atitudes, a reação natural de muitos pais é a mesma: ameaçar com menos liberdade e perda de privilégios. A ideia é tentar impedir novos comportamentos inadequados, que podem colocar o futuro e a própria integridade dos jovens em risco.
Mas como os adolescentes lidam com essas reações e, acima de tudo, por que alguns obedecem enquanto outros se tornam ainda mais desafiadores? Um grupo de pesquisadores norte-americanos e israelenses decidiu buscar respostas para isso.
O trabalho resultante, publicado no Journal of Youth and Adolescence, conclui que a maneira como os adolescentes recebem os alertas de seus pais depende menos da mensagem, em si, e mais de quanto os jovens veem seus pais como pessoas que realmente vivem de acordo com seus próprios valores.
Em outras palavras, se os pais aplicam seus valores de forma consistente no cotidiano e parecem satisfeitos ao agir de acordo com eles, os alertas feitos aos jovens têm maior probabilidade de serem percebidos como um cuidado.
Já se os adolescentes encaram esses avisos como uma tentativa de manter o controle sobre eles, é comum que a rebeldia apareça.
“Os pais realmente precisam ‘praticar o que pregam’ e agir de acordo com seus valores se quiserem que seus adolescentes se comportem de forma responsável”, recomenda a psicóloga Judith Smetana, pesquisadora da Universidade de Rochester e especialista em relacionamentos entre pais e adolescentes.
O estudo tem como base a chamada “teoria da autodeterminação”, formulada nas décadas de 1970 e 1980 pelos psicólogos de Rochester Edward Deci e Richard Ryan. De acordo com ela, as pessoas têm três necessidades psicológicas básicas e intrínsecas:
Autonomia: a necessidade de se sentir livre do controle para que se possa realizar suas preferências autênticas.
Competência: a necessidade de se sentir capaz.
Relacionamento: a necessidade de se sentir conectado e respeitado pelos outros.
Quando os pais apoiam ativamente essas necessidades, os adolescentes se sentem motivados e compreendidos.
Mas quando o comportamento parental frustra essas necessidades, os adolescentes podem se sentir pressionados, impotentes ou desconectados, o que pode desencadear resistência e rebeldia.
Smetana e sua equipe se concentraram especificamente em um fator parental chamado "demonstração de valor inerente", que pode influenciar a forma como os avisos são recebidos.
Por exemplo, um pai ou uma mãe que enfatiza a importância da gentileza e trata os outros com respeito – e demonstra satisfação ao fazer isso – seria visto como alguém com alta demonstração de valores.
Em contraste, pais cujas ações não correspondem às próprias palavras seriam percebidos como alguém com baixa demonstração de valores.
A equipe entrevistou 105 adolescentes israelenses, com idade média de 15 anos, que haviam apresentado pelo menos um comportamento problemático no mês anterior.
Cada adolescente relatou o comportamento mais grave que seus pais haviam descoberto e, em seguida, classificou como eles reagiram, seja por meio de advertências ou tentando entender a perspectiva de seus filhos.
Os adolescentes também compartilharam como essas reações os fizeram sentir: eles vivenciaram as reações como de apoio ou de controle? Eles se sentiram motivados a parar ou se sentiram desafiadores? Por fim, eles avaliaram o quanto seus pais, em geral, demonstravam seus valores na vida diária.
Os resultados do estudo foram claros: quando os pais foram percebidos como alguém com baixa demonstração de valores, seus filhos adolescentes eram muito mais propensos a vivenciar suas advertências como algo que frustrava suas necessidades.
Mas quando os pais eram percebidos como demonstradores de altos valores, seus alertas eram mais propensos a serem vistos como protetores. Os adolescentes nessas famílias eram menos desafiadores e se sentiam mais apoiados, mesmo que os alertas incluíssem consequências desagradáveis, como a perda de privilégios.
Apesar de reduzir as atitudes desafiadoras dos jovens, valores parentais autênticos não foram suficientes para fazer os adolescentes interromperem seus comportamentos de risco.
Segundo os pesquisadores, os alertas dos pais são mais eficazes quando os pais dedicam tempo para entender as perspectivas de seus adolescentes, ou seja, buscam entender seus sentimentos e razões por trás dos comportamentos assumidos.
Essa abordagem empática parece levar à reflexão, o que aumenta a tendência dos jovens a reconsiderarem seus comportamentos de risco.
Em resumo, a recomendação dos autores, com base no estudo, é que os pais busquem sempre se colocar no lugar dos filhos e demonstrem isso a eles.