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Como evitar que o mau humor do parceiro te contagie

Você precisa ter consciência de que seus estados emocionais não devem depender de outra pessoa - iStock
Você precisa ter consciência de que seus estados emocionais não devem depender de outra pessoa - iStock

Tal como acontece com a maioria das coisas na vida, os relacionamentos românticos são, para muitos de nós, uma faca de dois gumes: embora a maioria ache maravilhoso amar e ser amado, desenvolver laços emocionais íntimos com alguém nos torna emocionalmente vulneráveis – não apenas a sermos magoados pelas opiniões e sentimentos de nosso(a) parceiro(a) em relação a nós, mas também vulnerável a ser afetado pelo mau humor dele(a).

Se um colega ou amigo fica deprimido, muitas vezes somos capazes de oferecer uma ou duas palavras de conforto sem sermos arrastados para o turbilhão emocional dele. Quando nosso(a) parceiro(a) fica deprimido(a), triste, irritado(a), ciumento(a) ou ansioso(a), porém, nossas próprias emoções são frequentemente desencadeadas de maneiras desagradáveis.

Um estudo  revelou que o estado emocional de um parceiro exerce grande influência no humor do outro. Segundo a pesquisa, o mau humor de um pode ser “contagioso” para o outro, até mesmo quando o casal não está interagindo diretamente. Já outro estudo apontou que quando um dos dois expressava o mau humor apenas pela linguagem corporal e expressão facial, a outra pessoa adotava a mesma postura, a chamada ‘imitação inconsciente’.

Quando estamos em um relacionamento duradouro, a conexão com o outro pode ser tão intensa que quase sentimos suas emoções como se fossem nossas. Sendo assim, o que podemos fazer para controlar o mau humor que surge como resultado do mau humor de nosso(a) parceiro(a)?

Identifique e compreenda suas reações típicas ao mau humor da outra pessoa

Na faculdade de medicina, alunos aprendem que, se se sentirem deprimidos ao entrevistar um paciente, muitas vezes é porque o paciente está deprimido. O humor é contagioso. Frequentemente - mas certamente nem sempre - sua reação ao humor de seu (sua) parceiro(a) será imitá-lo (ou seja, ele [ela] está deprimido(a), então você fica deprimido(a); ela (ele) está com raiva, então você fica com raiva, e assim por diante).

Assuma o controle das suas emoções

Você precisa ter consciência de que seus estados emocionais não devem depender de outra pessoa. Caso contrário, deixarão de estar sob seu domínio. É muito fácil permitir que a raiva do outro influencie nosso emocional, mas é necessário dar espaço para reflexão e racionalização. Ao identificar esse padrão, tente interrompê-lo e substituí-lo. Em vez de pensar ‘esse mau humor me contaminou’, reflita: ‘é compreensível que eu me sinta vulnerável, mas não é sobre mim e vou manter o equilíbrio emocional’. Preste atenção em seus pensamentos automáticos, em seu diálogo interno, pois é essa interpretação que determinará sua forma de sentir.

Ou seja, sua própria reação emocional ao mau humor de seu(sua) parceiro(a), se tolerada e expressada, muitas vezes piorará uma situação ruim. Se você ficar com raiva de seu(sua) parceiro(a) por ele (ela) estar ansioso(a) - a ansiedade muitas vezes torna as pessoas irritantes, por exemplo -, isso não apenas deixará de ajudar a pessoa a controlar a ansiedade; muitas vezes isso piorará a ansiedade bem como criará conflito entre vocês, mesmo que o problema que aumenta a ansiedade possa não ter nada a ver com você ou com seu relacionamento. Mantenha este mantra sempre presente em sua mente: você não pode controlar o humor do outro. Você pode influenciá-lo, ou seja, com uma resposta estratégica você pode aumentar a probabilidade de que melhore, mas isso não acontecerá se sua estratégia for simplesmente satisfazer sua própria reação emocional.

Apoie o outro, mas com bom senso

Quando nosso(a) parceiro(a) está com algum problema (que vai além de um simples mau humor), é comum o ímpeto de buscar ideias para solucionar uma situação que se tornou inquietante, inclusive para você. Contudo, querer tomar as rédeas de um problema que não pode resolver só vai lhe gerar mais desgaste, sendo que você deveria ser o ponto de equilíbrio emocional neste momento. Portanto, apenas dê espaço para que o outro possa se expressar livremente, sem medo de ser julgado ou interrompido.

Respeite seus limites

Em momentos de mau humor, tendemos a ficar com o “pavio curto”. Por isso, pense três vezes antes de emitir opiniões ao outro, principalmente se for em resposta a algo que você não gostou ou discorda. Se o mau humor estiver tão forte a ponto de sequer conseguir manter seu equilíbrio emocional, saia de cena, dê um tempo e retome a conversa quando sentir sua tranquilidade de volta. Pode ser uma tarefa difícil, sobretudo, quando se trata de sua companhia e parceria de anos. Entretanto, esse é justamente um dos segredos de um relacionamento saudável: jamais extrapolar seus limites para não desrespeitar a si e a sua relação.

Você nem é responsável pelo seu humor

Quem somos acaba sendo em grande parte uma função de com quem estamos. Você já percebeu, por exemplo, como você se sente e se comporta de uma maneira com sua família e de outra com seus amigos – e ainda de outra com seus colegas de trabalho e chefe? Aqueles que nos rodeiam exercem muito mais influência sobre quem somos do que talvez percebamos – não pela sua intenção consciente, mas por serem quem eles próprios são. (Quantas vezes, por exemplo, você quer ser amoroso e gentil com seu cônjuge apenas para ficar com uma sensação de frieza e amargura pela falta de gratidão dele? Ou ser divertido e bobo com seus filhos apenas para ficar irritado e mesquinho pelos seus acessos de raiva?).

Isso quer dizer que também não temos controle sobre o que sentimos. Podemos, no entanto, exercer uma influência restritiva sobre a probabilidade de agirmos cegamente de acordo com os nossos sentimentos. Muito melhor, quando se trata de relacionamentos, permanecermos críticos em relação às nossas próprias reações emocionais ao humor do nosso parceiro e fazermos tentativas consistentes para decidir racionalmente como queremos reagir.

Todos os humores são temporários

Algumas pessoas passam mais tempo de mau humor do que gostaríamos, mas isso é outra questão. A chave é encontrar um lugar de equanimidade enquanto seu(sua) parceiro(a) está de mau humor. Você pode se sentir mal pela outra pessoa e também por si mesmo.

Idealmente, você gostaria de se tornar uma pessoa que, quando seu(sua) parceiro(a) está de mau humor, permanece não apenas perfeitamente solidária, mas também internamente intacta. Isso pode significar que você precisa se distanciar emocionalmente - ou mesmo fisicamente - (o desafio aí, é claro, é como fazer isso sem parecer abandonar emocionalmente a outra pessoa). Isso pode significar que você precisa iniciar um diálogo interno para encontrar dentro de si mesmo, em meio a todas as emoções negativas, as emoções negativas do outro que podem desencadear em você o seu eu mais compassivo. Mas, no final das contas, é isso que representa o mau humor em outra pessoa: uma oportunidade de exercitar sua compaixão.

No entanto, saber exatamente quando pedir ajuda profissional pode ser complicado. Você não quer reagir de forma exagerada, mas, ao mesmo tempo, não quer que sua própria felicidade seja continuamente contaminada pela infelicidade consistente de outra pessoa.

Então, talvez uma regra simples possa ser esta: se você perceber que não é mais você mesmo(a) - isto é, que está mais infeliz em um relacionamento do que quando era solteiro - especificamente como resultado de estar na órbita de um(a) parceiro(a) cujo mau humor é contagioso demais para você resistir, é hora de pedir ajuda - para vocês dois.

Fontes: Dani Fontinele, terapeuta sexual, sexóloga clínica e membro da Abrasex, pós-graduada em Terapia Sexual e Terapia de Casal pelo Cefatef/Doctum; e apresentadora do Podcast Clitcast / SitePsychology Today

Cármen Guaresemin

Cármen Guaresemin

Filha da PUC de SP. Há anos faz matérias sobre saúde, beleza, bem-estar e alimentação. Adora música, cinema e a natureza. Tem o blog Se Meu Pet Falasse, no qual escreve sobre animais, outra grande paixão.  @Carmen_Gua