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Beber pesado de vez em quando é pior que beber todo dia

Beber muito em pouco tempo exerce uma enorme pressão sobre o fígado - iStock
Beber muito em pouco tempo exerce uma enorme pressão sobre o fígado - iStock

A cirrose hepática é uma doença que com frequência está relacionada ao uso crônico de álcool. Mas novas pesquisas relatam que essa doença fatal também pode ser desencadeada pelo consumo excessivo de álcool em um curto período, o chamado beber pesado episódico (BPE), ou, no inglês, “binge drinking”.

Segundo pesquisadores, pessoas que consomem grandes quantidades de álcool e que têm uma predisposição genética à condição podem ter um risco seis vezes maior de desenvolver a doença em comparação com participantes do estudo que relataram consumir álcool diariamente, mas dentro dos limites considerados moderados, e tinham baixa predisposição genética para cirrose hepática.

Risco ainda maior quando há diabetes

Os pesquisadores observaram que esse risco era ainda maior entre os consumidores pesados de álcool que também tinham um diagnóstico de diabetes tipo 2. As descobertas foram detalhadas em um estudo publicado na revista Nature Communications, que contou com equipes das universidades de Londres, Oxford e Cambridge, no Reino Unido.

Em casos onde os três fatores de risco estão presentes (consumo excessivo de álcool, predisposição genética e presença de diabetes tipo 2), os padrões de consumo podem desempenhar um papel mais significativo no desenvolvimento da cirrose do que o volume total de álcool ingerido, de acordo com os pesquisadores.

"Muitos estudos que investigam a relação entre doença hepática e álcool se concentram no volume total de álcool consumido", afirmou Linda Fat, autora principal do estudo e pesquisadora sênior da Universidade de Londres, em comunicado à imprensa. "Adotamos uma abordagem diferente ao focar no padrão de consumo e descobrimos que este é um indicador melhor do risco de doença hepática do que o volume isolado”, acrescentou a pesquisadora.

Padrão de consumo também importa

As conclusões reforçam a ideia de que não é somente a quantidade total de álcool que você bebe que interere na sua saúde, ou o fato de beber um pouco todos os dias, mas também o padrão de consumo. Beber muito rápido, para ficar bêbado, pode ter sérias consequências para a saúde do fígado.

Em entrevista ao site Medical News Today, o especialista em dependência de álcool Adam Zagha, explicou que o consumo excessivo coloca uma enorme pressão sobre o fígado, que é responsável por metabolizar o álcool.

“Quando o álcool é consumido em quantidades excessivas, o fígado não consegue acompanhar o processo de desintoxicação, levando ao acúmulo de toxinas e ao desenvolvimento de cirrose hepática ao longo do tempo."

O que é consumo excessivo de álcool?

O consumo excessivo de álcool como episódios nos quais a concentração de álcool no sangue (BAC) atinge 0,08% ou mais. Para homens, isso geralmente significa consumir cinco ou mais bebidas em duas horas. Para mulheres, a mesma concentração de álcool no sangue geralmente é atingida consumindo quatro ou mais bebidas no mesmo período de tempo.

Os pesquisadores afirmaram que a doença hepática está entre as principais causas de morte prematura globalmente. Estima-se que cerca de 2% a 3% da população mundial têm cirrose ou doença hepática.

Para os especialistas, é crucial que indivíduos com histórico familiar de doença hepática ou pessoas com predisposição genética para o transtorno do uso de álcool estejam cientes do aumento do risco que enfrentam.

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin