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Anticorpos de quem teve Covid podem ser 6 vezes “mais fracos” para P1

Tudo indica que cuidados de prevenção devem continuar, mesmo após vacinação - iStock
Tudo indica que cuidados de prevenção devem continuar, mesmo após vacinação - iStock

Redação Publicado em 03/03/2021, às 11h58

Um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revela que anticorpos presentes no sangue de pessoas que já tiveram Covid-19 e se recuperaram são cerca de seis vezes menos eficientes para neutralizar a variante brasileira do Sars-CoV-2, a chamada P.1. Os resultados ainda são considerados preliminares.

E mais: o trabalho também mostra que o plasma (parte líquida do sangue) de indivíduos que receberam a segunda dose da CoronaVac há cerca de cinco meses apresenta baixa quantidade de anticorpos capazes de neutralizar o novo coronavírus – tanto a linhagem B (que circulou no início da pandemia) quanto a variante P.1. Os dados foram publicados esta semana na plataforma Preprints with The Lancete ainda estão em processo de revisão por pares. 

Vacina funciona, mas talvez só por um tempo

De acordo com o coordenador do estudo, o professor José Luiz Proença Módena, da Unicamp, tanto as pessoas que já tiveram Covid-19 como aquelas que foram vacinadas podem ser infectadas pela nova variante P.1. e, portanto, não devem se descuidar.

Ele diz que esse fenômeno é comum e ocorre também com outras vacinas. É por isso que alguns vírus continuam circulando mesmo após uma população ser imunizada. “Em hipótese alguma ele sugere que a vacina não funciona”, ele declarou em reportagem da Agência Fapesp

No caso do vírus influenza [causador da gripe], por exemplo, quando de um ano para outro surge uma nova variante que é seis vezes menos neutralizada pelos anticorpos, já se considera que é necessário atualizar a vacina, segundo o pesquisador. 

Como os testes foram feitos

Os experimentos, que tiveram apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), foram feitos com 20 amostras de secreção das vias respiratórias de pacientes infectados pela variante brasileira, que foram inoculadas em culturas de células suscetíveis ao Sars-CoV-2. A presença da P.1. nas amostras foi confirmada pelo sequenciamento genético do vírus. 

Já o plasma de vacinados foi coletado de oito voluntários que participaram do ensaio clínico de fase 3 da CoronaVac (vacina desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan, de SP). A imunização havia ocorrido entre os meses de agosto e setembro de 2020.

Mais estudos são necessários

Como os testes clínicos de fase 2 da vacina já haviam indicado, a quantidade de anticorpos capazes de neutralizar o vírus no sangue dos vacinados cai fortemente após aproximadamente seis meses. Isso foi confirmado, no estudo da Unicamp, tanto contra a P.1. quanto contra a linhagem B (do início da pandemia).

Os pesquisadores destacam que esses resultados precisam ser interpretados com cautela, pois anticorpos neutralizantes são apenas um dos componentes do sistema imunológico. É possível que outros elementos de proteção induzidos pela vacina, como a chamada "imunidade celular", ainda sejam capazes de evitar que uma pessoa vacinada desenvolva a doença, principalmente as formas mais graves. 

No entanto, Módena acredita que os vacinados não estão livres de se infectarem e de transmitirem o vírus. Estudos com número maior de participantes devem ser feitos para que esses resultados todos sejam confirmados. Por isso não dá para considerar as conclusões como algo definitivo. Também é preciso que outras vacinas sejam testadas com o mesmo objetivo. 

De qualquer forma, medidas de higiene e distanciamento social continuam essenciais para controlar a disseminação do vírus, mesmo entre quem já foi infectado ou mesmo já vacinado. Isso é importante, segundo os pesquisadores, para evitar possíveis casos de reinfecção por linhagens emergentes. E, claro, para que pessoas que não tiveram Covid-19 ainda venham a adquirir a doença.