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Ande mais rápido e garanta a saúde do seu coração

Caminhar é o exercício mais acessível que existe - iStock
Caminhar é o exercício mais acessível que existe - iStock

Redação Publicado em 22/04/2025, às 10h00

Você costuma caminhar bastante para se locomover, ou adotou essa atividade física para manter a saúde? Então saiba que acelerar seu passo pode trazer um enorme benefício: evitar problemas doenças ligadas ao ritmo do coração. 

A conclusão acima é de um grande estudo publicado na revista médica Heart. Segundo pesquisadores, andar em ritmo médio ou acelerado está associado a uma redução de 35% e 43%, respectivamente, no risco de todas as anomalias do ritmo cardíaco analisadas, em comparação com andar num ritmo lento.

O que são arritmias? 

Essas anomalias são chamadas de arritmias, e podem se manifestar como: fibrilação atrial, bradiarritmias e arritmias ventriculares.

A fibrilação atrial é a arritmia mais comum, caracterizada por batimentos cardíacos irregulares e rápidos que começam nos átrios, as câmaras superiores do coração.

Bradiarritmias são ritmos cardíacos anormalmente lentos, geralmente abaixo de 60 batimentos por minuto, em comparação com a faixa normal de 60 a 100 bpm.

Arritmias ventriculares ocorrem quando os ventrículos — as câmaras inferiores do coração — batem rápido demais.

Exercício acessível

“O ótimo de caminhar é que é acessível para todo mundo”, comentou a autora sênior do estudo, Jill Pell, professora na Universidade de Glasgow, na Escócia. “Você não precisa gastar dinheiro com academia ou equipamentos. É só sair de casa e começar a caminhar.”

Quase 60 milhões de pessoas no mundo têm fibrilação atrial, de acordo com um estudo de 2024. As estimativas sobre outras arritmias são menos precisas, mas em geral, pessoas com arritmias têm maior risco de infartos, AVCs e morte precoce, segundo Pell.

“Existem medicamentos e procedimentos que podem ser oferecidos a essas pessoas, mas o ideal seria prevenir que as anomalias no ritmo cardíaco acontecessem”, acrescentou ela.

Além disso, até onde os autores sabem, houve apenas um estudo anterior sobre ritmo de caminhada e arritmias cardíacas — e ele focava em apenas um tipo de arritmia, disse Pell.

13 anos de acompanhamento

Pesquisas anteriores indicam que o ritmo da caminhada está ligado a outros benefícios positivos, como a redução de doenças cardiovasculares, então os pesquisadores queriam ver se o mesmo valia para as arritmias.

Os autores analisaram dados de saúde e atividade física de adultos recrutados entre 2006 e 2010 para o estudo UK Biobank, que acompanha os resultados de saúde de mais de 500 mil pessoas entre 40 e 69 anos no Reino Unido. Os participantes responderam questionários sobre o ritmo com que costumam caminhar: lento (menos de 4,8 km/h), médio (entre 4,8 e 6,4 km/h) ou acelerado (mais de 6,4 km/h).

Durante um período de acompanhamento de, em média, 13 anos, 9% dos participantes desenvolveram arritmias.

“Tínhamos dados autorrelatados de mais de 420 mil pessoas, mas também tínhamos dados de acelerômetros de quase 82 mil delas”, disse Pell, referindo-se a dados coletados por relógios que medem a velocidade dos movimentos. “Esses dados mostraram que caminhar em ritmo médio (3 a 4 milhas por hora) por apenas 5 a 15 minutos por dia já era suficiente para reduzir o risco.”

Mulheres sofrem mais complicações

As associações foram mais fortes entre pessoas com menos de 60 anos, sem obesidade, com hipertensão ou duas ou mais condições pré-existentes, e entre mulheres.

“Esse é um achado interessante, porque, embora as mulheres tenham menos chance de desenvolver fibrilação atrial do que os homens, quando desenvolvem, têm um risco maior de sofrer infartos e AVCs do que os homens com fibrilação atrial”, acrescentou Pell.

Relação entre caminhada e ritmo cardíaco

Como o estudo é observacional, ele não prova causa e efeito, alertaram os autores. Dados autorrelatados de saúde também são vulneráveis a imprecisões ou vieses.

“Fizemos tudo o que foi possível para evitar isso, garantindo que ninguém tivesse qualquer tipo de doença cardíaca ou vascular no início do estudo”, esclareceu a autora. “Mas agora precisamos de um estudo de intervenção para confirmar nossas descobertas: um estudo com pessoas que andam devagar, onde algumas são orientadas a acelerar o passo e outras não,” disse.

Os autores descobriram que mais de um terço do efeito benéfico de caminhar mais rápido se deve ao fato de que caminhar mais rápido reduz o colesterol, a glicose e a pressão arterial, e torna menos provável o ganho de peso, observando que essas reduções diminuem o risco de anomalias no ritmo cardíaco.

Embora um ritmo acelerado pareça melhor do que um lento, é bom destacar que quem não está acostumado deve acelerar gradualmente.