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Câncer de mama na mulher idosa não deve ser subestimado

Médicos não devem subestimar o câncer de mama em mulheres idosas - iStock
Médicos não devem subestimar o câncer de mama em mulheres idosas - iStock

Começo questionando quem é essa mulher idosa. Legalmente, é idoso quem tem 60 anos ou mais. Para o médico, importa mais a condição clínica da pessoa do que propriamente a idade cronológica.

Tanto a doença quanto o tratamento nessa fase apresentam algumas particularidades que abordarei nesse artigo.

Mais de 60% dos casos de câncer de mama ocorrem em mulheres com mais de 60 anos. Para vocês terem uma ideia, o risco da doença aos 75 anos é praticamente o dobro do observado aos 50 anos.  Atualmente, 15% da nossa população  é considerada idosa e, à medida que a expectativa de vida aumenta, devemos nos preparar para um aumento na incidência de todos os tipos de câncer, inclusive o de mama.

A chance de cura do câncer de mama ultrapassa os 90% mas, nas mulheres com mais de 70 anos, existe 20% de chance de óbito devido à doença e, nos casos avançados, a mortalidade chega a 40%.  Por que isso ocorre? Devido a vários fatores que podem e devem ser mudados.

Diagnóstico tardio

Sabemos que o câncer de mama nessa fase tende a ser menos agressivo, com crescimento mais lento e menor risco de metástase. Mas, pelo menos 20% dos casos são de subtipos agressivos. Portanto, não se deve supor que o tratamento possa ser simplificado porque se trata de uma paciente idosa.

Por outro lado, existe uma tendência ao diagnóstico mais tardio, já que muitas mulheres deixam de ir ao ginecologista à medida que envelhecem. Acho importante que geriatras e clínicos gerais peçam a mamografia para essas pacientes e, havendo dúvida no exame, encaminhem para o mastologista.

Essas pacientes devem ser incentivadas por seus médicos a observarem e examinarem as próprias mamas. Alterações na cor e textura da pele, retrações ou abaulamentos, retrações do mamilo, saída de líquido  pelo mamilo além de tumores palpáveis devem ser valorizados. Ainda nesse tópico, os cuidadores ou familiares dessas mulheres idosas também devem ser orientados sobre essa vigilância.

Confira:

Tratamento incompleto

Com relação ao tratamento vemos uma tendência perigosa de tratar de forma menos completa pensando em "poupar" a paciente de etapas mais difíceis, como a quimioterapia ou até mesmo a própria cirurgia. Paralelamente a esse equívoco, o médico pode supor que essa paciente venha a falecer por outras causas antes da progressão do câncer.

Dessa forma, fica fácil entender porque a mortalidade por câncer de mama nas mulheres mais idosas é paradoxalmente alta. Uma combinação de diagnóstico tardio e tratamento inadequado ou incompleto.

Lógico que é fundamental levar em conta a condição geral dessa paciente. A Sociedade de Oncologia Geriátrica (SIOG, em inglês) recomenda o uso de uma ferramenta chamada Avaliação Geriátrica para estratificar os níveis de fragilidade dessa idosa. São levadas em conta a função física, cognitiva, estado nutricional, comorbidades, estado psíquico e o suporte social. A idade não deve e não pode contraindicar o tratamento curativo do câncer.

Dessa forma, quero deixar um alerta para todas vocês, especialmente as que já passaram dos 60 anos. Não deixe de fazer sua consulta anual ao ginecologista. Caso não seja possível, converse com o médico que cuida de você e veja a possibilidade de ele pedir sua mamografia. Crie o hábito de examinar suas mamas e, se houver alguma alteração, fale com seu médico.

Não existe idade limite para ir ao ginecologista. O câncer de colo uterino é um dos poucos cuja incidência diminui com a idade. Os outros cânceres ginecológicos (mama, endométrio, ovário, vulva e vagina) têm incidência crescente à medida que a mulher envelhece.

E para nós, ginecologistas, também fica o alerta. Não devemos subestimar o câncer de mama na mulher idosa. O tratamento deve ser oferecido de forma plena para a grande maioria das pacientes para que elas tenham qualidade de vida e chance real de cura.

Dra. Luciene Barduco

Dra. Luciene Barduco

Médica formada pela USP, continua apaixonada por sua especialidade, a ginecologia e obstetrícia. Depois descobriu a mastologia e, recentemente, a sexologia. Médica, esposa, mãe da Mariana e gosta muito de tudo isso! Colunista do Portal Trevoo. @lulubarduco