Redação Publicado em 15/05/2025, às 10h00
Trabalhar demais exige tanto do nosso corpo, que pode até modificá-lo, segundo um estudo coreano recente. Os resultados indicam que longas horas de trabalho podem alterar a estrutura do cérebro, particularmente as áreas associadas à regulação das emoções e à função executiva (como raciocínio, memória de trabalho e resolução de problemas.
Em artigo publicado no periódico Occupational & Environmental Medicine, os pesquisadores afirmam que o excesso de trabalho pode induzir mudanças no cérebro que podem afetar nossa saúde emocional e cognitiva, ou seja, nossa capacidade de aprender e absorver informações.
Diversos estudos já associaram longas horas de trabalho ao risco aumentado de doenças cardiovasculares, distúrbios metabólicos e problemas de saúde mental.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que o excesso de trabalho mata mais de 800 mil pessoas todos os anos, observam os pesquisadores.
Já existem evidências para explicar as consequências comportamentais e psicológicas do excesso de trabalho, mas os mecanismos neurológicos por trás disso e as mudanças anatômicas ainda são pouco conhecidos.
Por isso, os pesquisadores decidiram fazer uma análise do volume do cérebro comparar o impacto do excesso de trabalho em regiões específicas do cérebro em profissionais de saúde que rotineiramente trabalham longas horas, definidas como 52 ou mais por semana.
A equipe utilizado dados de um estudo de coorte, além de exames de ressonância magnética realizados para um projeto de pesquisa sobre os efeitos das condições de trabalho na estrutura cerebral. A análise final incluiu 110 pessoas, sendo que 32 trabalhavam demais e 78 apenas cumpriam o expediente comum.
Aqueles que trabalhavam longas horas todas as semanas eram significativamente mais jovens, tinham menos anos de trabalho e maiores níveis de educação do que aqueles que trabalhavam as horas padrão.
A análise comparativa dos resultados mostrou que pessoas que trabalhavam 52 horas ou mais por semana apresentavam mudanças significativas em regiões cerebrais associadas à função executiva e à regulação emocional, ao contrário dos participantes que trabalhavam horas padrão todas as semanas.
Por exemplo, uma das análises revelou um aumento de 19% no volume de uma estrutura conhecida como giro frontal médio entre aqueles que trabalhavam longas horas, em comparação com aqueles que trabalhavam horas padrão. Essa parte do cérebro tem um papel importante em várias funções cognitivas, como atenção, memória de trabalho e processamento relacionado à linguagem.
Outra técnica usada pelos cientistas mostrou aumentos em 17 diferentes regiões do cérebro, incluindo o giro frontal superior, que está envolvido na atenção, planejamento e tomada de decisão, e a ínsula, que está envolvida no processamento emocional, autoconsciência e compreensão do contexto social.
Este é um pequeno estudo observacional de momento, e, como tal, não se podem tirar conclusões firmes sobre causa e efeito. Os pesquisadores reconhecem que, na ausência de dados de longo prazo, não está claro se essas mudanças estruturais são uma consequência do excesso de trabalho ou um fator predisponente.
“Embora os resultados devam ser interpretados com cautela devido à natureza exploratória deste estudo piloto, eles representam um primeiro passo significativo na compreensão da relação entre excesso de trabalho e saúde cerebral”, afirmaram os autores.
Assim, se as descobertas forem confirmadas em estudos futuros, será possível compreender a base biológica dos desafios cognitivos e emocionais frequentemente relatados em indivíduos sobrecarregados de trabalho.
Os resultados destacam a importância de abordar o excesso de trabalho como uma preocupação de saúde ocupacional e enfatizam a necessidade de políticas no local de trabalho que mitiguem horas de trabalho excessivas.”
Referência:
Overwork and changes in brain structure: a pilot study. Wonpil Jang, Sugmin Kim, YouJin Kim, Seunghyun Lee, Joon Yul Choi, Wanhyung Lee. Occupational & Environmental Medicine (2025).