Síndrome do Intestino Irritável: por que mulheres são mais afetadas?

Estudos mostram que elas têm o dobro da probabilidade de desenvolver a condição que eles

Redação Publicado em 05/11/2025, às 10h00

Diferenças nos sintomas da SII entre homens e mulheres – e na intensidade – podem ser atribuídas a diferenças hormonais - iStock

Estudos mostram que as mulheres têm o dobro da probabilidade de desenvolver a síndrome do intestino irritável (SII) em comparação aos homens, e os sintomas são mais comuns entre pessoas de 18 a 39 anos. As razões são complexas, mas os hormônios sexuais parecem desempenhar um papel importante.  

A SII é mais do que apenas dor de estômago – é um distúrbio complexo que afeta as mensagens enviadas pela rede nervosa conhecida como eixo intestino-cérebro. A condição é considerada uma síndrome porque é caracterizada por um conjunto de sintomas, e não por uma anormalidade estrutural no intestino ou por uma doença específica.  

Pessoas com essa condição apresentam evacuações imprevisíveis e desconfortáveis, como diarreia e constipação. Outros sintomas podem incluir dor pélvica, dores de cabeça e fadiga, e afetam significativamente a qualidade de vida. Existe também uma sobreposição significativa entre a SII (Síndrome do Intestino Irritável) e a depressão e ansiedade.  

A razão definitiva pela qual as pessoas desenvolvem SII permanece incerta. Mas sabe-se que a comunicação entre o cérebro e o intestino fica comprometida. Tanto em homens quanto em mulheres, fatores cotidianos – incluindo estresse, exercícios, dieta, vida social e padrões de pensamento, como a ansiedade que alguém pode desenvolver em relação aos sintomas – podem acelerar ou retardar as mensagens enviadas pelo eixo intestino-cérebro.  

O resultado é uma maior reatividade: o intestino torna-se muito sensível à alimentação, ao estresse e à ansiedade, levando a evacuações imprevisíveis.  

O papel dos hormônios 

As diferenças nos sintomas da SII entre homens e mulheres – e na intensidade desses sintomas – podem ser atribuídas a diferenças hormonais. Os homens têm mais testosterona do que as mulheres, e acredita-se que esse hormônio ajude a proteger contra o desenvolvimento da SII. 

Mas, nas mulheres, as flutuações nos níveis de estrogênio e progesterona – que elas possuem em maior quantidade – podem agravar os sintomas. Esses hormônios influenciam a velocidade com que os alimentos se movem pelo intestino, acelerando ou retardando o número de contrações intestinais, o que pode causar dor e outros sintomas, como constipação e diarreia.  

As mulheres são mais propensas a apresentar sintomas mais intensos durante a idade reprodutiva. Os sintomas também costumam piorar durante o período menstrual, quando os níveis de estrogênio e progesterona diminuem. Há também evidências emergentes sobre a sobreposição entre a síndrome do intestino irritável e condições como endometriose e síndrome dos ovários policísticos (SOP). 

Estudos recentes sugerem que pessoas com endometriose têm três vezes mais probabilidade de desenvolver SII, enquanto aquelas com SOP têm o dobro dessa probabilidade. Essas condições parecem estar conectadas por flutuações hormonais e dor, embora não se saiba ainda exatamente qual é a causa de cada uma. Fatores como inflamação leve decorrente de um sistema imunológico hiperativo, mucosa intestinal frágil, desequilíbrio da microbiota intestinal e nervos sensíveis no intestino podem explicar por que essas condições ocorrem simultaneamente.  

As mulheres também são mais propensas a buscar ajuda para a SII do que os homens, o que pode explicar por que temos melhores registros de diagnósticos femininos e a sobreposição com outras condições que afetam as mulheres.  

Gerenciando a SII 

Não há cura para a SII. Mas a síndrome pode ser controlada com mudanças no estilo de vida e medicamentos. Evidências sugerem que reduzir os irritantes intestinais na sua dieta pode diminuir o desconforto. Estes incluem cafeína, alimentos picantes, álcool, refrigerantes e alimentos ricos em gordura. 

Para algumas pessoas com sintomas persistentes, um nutricionista pode prescrever a restrição e posterior reintrodução de certos grupos alimentares conhecidos como carboidratos fermentáveis, ou FODMAPs.  

Os FODMAPs são encontrados em alimentos comuns como laticínios (lactose), grãos e cereais (frutanas) e certas frutas como maçãs, melancia e frutas com caroço (polióis). O objetivo desta dieta é primeiro aliviar os sintomas e depois identificar sistematicamente os irritantes, para que, se forem reintroduzidos, seja em um nível que o intestino possa tolerar.  

Para algumas pessoas, a terapia cognitivo-comportamental também ajuda. Essa terapia de conversa — que se concentra em reformular pensamentos e comportamentos prejudiciais — é usada para restabelecer a comunicação entre o eixo intestino-cérebro. Por exemplo, reduzindo o estresse emocional (a resposta de "luta ou fuga"), melhorando a forma como o cérebro interpreta a dor e abordando pensamentos negativos sobre os sintomas, como vergonha e ansiedade.  

Outras pessoas podem se beneficiar da hipnoterapia, que ajuda a reduzir a sensibilidade intestinal e promove o relaxamento profundo. Isso ensina o corpo a responder com mais calma ao estresse, o que ajuda a regular o sistema de comunicação entre o intestino e o cérebro.   

Os médicos também podem recomendar medicamentos que atuam nos receptores do intestino e regulam a velocidade da digestão, o que pode reduzir a diarreia e a constipação. Alternativamente, antidepressivos em baixa dosagem (prescritos em uma dose muito menor do que a usada para tratar a depressão clínica) podem ajudar a reduzir a sensibilidade à dor. 

Fonte: The Conversation

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