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"Será que sou uma fraude?" Entenda mais sobre a síndrome do impostor

A síndrome do impostor pode afetar até 70% da população geral - iStock
A síndrome do impostor pode afetar até 70% da população geral - iStock

Giulia Poltronieri Publicado em 01/08/2021, às 13h00

O sentimento de ter conseguido uma boa oportunidade no trabalho apenas por sorte e o medo de ser descoberto como uma farsa no mundo profissional são apenas algumas das características presentes na síndrome do impostor. Identificada pela primeira vez em 1978, essa síndrome acomete aproximadamente 70% das pessoas em algum momento de suas vidas, de acordo com um artigo publicado no International Journal of Behavioral Science.

Mas, afinal, quais são as outras características da síndrome do impostor?

De acordo com a psicóloga Desirèe Cordeiro, apesar de não ser diagnosticada como doença mental, essa síndrome vem de um pessimismo depressivo grande. “Ela traz sintomas de ansiedade e depressão para pessoas que sentem, de alguma forma, que não estão no lugar que deveriam estar. Elas se sentem fraudes, acham que não são capazes de realizar uma ação, mesmo tendo capacidade e habilidade técnica”, explica a profissional. 

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Desirèe acrescenta que, normalmente, nesses casos, a pessoa se sente como uma impostora e acredita que um dia poderá ser “flagrada” e substituída. “Essa é a sensação principal dessa síndrome, que pode acontecer em momentos variados, ao longo da vida. Alguns casos mais comuns são quando a pessoa se forma, porque algumas podem achar que não sabem nada, por exemplo”.

Por isso, a psicóloga alerta que, quando esses pensamentos são persistentes, eles afetam muito a vida da pessoa, fazendo com que ela perca oportunidades de trabalho, já que não se sente capaz de realizá-lo.

Os sinais mais comuns

Como já foi falado, muitos dos sintomas se assemelham com os de ansiedade e depressão, mas na síndrome do impostor eles são um pouco mais focados em questões profissionais. Desirèe explica que as pessoas que sofrem com isso normalmente não sentem que têm habilidade técnica suficiente para desempenhar suas funções. 

“Elas sempre precisam ser melhores, se esforçar mais. Elas acreditam que não sabem coisas que elas sabem tecnicamente. Estão sempre indo atrás de referências teóricas, não de um jeito positivo, mas de um que valide o que elas já sabem fazer”, comenta. 

Outro sinal é a autossabotagem. Essas pessoas sempre acham que o fracasso será inevitável, então até inconscientemente acabam indo atrás de situações que as expõem ao fracasso e validem essa sensação, além da ideia de sempre achar que serão 'desmascaradas'”, explica Desirèe.

Além disso, outro sinal que pode aparecer é a procrastinação, já que a pessoa adia as tarefas pois acha que não vai dar conta. Dessa forma, ela evita o momento em que pode ser avaliada ou criticada e, quando de fato recebe uma crítica positiva, ela pode interpretar como algo negativo, por conta de sua insegurança e baixa autoestima.  

“Pessoas com síndrome do impostor também fazem muita comparação com os outros. Elas são muito perfeccionistas e se comparam o tempo todo, achando que o outro é muito mais capaz e inteligente”, aponta a psicóloga.

Existe um padrão de pessoas em que essa síndrome é mais comum?

Ela costuma aparecer com mais frequência em pessoas que se sentem inseguras na questão profissional, recém-formadas, ou quem têm sensação de inferioridade em relação aos outros. Além disso, essa síndrome também é mais comum em profissões que são mais competitivas, como nos atletas, ou pessoas que estão em destaque. Outras carreiras, como as da saúde e educação, que estão sempre expostas ao olhar do outro, também são mais suscetíveis a apresentar sintomas de síndrome do impostor

Há alguma dica para lidar com a síndrome do impostor?

Desirèe explica que falar sobre a questão pode ser útil, além de buscar ajuda de alguém especializado, como psicólogo ou psiquiatra, para que a própria pessoa consiga reconhecer o que está se passando e lidar e superar essa sensação. 

“Não há um padrão de tratamento para essa síndrome. É preciso buscar, no processo terapêutico, quais são os gatilhos para isso. O que gera a sensação de desconforto”, argumenta a psicóloga.

Para ela, também é importante aceitar que podemos ter tantos defeitos quanto qualidades. Além disso, é necessário perceber que não adianta fazer comparações com outra pessoa porque nunca vamos estar no lugar dela. “É aquela história de ‘a grama do vizinho é sempre mais verde’, mas será que ela é uma grama de verdade? Será que não é uma grama artificial? Será que para o vizinho ela é suficiente? Às vezes, a gente só enxerga nos outros as potências, mas precisa começar a reconhecer na gente também”, comenta. “A gente tem que respeitar as nossas limitações, achar as metas que vamos dar conta de fazer e aceitar que as falhas podem acontecer com qualquer pessoa e a gente deve buscar aprender com elas.”

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