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Produtos químicos que causam obesidade precisam de regulamentação

Antiaderentes possuem produtos químicos que podem programar incorretamente o corpo para armazenar gordura - iStock
Antiaderentes possuem produtos químicos que podem programar incorretamente o corpo para armazenar gordura - iStock

Redação Publicado em 24/09/2021, às 15h00

A exposição diária a produtos químicos promotores da obesidade (obesógenos) representa um risco significativo para a saúde pública, e precisa de uma regulamentação mais forte para minimizar a exposição proteger a saúde das pessoas, segundo evidências que serão apresentadas esta semana na 59ª Reunião Anual da Sociedade Europeia de Endocrinologia Pediátrica.

O médico Leonardo Trasande, da Universidade de Nova York, especialista em saúde ambiental, reuniu dados sobre o grave impacto desses produtos químicos na obesidade infantil e adulta, bem como na economia global. Durante o encontro, ele fará recomendações para a adoção de políticas simples que reduzam com segurança a exposição das pessoas a esses produtos, ao mesmo tempo em que apontará que isso traz benefícios econômicos.

O velho conceito de que dieta e atividade física são os únicos determinantes do peso corporal vem sendo derrubado. A genética e os fatores ambientais também têm um papel importante, como diversos estudos têm mostrado nos últimos anos. Segundo especialistas, porém, a influência de produtos químicos que agem como desreguladores hormonais sobre a incidência crescente de obesidade tem sido muito subestimada. Há cada vez mais provas de que essas substâncias, usadas no dia a dia, podem desestabilizar o metabolismo das pessoas e gerar uma predisposição ao ganho de peso.

Embalagens, panelas e revestimentos

Trasande e colegas publicaram uma série de estudos sobre os efeitos adversos da exposição humana a esses produtos químicos, investigando os efeitos a longo prazo, do pré-nascimento à idade adulta, de uma amostra representativa da população holandesa. Ele apresentará evidências convincentes desses e de outros estudos sobre a gravidade da exposição a obesógenos, incluindo os perigos de três produtos químicos muito comuns e que fazem parte da nossa vida. São eles:

Bisfenóis: encontrados em panelas de alumínio e recibos impressos em papel térmico, causam aumento nas células de gordura e nos predispõem a armazenar adiposidade.

Ftalatos: encontrados em diversos produtos de cuidados pessoais e embalagens de alimentos, podem reprogramar como o corpo metaboliza proteínas, favorecendo o armazenamento de gordura, independente do nosso nível de atividade física ou dieta.

Compostos à base de perfluorooctano sulfonato (PFOS): encontrados em utensílios de cozinha antiaderentes e roupas resistentes à água, programam o corpo para armazenar gordura, mesmo quando as condições externas indicam que você deve queimar calorias, como no frio. Em adultos que perderam peso com dieta saudável e atividade física, níveis mais elevados de PFOS foram associados à maior recuperação de peso posteriormente.

Regulamentação necessária

Trasande afirma que o velho mantra 'calorias entrando, calorias saindo' para a prevenção da obesidade negligencia o papel crucial das exposições químicas. Em contraste com as intervenções na dieta e na atividade física, que podem ser difíceis de se implementar e manter, os níveis de obesogênicos nas embalagens de alimentos e outros materiais podem ser modificados por meio de regulamentação.

Estima-se que produtos químicos desreguladores endócrinos custem à Europa € 163 bilhões por ano, cerca de 1,2% do Produto Interno Bruto, e os obesógenos são responsáveis por grande parte desse valor. Trasande também apresentará uma visão geral de estratégias seguras e simples para minimizar nossa exposição individual, bem como sugerir intervenções para os órgãos governamentais.

Para o médico, o aumento da obesidade causada por esses produtos químicos tem um custo econômico substancial para a sociedade e a exposição a eles precisa ser minimizada. Isso deveria ocorrer não só como benefício à saúde pública, mas também para evitar os custos econômicos da ausência de ações. Para que isso ocorra, é essencial que haja uma melhoria em regulamentações.

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