Doutor Jairo
Leia » Animais

Pet doente: veterinário alerta sobre o perigo de pedir dica na internet

Pessoas sem formação técnica podem ter até boas intenções, mas a falta de conhecimento pode piorar a situação - iStock
Pessoas sem formação técnica podem ter até boas intenções, mas a falta de conhecimento pode piorar a situação - iStock

Cármen Guaresemin Publicado em 14/03/2022, às 13h00

Hoje, 14 de março, é o Dia Nacional dos Animais. E quem gosta e tem bichos de estimação costuma fazer parte de grupos em redes sociais. Seja para divulgar fotos e vídeos fofos seja para mostrar o novo integrante da casa e pedir sugestão de nome. Porém, enquanto há este lado lúdico, há um outro muito perigoso. Alguns integrantes postam fotos do pet mostrando alguma parte do corpo com problema ou falando que o gato está vomitando ou que o cachorro teve convulsão e perguntando aos outros do grupo se já passaram por aquilo e perguntando o que fazer.

Pois é, além do famoso Dr. Google, que também é muito acionado para desvendar problemas humanos, agora existe uma conversa de “comadres” versão digital, e isso não faz bem para o animal, que pode estar com algo grave e precisando de atendimento imediato.

“Buscar tirar dúvidas na internet ou nas redes sociais, e tentar saná-las de forma on-line, parece ser uma atitude normal do ser humano. Fazemos isso para nossa própria saúde e também para nossos pets. Porém, esse comportamento pode trazer muitos malefícios”, afirma Raoní Canal, médico-veterinário da SPet, junto à Cobasi Butantã. Ele completa: “Pessoas curiosas, sem formação técnica, podem ter até boas intenções, mas a falta de conhecimento pode trazer algo que seja prejudicial. Respostas equivocadas, associadas à postergação do atendimento adequado, podem causar danos irreversíveis. Mesmo quando orientados por profissionais, estes não tiveram o benefício de um exame clínico adequado”.

Mais demora, mais perigo

Se o animal tiver sido envenenado ou estiver com uma intoxicação alimentar, para ficar em apenas dois exemplos de situações que pedem urgência, o rápido atendimento pode ser a diferença entre vida e morte. Quanto mais tempo a pessoa perder questionando outras, e lendo dezenas de respostas, na maioria das vezes diferentes, mais o estado do animal irá piorar, o que é óbvio. Os casos mais comuns atendidos por Canal na clínica são quadros de intoxicação, doses erradas ou exageradas de remédios e medicamentos destinados a outras espécies, por exemplo: dar o remédio do cachorro para o gato.

“Sem dúvida. Gastar tempo e postergar o tratamento de um bichinho pode ser fatal. Sempre devemos buscar o atendimento adequado o quanto antes. Uma doença atendida  precocemente terá sempre melhor prognóstico do que se for tardia. Devemos usar o tempo a nosso favor. Mesmo do ponto de vista de uma família com limitações financeiras, tratar antes acarreta em menos custos do que aguardar uma piora”, ensina o veterinário.

E esta é a justificativa de quem procura conselhos na internet: estar sem condições financeiras de levar o animal ao veterinário. Canal argumenta que hoje, em São Paulo, "temos o privilégio de possuirmos excelentes hospitais públicos veterinários, para cães e gatos. Equipes preparadas fazem desde o pronto atendimento até procedimentos cirúrgicos".

“Porém o ideal é não contar somente com o atendimento público gratuito, uma vez que as vagas são restritas. A posse responsável é extremamente importante. Quando decidimos ter um pet, devemos pensar que ele terá exigências de saúde, alimentação, alojamento… O pet hoje está mais próximo de um filho e, como este, exige amor e cuidados”, aponta o veterinário.

Histórias diferentes

[Colocar ALT]
A experiência de quem já passou por algo semelhante pouco  vale no sentido de tratamento, diz o veterinário  - iStock

E não adianta achar que porque alguém que responda a mensagem relate algo muito semelhante, que o que serviu para ela, vá servir para o seu caso. “A experiência de quem já passou por algo semelhante nos é útil no sentido de apoio psicológico e emocional. Muito pouco nos vale no sentido de tratamento clínico, medicamentoso ou cirúrgico, uma vez que estes devem ser conduzidos por profissionais capacitados. Podemos contar com a empatia e apoio de quem passou por algo similar, porém o atendimento médico tem que ser feito por alguém especializado”, aconselha Canal.

Ele enfatiza que o tempo perdido no decurso de doença pode nunca ser recuperado. Por vezes, pacientes que necessitavam de cuidados simples podem ser levados à UTI ou internação. Até mesmo gerando um quadro irreversível. Isto acarreta em sofrimento ao animal e até mesmo pode levá-lo à morte.

Ele repete: “Se pensarmos pelo ponto de vista financeiro, demorar para prestar socorro ao seu pet pode também levar a gastos muito maiores do que se este fosse pronto atendido”.

Os erros de quem segue os conselhos

Canal afirma que existem contos e fábulas que correm pela Internet há bastante tempo, e até antes dela, como uso de quiabo no tratamento de cinomose. Chás e garrafadas diversas, por vezes até se utilizando de plantas tóxicas. “Quando pensamos em animais silvestres, existem pessoas que acreditam que jabutis com osteodistrofia avançada (casco deformado) fazem parte de uma espécie paralela”.

Portanto, se você realmente ama seu pet e se preocupa com ele, lembre-se que quando decidiu tê-lo se prontificou a dar todos os cuidados que ele precisa. Portanto, leve-o ao veterinário quando notar algo estranho ou que ele não está bem. Além de, claro, vaciná-lo e castrá-lo para evitar doenças e reprodução indesejada. Não acredite em tudo que lê ou ouve, pois vivemos em tempos de fake news, negacionismo e retrocesso.

Se está em uma fase ruim financeiramente, o que é totalmente compreensível, peça ajuda aos amigos e parentes, faça vaquinhas on-line, venda algo, enfim, vale aquela máxima, “antes prevenir do que remediar”. Como Canal enfatizou mais de uma vez, quanto mais se demora para procurar um médico-veterinário, mais gastos podem ser necessários.

Assim, atenção ao comportamento do animal de estimação, especialmente se for um gato, eles costumam esconder que estão doentes. Quando estavam na natureza e machucados, tendiam a se esconder para que os predadores não os achassem e não os vissem como presas fáceis. Apesar de estarem "domesticados", na verdade o instinto de sobrevivência do animal que o leva a disfarçar a dor e a sumir quando está ferido ou doente permanece. Portanto, fique de olho.

Fonte: Raoní Canal é médico veterinário, da SPet junto a Cobasi Butantã. Especialista em endocrinologia e metabologia em pequenos animais. Atuando com ênfase em animais silvestres desde 2005. 

Veja também: