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Nunca são só vasinhos: avaliar a fundo evita tratamentos intermináveis

Maioria das pessoas só procuram o cirurgião vascular por questões estéticas, o que é um erro - iStock
Maioria das pessoas só procuram o cirurgião vascular por questões estéticas, o que é um erro - iStock

Um novo olhar para o cuidado com as pernas.

Essa é a mensagem que tento trazer para você aqui hoje.

Desconstruir a imagem de anos de que tudo se trata com cirurgia, de que tudo precisa de repouso, e principalmente... a ideia de que nada dá certo.

Desconstruir a ideia de que o vascular é um “secador” de vasinhos, e entender que cuidamos da circulação, e promovemos saúde e qualidade de vida.

Desconstruir a ideia de que você precisa aceitar uma imagem de pernas que não te agrada e que você pode sim atingir resultados estéticos duradouros.

Desconstruir a ideia de uma medicina de pedaços, e entender que apenas uma visão mais holística, que engloba hábitos de vida saudáveis vai dar o resultado que você espera.

Mudança de visão 

Por anos, o cirurgião vascular ou angiologista foi visto ou como médico de pessoas mais velhas, e sua atuação sempre remetia a cirurgias gigantes, ou intermináveis sessões de aplicação para “secar” os vasinhos.

Mas o que mudou de lá para cá?

Mais do que ampliar muito a quantidade de tratamentos disponíveis, mudou a visão sobre a doença. Equipamentos de transiluminação, realidade aumentada e o uso do ultrassom doppler dentro do consultório médico refinou muito o diagnóstico, o que mostrou uma triste verdade:

90% das vezes quando temos apenas vasinhos aparentes nas pernas, temos varizes nutridoras nessa região, abaixo da pele, não aparentes; e um tratamento eficaz para esses vasinhos precisa contemplar essas veias, ou você não vai ter o resultado estético desejado.

Além disso, 50% das pacientes que tem apenas vasinhos aparentes na perna, se fizerem um ultrassom doppler, descobrirão que tem um refluxo da veia safena, ou seja, uma doença que precisa de acompanhamento médico ou até uma cirurgia.

Muito além da estética

Quando falamos de doença venosa, frequentemente acreditamos que os vasinhos superficiais são apenas uma questão estética, mas o que eu gostaria de deixar frisado aqui é que varizes são, sim, uma doença, mas que causa um incômodo estético. Então, apesar de mais de 90% das pacientes só procurarem o vascular por queixas estéticas, é preciso entender que se trata de um problema de saúde.

A doença varicosa funciona como uma infiltração na parede, onde observamos apenas as manchas na pintura. Tratar apenas os vasinhos seria como dar uma mão de tinta sem tratar o encanamento com vazamento por dentro da parede, que além de não resolver o problema, pode mascarar e agravar o quadro para um tratamento futuro.

Hoje, temos técnicas modernas como laser, espuma, técnicas termoablativas, que conseguem tratar essas varizes de forma não invasiva, evitando extensos tratamentos cirúrgicos. Quanto mais cedo for realizado esse tratamento, mais simples será a técnica envolvida.

E quando lembramos que essa doença é crônica, ou seja, não tem cura, mas, sim, controle, fica fácil pensar que, como no dentista, manutenções frequentes com cuidados preventivos são a melhor estratégia.

Que impacto essa mudança trouxe na vida das pacientes, então?

Direto na raiz do problema

A partir do momento em que o diagnóstico ficou mais assertivo, e podemos ir direto na fonte do problema, na variz nutridora, aquelas eternas várias sessões de escleroterapia (aplicação) foram substituídas por poucas visitas, e o resultado que antes demorava muito para ser visto passou a ser bem mais rápido e duradouro.

O tempo, a confiança no tratamento e a satisfação em ter suas pernas de volta são os grandes ganhos nessa mudança de visão sobre os vasinhos.

Quando fica claro que os vasinhos são apenas a ponta do iceberg de uma doença extremamente complexa, a aderência ao tratamento aumenta muito e a melhora de autoestima e estética acompanham.

Então sempre que pensar em “secar” seus vasinhos, lembre-se:

Nunca são só vasinhos.

Dra. Aline Lamaita

Dra. Aline Lamaita

Cirurgiã vascular, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine. Formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, hoje dedica a maior parte do seu tempo à flebologia (estudo das veias). Possui título de especialista em Cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira / Conselho Federal de Medicina. RQE 26557. Instagram: @alinelamaita.vascular

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Site Doutor Jairo